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O amor que supera muros e a fé que alimenta a vontade de mudança de quem está fora do convívio familiar

Sete horas da manhã de uma quinta-feira típica na Rodoviária do Plano Piloto. Filas se formam na plataforma inferior do local a espera da chegada e partida dos ônibus. Em meio à correria uma chama atenção devido ao tamanho e aos passageiros que, em sua maioria, vestem branco: é a linha 0111- Expresso Papuda. O destino é o Complexo Penitenciário, em São Sebastião. São jovens, idosos e crianças que toda semana repetem a dura jornada para visitar os parentes que cumprem pena no local. Em meio a multidão um rosto se destaca, é Bianca Soares*, 19 anos, estudante, que vai ao Centro de Detenção Provisória (CDP) visitar o namorado, 18 anos, acusado de roubo. A jovem afirma que para fazer a visita precisa faltar um dia no trabalho e enfrentar a família que não aprova a situação "Eu venho escondida. Se minha mãe souber que eu estou aqui ela me mata. A essa hora acha que estou no serviço.", assegura. Após o trajeto de, aproximadamente 30 minutos, ela chega à unidade prisional e vai para a entrada, onde outras pessoas já aguardam o ingresso. 

*Bianca Soares, nome fictício utilizado para preservar a identidade da personagem


Entrada do Centro de Detenção Provisória em São Sebastião
Com a sacola em uma das mãos e a chave do carro em outra, uma senhora chega ao Centro de Internamento e Reeducação (CIR). É Lucineide Gonzaga, 38 anos, administradora, que há sete meses tem a mesma rotina: toda quinta feira vai à penitenciária de Brasília ver o filho, 20 anos, condenado por roubo. Para encontrá-lo a mãe enfrenta o preconceito da sociedade e os olhares feios no trabalho toda vez que pede a dispensa. "É complicado, a gente trabalha e tem uma vida muito corrida. Muitos viram a cara e julgam quando sabem o motivo das minhas faltas, mas temos que enfrentar. Não podemos abandonar", afirma. 


Atualmente, mais de 15 mil homens cumprem pena no presídio do Distrito Federal. Mães, pais, idosos, crianças e esposas aguardam ansiosamente para rever os parentes que estão privados da convivência diária com a sociedade. As visitas acontecem nas quartas e quintas, semanalmente ou quinzenalmente, de acordo com o estabelecimento prisional que estão detidos. Para a autorização de entrada é necessário que o detento cadastre até dez pessoas, sendo permitido o ingresso de apenas quatro visitantes por dia. O registro deve ser feito com 15 dias de antecedência podendo variar de acordo com as normas do local. A visita é iniciada às 9h e se encerra às 15h, mas a entrada é permitida somente até às 12h. 

Em agosto de 2015, foi desenvolvido o programa Visita Cidadã que distribui senhas on-line para facilitar o atendimento e evitar filas formadas na penitenciária. Segundo o Promotor do Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional, Marcelo Teixeira, o sistema é uma alternativa para solucionar o problema. “Inclusive requisitamos informações para fazer um diagnóstico de como essa senha online efetivamente está melhorando o andamento das filas.”

Familiares a espera do horário de visita no CDP, na Papuda
O próximo passo é a realização da revista obrigatória. O procedimento é imposto a todos os visitantes e, na maioria das vezes, é alvo de críticas. “Eu acho muito constrangedor, mas fazer o quê? É filho, a gente tem que passar por isso”, relata o aposentado Zeferino Tavares, 72 anos, que visita seu filho há oito meses e, apesar de estar acostumado com a situação, não se sente confortável com o processo. O sistema prisional conta com máquinas de raio-x, mas os aparelhos não suprem a demanda e, por isso, os visitantes acabam tendo que se despir para serem revistados.  

Pela falta de aparelhos, alguns dos visitantes são submetidos a realizar a revista íntima, feita em cabines individuais onde o familiar, sem vestimentas, é fiscalizado. Dona Leila, que visita seu filho preso por roubo, já realizou o procedimento e defende a prática, que apesar de invasiva, se torna indispensável. “Mesmo não tendo vergonha é uma humilhação, mas só quem é mãe entende. Se fossem liberar sem revistar, as pessoas iam entrar com qualquer coisa. Se com a revista já entram, imagina sem”, acrescenta. 

Segundo o representante do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Marcelo Teixeira, apesar do procedimento ser invasivo, é necessário, uma vez que um grande número de pessoas ainda tenta entrar no local com objetos ilegais, como drogas, armas e telefones. “Não é um problema muito simples, a solução seria scanners potentes e aptos a diagnosticar adequadamente a situação. Estamos trabalhando com essa questão, mas ainda não existe uma solução definida.”, explica. 

