Segundo uma pesquisa
divulgada pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mais de 44,9%
da população diz ficar incomodada ao ver um casal de homossexual se beijando em
público, e apenas 28,2% discorda da opinião anterior. Essa pesquisa mostra a
realidade no Brasil, embora, a justiça já aprove a união estável entre casais
do mesmo sexo.
Para o professor de direito civil, Ledo Lacerda Ventura, a não
aceitação da relação entre homossexuais é uma questão cultural, como por
exemplo, em outras culturas homens se cumprimentam com beijo - “O que ocorre é
que não estamos com uma concepção construída do ponto de vista histórico em
aceitar isso como algo normal. A questão é cultural. Como o próprio poeta
disse: qualquer forma de amar vale a pena.” Já Aldina Rodrigues de Sousa,
auxiliar de serviços gerais, diz: “Acho uma falta de respeito e isso também
vale para homem e mulher se beijando desesperadamente. Eu também não iria
gostar de ver homem com homem, mas levo numa boa, até porque sempre vejo esse
tipo de cena.”
Outro ponto da pesquisa aponta que 31,6% dos entrevistados
concordam que casais homossexuais tenham os mesmos direitos dos casais
heterossexuais, diferente dos 32,6% que discordam da igualdade dos direitos. O
jovem Rodrigo Alberto (18), a favor da igualdade dos direitos, diz - “Isso
é uma questão de lei, já existe o pós e o contra. Hoje você tem menos direitos
para um casal gay do que para um casal hetero, cada um tem seus direitos e
ninguém deve julgar ninguém por suas escolhas”.
Normas brasileiras
reconhecem a união homoafetiva. Sociedade ainda se divide perante o tema.
O jovem Rodrigo Alberto, a favor da igualdade dos direitos |
Mais de 38% ainda são contra casamento gay
“Do ponto de vista dos
direitos humanos e garantias fundamentais, não há dificuldade em o Estado
proteger o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo”. Essa é a visão do professor
de Direito Civil, Iedo Lacerda. Todavia, estudo do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostrou que a
população brasileira se divide perante o tema, uma vez que 38,8% dos
entrevistados consideraram que o casamento homossexual deve ser proibido, e
32,1% foram favoráveis a esse tipo de união.
A estudante de
biblioteconomia, Luara Soares, 18 anos, defende o casamento gay. “Se um hétero
pode casar com outro hétero, porque duas pessoas do mesmo sexo não podem se
casar, também?”,indaga. Segundo Luara, os direitos devem ser iguais para todos,
ainda mais quando se trata de fazer duas pessoas felizes.
Clique aqui para escutar a entrevista com o professor de direito civil, Ledo Lacerda Ventura
A auxiliar de serviços
gerais, Aldina Rodrigues de Sousa, não compartilha da mesma ideia. Para ela,
homossexuais não devem ter o direito de se casarem, pois Deus fez como
parceiros, homem e mulher. O estudante de jornalismo Rodrigo Alberto, 18 anos,
também não concorda com o matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. “Não acho
normal, pois cresci tendo como base o casamento entre pessoas de sexos
distintos, e o casamento gay vai contra os meus princípios religiosos”,
explica. Contudo, Rodrigo pondera que o assunto deve ser tratado sob a ótica do
direito.
Conquista incompleta - A legislação sobre o
assunto no mundo varia e muitas das vezes, baseia-se na cultura local. No
Brasil, em 2013, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) reconheceu o
casamento homoafetivo, por meio da resolução nº 175/13. O documento também
aprovou a conversão da união estável de homossexuais em casamento. A resolução
do CNJ foi respaldada na decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que em
2011, conferiu aos casais do mesmo sexo, o direito à união estável.
Para o jornalista Wákila
Mesquita, que é homossexual, apesar dessas decisões favoráveis aos casais
homoafetivos, ainda é importante que o assunto passe pelo Congresso Nacional.
“É uma questão de colocar os direitos como iguais. Seria um sinal de maturidade
da sociedade brasileira, conseguir, por meio do parlamento, lidar com o tema”,
conclui.
Fórmula da felicidade - A pesquisa do IPEA também
constatou que 25,5% das pessoas concordaram e 34,1% discordaram de que um casal
de dois homens possa viver um amor tão bonito quanto o de um homem e uma
mulher. Aldina Rodrigues faz parte do percentual que discorda. “Não acredito
que um casal do mesmo sexo possa ter a felicidade de um casal de homem e mulher,
pois, geralmente, o homossexual teve alguma frustração com o sexo oposto”,
explica.
Já o professor Iedo
Lacerda, indaga: “Quem somos nós para ter um medidor de felicidade? Não temos a
capacidade de dizer que a felicidade é mais plena ou menos plena por ser
homossexual”. Segundo ele, “toda forma de amar vale a pena”, já dizia o poeta.
Por Victor Augusto e Nara Rodrigues.