Pais e nutricionistas debatem as
possíveis consequências
para as crianças adeptas da dieta
A palavra ficou popular dentro de casa. Famílias inteiras aderiram. Ser vegetariano, o que inclui abrir mão das proteínas de origem animal, pode parecer uma escolha de vida que requer muito planejamento e renúncias em uma sociedade majoritariamente onívora. Um reflexo dessa preferência foi medido pelo Google Trends, que constatou a partir das buscas feitas no site do Google: o interesse do brasileiro pelo veganismo aumentou 500% nos últimos cinco anos. Outro detalhe é que o Distrito Federal é líder no interesse pelo assunto. Seja pela atual popularidade na mídia ou por questões de saúde, o estilo de vida que, com algumas ressalvas, dispensa a proteína animal da alimentação, tem se tornado cada vez mais comum na vida do brasileiro. Mas e quando os adeptos da dieta vegetariana são crianças? Pais e nutricionistas debatem até que ponto essas limitações podem ser feitas sem prejudicar o desenvolvimento infantil. Segundo o Centro Vegetariano, as crianças podem começar essa dieta depois do primeiro ano de vida.
Para se
tornar um verdadeiro vegetariano, é preciso um pouco de esforço. Escolher um bom
restaurante com preços em torno de R$ 20, ter a certeza de que os pratos estão
sendo preparados da forma correta e, muitas vezes, comer apenas antes de sair ou
quando já se voltou para casa são alguns dos muitos desafios enfrentados
diariamente por quem prefere deixar a proteína animal de lado.
Para pais vegetarianos como Lia Tavares, mesmo com algumas dificuldades, como garantir que os filhos comam bem e evitem alimentos industrializados, é possível manter uma dieta balanceada para os pequenos. Com 35 anos, Lia é ovolactovegetariana (vide tabela) desde 2006, dieta em que alguns alimentos de origem animal, como ovos, leite, iogurtes e queijos podem ser consumidos. Ela é mãe de Luana, de seis anos e de Maíra, de oito.
Enquanto a mais velha segue o exemplo da mãe, a mais nova opta por não seguir a mesma dieta. “Luana não é vegetariana por opção e apesar de consumir carnes, é quem mais nos preocupa em termos nutricionais por não ter apreço pelas frutas e legumes. Já Maíra é ovolactovegetariana, come frutas e legumes, além do ovo e alguns derivados do leite, como manteiga e iogurte”, conta. Quanto à proteína, Lia explica que são supridos todos os dias com arroz, feijão, castanhas e amendoim.
Já Rebecca Boubli, de 29 anos, é nutricionista e mãe do David, de um ano. Apesar de não ser vegetariana, ela segue uma dieta sem proteína animal durante alguns dias da semana e frisa a necessidade da diversidade na alimentação tanto dos adultos, quanto dos pequenos. “Acredito e pratico o equilibrio. Acho importante as pessoas se atentarem ao exagero do consumo da proteína animal e à forma como ela é preparada, além dos acompanhamentos que são consumidos junto à ingestão dessa proteína em cada refeição”, conclui.
A nutricionista também ressalta que há requisição de diversos nutrientes
provenientes de uma alimentação balanceada. "Uma vez que falamos de
restrição alimentar, naturalmente há a possibilidade de surgirem deficiências nutricionais, como por exemplo, o ferro.
Os vegetarianos tendem a comer mais carboidratos para se saciarem, mas seu alto consumo está associado
a diversas doenças como diabetes e esteatose hepática”, completa.
A pediatra Délia Bráz, 26 anos, explica que as crianças criadas numa
dieta vegetariana, ainda que estejam se desenvolvendo, não sentem falta da proteína animal especificamente.
"Seu corpo pode ter carência
de proteína, seja ela de origem vegetal ou animal, e acabar sofrendo de
desnutrição e mau desenvolvimento físico, cognitivo e estrutural." No
entanto, Délia afirma que, com a oferta adequada de proteína vegetal, que contém todos os aminoácidos essenciais, não há
problema. “É essencial que os pais façam acompanhamento com um nutricionista
para garantir que as crianças ingiram todos os nutrientes necessários para uma
alimentação balanceada e garantir a saúde dos filhos”, finaliza a pediatra.
Por outro lado, para a nutricionista Lia Ribas, 28 anos, essa
dieta não é comum para a realidade do brasileiro. Ela acredita que a criança deve ser apresentada a todos os alimentos sem
exclusão de nenhum grupo alimentar. A especialista ainda cita alguns dos problemas mais
comuns relacionados à deficiência nutricional. “A fragilidade e
perda de cabelo, linhas nas unhas, perda de peso
significativa, pele escamosa e dores musculares podem ser relacionados à má
alimentação. Além delas, má cicatrização de feridas e edemas, anemia e, em casos
mais, sérios pode chegar até a desnutrição
grave, doença conhecida como 'Marasmo', também são causadas por baixa ingestão
de proteína na infância”, conta.
A
empresária Bruna Daibert, 35 anos, é mãe de Inah, seis anos. Bruna começou a
dieta vegetariana aos 18, mas recentemente reintroduziu carnes brancas, como
frango e peixes, na alimentação. Quando Inah tinha um ano, foi diagnosticada com intolerância à lactose. "A
primeira dieta dela foi muito restrita, ela não podia comer nada do boi, carne,
leite, manteiga, iogurte e até gelatina. Foi bem complicado." Bruna conta que, aos poucos, a
pequena foi melhorando, e a carne foi bem tolerada na alimentação. "De lá pra cá ela segue
comendo carne eventualmente. No almoço de casa vamos de frango, ovo e alguns
dias sem nenhuma carne pra dar uma variada”, finaliza.
Lia Tavares afirma que as filhas Luana e Maíra, apesar de se aliemtarem com certas limitações, são
meninas saudáveis e raramente ficam doentes. "Sempre que as
levamos ao pediatra, saímos tranquilos com as taxas de crescimento e outras
informações que nos garantem que estão crescendo com saúde”, conta. A nutricionista Rebecca reforça a importância de fazer as substituições adequadas, avaliar parâmetros bioquímicos por meio de exames de sangue para confirmar possíveis deficiências nutricionais e, por fim, respeitar a vontade da criança. "Muitas vezes o corpo 'pede' o que está sentindo falta".
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O pequeno David no Snapchat da mãe Rebecca |
Veja abaixo a reportagem feita para o Jornal Esquina.
Por Tammy Faria