Outra condição imposta ao visitante é a obrigatoriedade do uso de calça, blusa e chinelos brancos. Relógios, brincos, pulseiras, sapatos, apliques de cabelo e bolsas não são permitidos na entrada.  Cada detento tem o direito de receber seis frutas, quatro pacotes de bolacha e materiais de limpeza e higiene pessoal. Além disso, os familiares são autorizados a levar uma quantia em dinheiro para os presos adquirirem produtos oferecidos em um minimercado situado no interior de cada ala. O valor varia entre R$ 125 e R$150. 

Por último, o encontro ocorre no pátio, onde os presos aguardam ansiosamente os visitantes que trazem palavras de apoio, força e carinho, para que seja alimentada a vontade de mudança e a esperança de uma vida diferente após a liberdade. 

A presença e o apoio da família são mecanismos de extrema importância para a reinserção  do detento na sociedade. É o que diz a psicóloga Sylvia Senna, especialista em família "A partir do vínculo emocional e afetivo que os familiares vão ajudar essa pessoa a se regenerar e a ultrapassar esse momento de dificuldade, fazendo com que eles tenham uma expectativa de vida após o cumprimento da pena.", confirma.

Dedicação que rompe muros

Há três anos as idas à Papuda fazem parte da rotina de Maria Dolores da Penha, 49 anos, mais conhecida como Dona Leila. Apesar de enfrentar algumas dificuldades, ela ressalta a importância de não deixar o filho de 32 anos sozinho nessa situação. “Eu venho porque mãe não pode abandonar. Se abandonar, eles saem piores”, afirma. 

Dona Leila, que sai da Ceilândia para ver o filho, geralmente faz a visita acompanhada do marido e da neta de apenas cinco anos, filha do detento. A dona de casa conta que a criança, que mora com ela, sempre pede para ver o pai e que não esconde o motivo de ele estar preso. “Conto que pegou coisa dos outros e que não podemos fazer isso. Uma criança de cinco anos já entende.”

A tranquilidade de saber que o filho não está nas ruas bebendo e usando drogas, sustenta a fé e a esperança de que exista uma mudança no coração e mente do detento. “Tudo o que Deus faz é de uma forma maravilhosa e creio que é uma vontade Dele. Dentro do presídio tem Igreja e pessoas para pregar a palavra do Senhor. Muitos mudam, mas a iniciativa tem que vir deles.” 

Amor além das grades 

Há um ano, Mércia Luiza Soares, 25 anos, visita o marido, de apenas 20, condenado por roubo. A estudante reconhece as dificuldades enfrentadas para estar toda semana na penitenciária. “Eu estou desempregada e raramente tenho dinheiro para trazer, mas mesmo assim não deixo de vir. Ele diz para eu estar aqui nem que seja sem nenhum centavo.”, conta.

Em meio à tensão, Mércia não deixa de lado a vaidade. Antes do reencontro, a estudante se maquia e produz o cabelo no local. O amor faz com que a jovem ultrapasse momentos desconfortáveis e se dispõe a fazer, também, a visita íntima. “É em um quartinho chamado parlatório. O nome do casal é dado na hora junto com o documento que comprove a união. O tempo de permanência é de 30 minutos em um espaço pequeno com um colchão de casal e banheiro.”, explica.

A morada da Ceilândia repete toda quinta-feira o trajeto de ônibus, pegando a linha 0111 Expresso Papuda em direção ao Centro de Internamento e Reeducação (CIR). A esperança e o amor dão forças para encarar a dura jornada. “Eu venho porque vejo que o cara muda com a presença e os conselhos da família. Ele sempre me ajudou e não vai ser agora que vou virar as costas e abandoná-lo.”

Por Anne Arnout, Juliana Lauermann e Vicky Pisco

Os Invisíveis

Legenda
Foto: Íris Cruz 

Brasília é conhecida por algumas características singulares. Centro do poder político, capital federal, plano piloto. Cidade que vive o dia a dia em blocos e quadras, setores e vias, em uma monótona rotina. 21 de abril marca o aniversário da capital que, por mais visada que pareça, ainda tem muitos rostos invisíveis. Em meio a milhões de habitantes e com a maior renda per capita do país, parte da população vive um drama na cidade: O abandono. 

Atualmente, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, duas mil e quinhentas pessoas vivem nas ruas por diferentes significados e motivos. Brigas familiares, drogas, problemas com bebidas e sonhos interrompidos são alguns dos principais motivos para alguém transformar a rua em moradia.



A psicóloga Fabíola Ferreira comentou que, apesar desses exemplos, não existem fatores específicos para que alguém vá morar na rua, mas sim, de um fenômeno multifatorial. “Alguns estudos que fiz sobre essa realidade, sobretudo com jovens nas ruas, são os que vêm de famílias desestruturadas, expostos muitas vezes pela violência parental, falta de perspectiva de vida e por se acharem incapazes de conquistar um futuro diferente do que eles já vivem”, explicou a especialista. 

A definição de Fabíola se encaixa em muitas das histórias que conseguimos escutar com alguns moradores de rua. É o caso de Magali Silva, de 56 anos. Ela veio para Brasília em busca de melhorar a qualidade de vida e trabalhar na capital federal. Sobre a história de Magali, a resposta foi simples. “Se eu te contar, não vai adiantar nada, o que eu faço é pedir uma ajuda, se eu precisar de alguma coisa eu te falo”.

Magali foi morar na rua depois de tentar resgatar o filho, que atualmente está preso por tráfico de drogas. Ela contou um pouco dessa relação com o rapaz e mostrou que não foi nada fácil. “Eu já cansei de tentar ajudar ele, minha família mesmo está na rua. A gente fica junto, dorme, se ajuda. Prefiro ficar com eles”, completou. Para arranjar dinheiro, a moradora de rua guarda carros no Setor Bancário Sul e até vende drogas para conseguir algum dinheiro para sobreviver. “Nunca pus um cigarro na boca, só uma pinga de vez em quando, mas eu vivo disso. Preciso disso para poder sobreviver.”.


Uma das colegas de Magali também nos contou um pouco sobre ela. Rafaela Souza, de 21 anos, veio do Ceará para Brasília em busca de uma vida melhor. Está na cidade há um mês e já conseguiu realizar um sonho, fazer cirurgia para se tornar travesti. “Consegui virar travesti, graças a Deus e estou adorando Brasília, não tem lugar melhor para viver. Não conheço muita coisa ainda”.


Sobre a rua, Rafaela contou que, apesar da situação, consegue enxergar felicidade e união, coisas que, segundo ela, nunca encontrou ou sentiu antes na cidade natal. Atualmente ela divide espaço com conhecidos na rua, e já fez muitas coisas para tentar sobreviver. “Eu já fiz e tudo um pouco, já me prostitui, já dancei em boates, mas vi que aquilo não era o melhor pra mim e saí. As pessoas daqui acham que a gente é lixo, por isso prefiro morar na rua, que me tratam bem independente e tudo”, concluiu.


Moradores de rua tentam tirar o sustento guardando carros, como Magali. Alguns deles, em vez de comprar uma comida, preferem gastar o dinheiro com drogas e bebidas alcoólicas. Fabíola Ferreira explicou que, do ponto de vista da psicologia, dependentes químicos preferem consumir esses produtos citados a um prato de comida, para amenizar a dor do cotidiano. “Sem dúvida, esse processo se dá pela necessidade da fuga de tudo o que é avesso ao seu redor, pois uma vez “anestesiado” com os efeitos das drogas e do álcool, ela se desconecta do mundo, mesmo num pequeno espaço de tempo”. 


Um personagem muito interessante que a reportagem conheceu foi Leoberto Pereira. Ele tinha uma vida comum. Tinha família, filhos, fez faculdade e trabalhou como eletricista. Entretanto, a droga mudou o caminho e definiu o futuro de Leoberto. O vício em cocaína acabou provocando a perda de tudo o que tinha. Leoberto conseguiu até a morar nos Estados Unidos por um tempo; porém, ao voltar para rever a família em Brasília, foi preso por tráfico de drogas. Atualmente ele vive na rua, não tem mais contato com a esposa e filhos, mas ainda conversa com os pais. Apesar disso, a relação com a mãe quando visita a casa é bastante conturbada. “Eu vou em casa de vez em quando, pra tomar um banho, mas acontece que eu sou muito julgado. Por isso que eu prefiro a rua, nela eu tenho o que preciso, não sou julgado por ninguém”.


Leoberto ainda não conseguiu largar o vício da cocaína. No dia da entrevista, ele nos contou que havia usado droga na noite anterior, mas enxergava que aquilo estava o destruindo e foi em busca de assistência para dependentes químicos no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). “Eu tento me livrar dela, mas até hoje não consegui arranjar algum auxílio para diminuir o consumo. Eu me sinto destituído no dia seguinte, que bate umas “ressaca”, não gosto nem de ver porque sei que vai me fazer mal”, concluiu .


Muitos vivem o dilema das drogas, mas encontramos um exemplo de superação com Fabiana Pereira da Silva, de 43 anos. Ela tem familiares ao redor do Plano Piloto, mas ainda prefere morar na rua. Fabiana vende uma revista cultural para tirar o sustento do dia a dia. Ela mora com um companheiro que dá suporte afetivo para ela. Os filhos e netos do casal moram hoje na casa dos parentes. “Hoje eu sou muito contente na rua, apesar de sentir muita saudade dos meus filhos e netos, é melhor pra eles”.


Com relação à droga, Fabiana teve uma relação próxima com o crack. Depois dos filhos e do trabalho, começou a ter maior consciência sobre a degradação que o uso causou e a necessidade de maior responsabilidade. Fabiana infelizmente não interrompeu o uso totalmente, mas agora ela não quer voltar para a situação de antigamente. “Hoje eu não me sinto bem usando a droga, não gosto nem que falem esse nome perto de mim. Estou me esforçando bastante para que um dia eu consiga voltar a ficar perto dos meus filhos de novo”.


Apesar dessas histórias tristes, a maioria dos entrevistados seguem as rotinas com um sorriso no rosto. Independentemente dos problemas que enfrentam, eles levam com alegria. É o que nos contou o morador de rua e músico, Davi Silva, de 36 anos. Na rua desde os sete anos de idade, teve uma experiência triste antes de sair de casa: a morte da mãe. Depois disso, Davi foi parar na rua, mas com o passar do tempo a vida melhorou bastante. Na música, encontrou uma espécie de salvação para o sofrimento.


Na igreja aprendeu a tocar violão e a cantar e, com isso, começou a trabalhar com a música. “Hoje em dia eu agradeço muito as experiências que eu tive para poder tirar todo o sofrimento. Estou estudando música numa faculdade e estou com meus projetos”, disse o músico.


Um morador que frequenta o Centro POP desde a abertura é o senhor José Pereira da Silva, de 56 anos. Ele busca auxílio de alimentação e ainda realiza muitas atividades com o pessoal que frequenta a unidade na Asa Sul. José tem familiares no entorno, porém, também é mais um que vive na rua por opção. “É complicado viver na rua, mas a gente acaba se acostumando e com as pessoas certas, eu até prefiro dormir em qualquer canto da cidade”, disse José.


É comum que muitos casais se formem nas ruas. É o caso de Keli Souza e  Ricardo Souza, de 31 e 23 anos, respetivamente. Cada um buscou no outro auxílio para sair da situação de dependência química. Keli conta que o marido foi e é fundamental. “Se não fosse por ele, eu acho que eu estaria sofrendo muito, ou até morte. Me prostituí desde nova, tudo para usar o dinheiro para comprar crack, com esse minha opção, eu engravidei e tive quatro filhos, que moram com alguns familiares meus”, conta Keli.


Já Ricardo passou por uma situação parecida com a da mulher. Teve a experiência com as drogas e a vulnerabilidade da rua, assim que conheceu a esposa, se sentiu na obrigação de ampará-la. “Ela é tudo pra mim. A gente se conheceu na rua, a gente se uniu e se fortaleceu. Não uso mais droga e agora eu estou estudando, nunca pensei que fosse gostar tanto disso. Vamos todos os dias buscar mais conhecimento”, completou Ricardo.


Atualmente os dois trabalham vendendo revistas culturais, a mesma de Fabiana. Keli conta que tem vergonha de pedir dinheiro, ela prefere trabalhar. “Hoje em dia eu não preciso mais pedir dinheiro na rua, com o meu trabalho eu consigo me virar na vida. Estudando e trabalhando, tenho ficado cada vez mais longe das drogas” completa e vendedora.


Pessoas são atraídas por Brasília. Tanto pelo fato de ser a capital do país, quanto por ser um local muito bom para melhorar a qualidade de vida. Mais uma personagem da reportagem conta que veio para o Distrito Federal por esse motivo. Edelzuita de Jesus, de 57 anos, veio pra o Planalto Central em busca de uma vida melhor, mas, uma doença degenerativa complicou um pouco a vida dela.


Sem família na cidade, apenas amigos que faz dentro do acolhimento do Centro POP dão auxílio para ela. “Eu tenho muito a agradecer a todos que vivem me ajudando. Eu tenho família, mas não moro mais com ele já faz muito tempo. Esses dias vi minha filha pela Internet, junto da minha netinha, e tenho muita saudade delas”, conta Edelzuita. Ainda na esperança de um dia voltar para os braços da família, ela segue a vida do jeito que pode. E um dia, quem sabe, chegar a rever a filha. 

Aqui no Distrito Federal há centros de acolhimento para moradores de rua, conhecidos como Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP).  Neles os moradores conseguem tomar banho, lanchar, descansar com mais tranquilidade. A reportagem foi ao Centro da Asa Sul, e lá conversamos com o diretor e da Unidade Luan Carvalho, que nos contou um pouco mais.  “Aqui nós tentamos acolhê-los da melhor maneira possível. Fornecemos um lanche, deixamos banheiros à disposição para tomarem banho. Atividades também são feitas por aqui, para que haja uma descontração com os moradores de rua que passam por aqui”, conclui Luan.

Centralizado

Em meio às árvores da quadra 202 norte é possível enxergar um colchão com cobertor vermelho xadrez bem engomado. É a casa de Costinha, única referência que o homem diz ter sobre o nome. Durante o dia a dia corrido da quadra comercial, onde vários transeuntes cruzam as ruas a todo momento, o paraibano de 42 anos se esconde debaixo do pedaço de tecido encontrado em um lixo dos prédios residenciais. Ele conta que é melhor se esconder quando o fluxo de pessoas é grande.
Conduzido por duas vezes até abrigos da cidade, Costinha afirma que a decisão de deixar os locais aos quais foi destinado surgiu por causa do vício. O problema para ele é o álcool. E este é o mesmo motivo que o fez sair de casa. Ele conta que, aos 17 anos, deixou a cidade onde morava no agreste da Paraíba. No município de Cuité, as condições de vida eram difíceis e a mãe, já falecida, o mandou procurar trabalho na cidade grande.
"Me perdi", diz o morador de rua ao acrescentar que "está acostumado" com a vida que leva. "Quem está na rua entende a rua".
Questionado sobre a violência à qual está exposto, Costinha parou para pensar durante alguns segundos. A resposta parecia engasgada. Até que relevou: entre os maiores medos está o do "olhar torto" de quem passa por ali.
Veterana

Maria Antônia Fernandes da Silva tem 63 anos e está na rua há pelo menos 30. Com problemas dentários e com a saúde debilitada, dona Maria conta que uma das maiores dificuldades está na hora de comer. Além das dores, falta força na arcada dentária para a mastigação.
Sem a maior parte dos dentes, a pronúncia das palavras também se torna difícil, lenta. Mesmo assim, a senhora magra com cabelos finos e grisalhos não deixa o sorriso de lado. E adora piadas. Enquanto toma conta de carros nas comerciais da Asa Norte  para tentar ganhar dinheiro - mesmo lugar que costuma escolher para dormir - dona Maria conversa com todos que passam por ela. Puxa papo, comenta as roupas das mulheres e até elogia os homens. "Que pão! Você viu? Na minha época a gente chamava os homens bonitos de pão, minha filha", contou.
De acordo com ela, a maior saudade é das filhas. Maria Antônia contou que saiu da periferia de São Luís, no Maranhão, quando terminou o casamento com o pai das duas meninas. A ideia de vir até a capital federal estava ligada às melhores condições de emprego. Mas, ao chegar, percebeu uma realidade diferente da que escutava quando em terras maranhenses.
"Não encontrei trabalho e também não consegui mais voltar para casa. Não tenho contato com minha família desde os 40 anos", disse. Mesmo com todas as dificuldades, ao pedir para dona Maria descrever a vida em uma palavra, a escolha foi "esperança". "Temos que ter [esperança] para acreditar que vamos acordar amanhã, né?", indagou.
Essas pessoas têm diversos motivos para seguir em frente e conseguir uma vida mais tranquila, sem as adversidades da rua. Neste mês em que comemoramos mais um aniversário da cidade, o cenário brasiliense é marcado pela história de cidadãos como Leoberto, Edelzuita, Keli, Ricardo, Davi, Costinha, Maria Antonia, Magali, Rafaela e Fabiana, dentre outros.

Confira reportagem para o Jornal Esquina:




Por Felipe Alcides e Victor Fernandes 

Colaboração Iris Cruz e Patrícia Cagni

Contadores de história mostram os encantos da profissão

Por meio da leitura, vivem-se aventuras e descobrem-se novos horizontes
Foto: Íris Cruz


Da oralidade ao papel, crianças vivenciam narrativas como fruto de conhecimento e gesto de carinho. Pais, avós, educadores  e contadores de histórias fazem dos contos lições de vida e mantêm forte a tradição da leitura. No olhar do fundador da Associação Amigos das Histórias, William Reis, a paixão pelo trabalho vai além das barreiras financeiras. A atividade é guiada pela vontade de transmitir afeto por meio das palavras.

“O contador de histórias é o mediador da leitura, pessoa valorosa no despertar no gosto pela curiosidade, encantamento e compartilhamento daquilo que lê e interpreta”

A psicopedagoga Anna Cristina de Araújo explica que a presença das histórias e da ficção na vida de jovens e adultos é de extrema importância. Mas, já que as crianças giram em torno do mundo da fantasia, para elas a contação tem a missão de explorar os encantos da imaginação.

“Nenhuma sociedade tem ignorado o valor do contador de histórias, mas com a vida contemporânea algumas famílias têm perdido esse hábito, por isso os contadores têm assumido a tarefa em espetáculos, feiras, saraus e encontros”

Segundo ela, ser um contador de histórias vai além de ler livros em voz alta, “O contador é performático, são artistas que decoram textos e muitas vezes se vestem de forma adequada para dar a luz da fantasia”.




Voz nas ruas  


Já que o amor recebido dos pequenos é a grande realização no trabalhos dos contadores de histórias, encontros voluntários são a essência da profissão. Seguindo o modelo de afetividade familiar, a psicóloga Laís Melo lê para crianças nos jardins da Superquadra 315 Norte, aos domingos. O único pagamento são sorrisos estampados no rosto da criançada.  


“A ideia é poder levar a leitura para um lugar diferente, aberto, onde a gente possa sentar no chão, na sombra das árvores, e se divertir”


Em História em Quadrinhas, Laís Melo mostra que a leitura é mais prazeroso em ambientes naturais
Foto: Arquivo Pessoal


Nomeado História em Quadrinhas, o projeto tem como objetivo incentivar o hábito da leitura em ambientes descontraídos e proporcionar a troca de carinho por meio dos livros.  Como explica Laís, História em Quadrinhas surgiu de uma paixão de infância, que voltou a florescer depois de participar de um curso do meio.


Para conquistar o mundo


“Tanto a contação de histórias quanto o teatro tornam a língua mais lúdica e quebram a barreira com um novo idioma”


"Ao ouvir histórias, podemos aprender outro idioma", Julianna Zancanaro
Foto: Allan Santos

Atriz e contadora de histórias, Julianna Zancanaro despertou o olhar para a contação por meio das artes cênicas. Hoje, além de atuar em espetáculos, ela trabalha com histórias em espanhol no instituto Cervantes. Segundo Julianna, por mais que a criança não tenha conhecimento do idioma, o interesse e a vontade de aprender sempre predominam no ambiente.

“Já que a língua é diferente, sempre faço gestos que ajudam na compreensão e por mais que diga que se não entenderem também posso falar em português, eles nunca pedem”


Olhar com cultura


Já que por meio da leitura a gente pode conquistar o mundo, autores trazem livros infantis, que retratam a realidade cultural de diferentes países, para a literatura brasileira. Conheça alguns contos e livros africanos para ensinar a criançada as riquezas desse continente tão longe e tão perto.




Paixão de todas as idades


“A minha história como contadora parte da minha história como leitora”, escritora e jornalista, Alessandra Roscoe se denomina mediadora de leitura. “A contação é um recurso a mais para chegar aos livros”, segundo ela, o incentivo à leitura é de extrema importância para todas as faixas etárias e, do trabalho com públicos desde bebês até idosos, é preciso usar a arte da conquista.


“Meus trabalhos têm públicos muito específicos e preciso fazer parte do mundo deles e respeitar o tempo”


"As histórias para bebês e idosos têm o fio condutor do afeto", Alessandra Roscoe
(Foto: Arquivo Pessoal)


Alessandra trabalha com a contação dos próprios livros e faz leituras para bebês e idosos, principalmente pacientes de Alzheimer. Ela diz que não importa a idade, os contos encantam a todos.


“Comecei a fazer leituras para idosos de uma maneira inesperada, fui convidada para fazer uma contação na UnB e achava que era para crianças, só que quando cheguei lá eram pessoas mais velhas”


Ao lembrar do momento, Alessandra se emociona de diz: “Li a história Caixinha para guardar o tempo e depois pedi para cada um contar o que guardaria na caixinha da memória; entre tantas respostas, um senhor contou detalhes da vida na infância e, quando descobri que ele não falava há seis anos por causa dos problemas da doença, me emocionei”. Segundo Alessandra, por meio das histórias, é possível despertar a vontade de viver.



Da raiz à capital


Conhecido como contador de histórias da Amazônia, o ator Joca veio a Brasília para mostrar à criançada os encantos da cultura brasileira. Por meio dos contos, ele dá voz a narrativas cheias de poesias. De lembranças indígenas a tradições de interior, Joca incentiva os pequenos da cidade grande a valorizar a simplicidade.


“Gosto de coletar histórias peculiares de cada local e de ter uma relação muito próxima com grandes mestres, para transmitir aprendizados de um jeito fiel à cultura tradicional”


Segundo ele, já que é palhaço, usar a palhaçaria como ferramenta para a arte de contar histórias é um dos diferenciais do trabalho.  


“As possibilidades para contar historias são muitas e não me prendo a uma forma específica, gosto de proporcionar um ambiente de misticismo; mas há várias possibilidades de fazer isso”


Com os encantos da tradição indígena, escritores como Graça Graúna, Yaguarê Yamã e Daniel Munduruku transformam as tradições orais das aldeias em páginas de livros. Conheça o trabalho desses autores em destaque na literatura brasileira de raiz.


Profissionalização
“Acreditamos no fortalecimento da profissão, e já que é um trabalho feito com amor, está baseado no social”


Nas palavras de Maristela Papa, presidente da Associação Amigos da História, o mercado dos contadores de história é promissor e abriga muitos talentos, mas ainda precisa ser valorizado. Há 21 anos no cenário brasiliense, a Associação contempla mais de 60 profissionais, que defendem a necessidade de uma formação adequada para transmitir o conhecimento.


Nas cotações de história, os profissionais se fantasiam e falam em ritmo de música
Foto: Divulgação
“Trabalhamos interferindo em outras áreas, que vão desde costureiras a bonequeiros e cenógrafos”

Segundo Maristela, não basta saber ler para ser um profissional do meio. Para dar voz aos contos é necessário dominar a arte da encenação e ter disposição para brincar. Como explica a educadora, o reconhecimento desses profissionais é desejado em todo o Brasil. Já que em Brasília se comemora a semana do contador de histórias em meados do dia 16 de março, o próximo passo é conquistar uma celebração nacional e conseguir a profissionalização da atividade.


“Quando falamos da profissionalização, não podemos esquecer dos métodos que já existem e da oralidade passada por gerações, mas destacamos a utilização correta da voz e do corpo”


Mais de 60 contadores de história fazem parte da Associação Amigos da História
(Foto: Divulgação)


Em 2014, Willian Reis, criador da Associação, pediu um Projeto de Lei para que haja a semana nacional dos contadores de histórias, a ser comemorada na data de morte de Câmara Cascudo - 30 de julho. O projeto está em tramitação na câmara dos deputados e pode ser votado em abril de 2016.


“Vamos mostrar ao mundo que o Dia internacional do Contador de Histórias nasceu na Suíça, mas é comemorado no Brasil, na cidade Patrimônio Cultural da Humanidade que é bela, não apenas por sua arquitetura, mas pelas pessoas que amam viver da arte”

Amor pela contação


Mãe de Mariah e Francisco, Marina Machado ressalta que a contação de histórias estimula a criatividade e a expressividade, além de aumentar o contato com as construções culturais.


“As histórias funcionam como mediadoras de temáticas importantes para o diálogo entre pais e filhos, além de favorecer um momento lúdico entre crianças e adultos”


Segundo ela, mesmo com deficiência auditiva, os filhos acompanham as narrativas com a ajuda de recursos visuais. Porém, ela acredita que as atividades dos contadores de histórias precisam ser mais inclusivas.  
“A inclusão faz com que  crianças em diferentes condições de desenvolvimento tenham a possibilidade de entrar em contato com a riqueza da história a partir da utilização de recursos variados”


A pequena Mariah gosta das histórias que têm o lobo como personagem
(Foto: Jacque Lisboa)


Já que os direitos humanos também podem ser trabalhados de maneira descontraída por meio dos livros, veja dicas de leitura que valorizam o tema.

No lar  


Mãe do pequeno Ian, Ananda Yamasaki diz que, aos três anos, o filho desperta a curiosidade por meio das histórias.


A forma como ele vivencia os contos é intensa, a sensação que eu tenho é que a história é uma realidade para ele; ele participa da fantasia”

Luta pela leitura


Jornalista e cineasta, Roberto Seabra fez da vontade de que existam mais bibliotecas públicas em Brasília, a voz do movimento Eu apoio o Centro Cultura da Asa Norte e do documentário Leitores sem Fim. Com o objetivo de construir um espaço voltado à cultura no lugar do antigo Caje, Seabra criou, em 2014, o projeto Eu apoio o centro Cultura da Asa Norte, que visa construir uma biblioteca aberta à comunidade no local.


“Existe um equipamento que une educação e cultura, esse equipamento é a biblioteca”


Em 2015, o diretor começou a produção do documentário Leitores sem Fim, que foi lançado em fevereiro deste ano. A partir de histórias inspiradoras, que simbolizam a superação pessoal e social por meio da literatura, Seabra construiu uma narrativa singular, na qual mostra a situação da leitura no Brasil e o novo modelo que se pretende criar de bibliotecas e espaços culturais.

Confira a reportagem feita para o Jornal Esquina:

Por Íris Cruz

O inimigo está a um clique de distância

       Na era digital, crimes relacionados a vazamento de dados dos usuários estão cada vez mais comuns. No Brasil, a internet já atinge 94,2 milhões de pessoas, e mais de 40% usam as redes sociais com frequência. Segundo pesquisa realizada pela Bitdefender – uma empresa especializada em antivírus para computadores, a cada 15 segundos, um usuário tem dados roubados da rede. 

Imagem Fonte: Bitdefender 

       Pesquisas apontam que, além das redes sociais, os brasileiros usam a internet para transações bancárias, compras online e outros serviços online, como os aplicativos Waze e Moovit que criam trajetos a partir da localização do usuário.   

     Foi o que ocorreu, em 2015, com a funcionária pública Alessandra*, que realizou financiamento e pagou os boletos pelo e-bank. Após oito parcelas, recebeu um aviso de cobrança em casa, alegando que não havia pago as últimas quatro parcelas. Foi quando percebeu que o computador estava hackeado. “Eu descobri que o site que acessava modificava os boletos alterando o endereço do destinatário. Fiquei com prejuízo de mais de R$ 6 mil.”. Ao constatar que não estavam recebendo os pagamentos mensalmente, os hackers entraram em contato alegando ter a localização da residência de Alessandra e outros dados pessoais. Ela conta que fez um Boletim de Ocorrência sob a Lei Carolina Dieckmann, porém os criminosos não foram pegos até a data da publicação desta matéria. Casos assim colocam em cheque até que ponto as informações do usuário estão protegidas.  

       Quando o equipamento é invadido, abre-se espaço para que outras pessoas tenham acesso às nossas informações pessoais, como senha de bancos, fotos, vídeos e até a localização no GPS, trazendo a possibilidade de sermos acompanhados por 24 horas. As formas mais comuns para isso são por meio do phishing (conversas ou mensagens falsas com links fraudulentos), spam (mensagens enviadas sem o consentimento do usuário) e malwares (softwares maliciosos instalados sem permissão do usuário, como vírus. Confira a diferença. 

Imagem Fonte: Bitdefender 

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Fonte: Bitdefender 

       Em 2013, a Lei Carolina Dieckmann entrou em vigor após o episódio do vazamento de uma série de fotos pessoais da atriz. O documento prevê pena de três meses a um ano de detenção e multa em invasões de dispositivos informáticos alheios, conectados ou não à rede de computadores, mediante violação de mecanismos de segurança com o fim de obter, adulterar ou destruir dados e informações. Leia a lei na íntegra.
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Fonte: Pesquisa realizada dia 31 de março com 71 pessoas via internet. Disponível em: https://www.facebook.com/groups/aselmgroup/permalink/537265859785738/?qa_ref=qd 

       Em Brasília não existe uma delegacia especializada em crimes virtuais, então a vítima deve ir até a delegacia de polícia mais próxima para realizar o Boletim de Ocorrência. A Divisão de Repressão aos Crimes de Alta Tecnologia (DICAT) não atende diretamente o público, sua atribuição é assessorar as demais unidades da Polícia Civil do Distrito Federal. Ou seja, qualquer Delegacia do DF poderá fazer o Registro da Ocorrência e investigar. Qualquer dificuldade ou necessidade de um apoio mais técnico, solicita-se auxílio à DICAT. 

O cidadão pode pedir ajuda à DICAT para juntar provas e tomar providências pelo telefone (0xx61) 3462-9533 e por e-mail: dicat@pcdf.df.gov.br. 
  
*Nome fictício por motivos de segurança.  
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Fonte: Bitdefender 

Por Marya Cecília Castro