Treze anos depois do concurso que projetou a revitalização da avenida W3 Sul, uma das principais de Brasília, nada saiu do papel. Os comerciantes reclamam que, apesar de sempre pedir apoio da categoria e prometer o começo de obras durante campanhas eleitorais, o Governo do Distrito Federal (GDF) não demonstra interesse em cumprir a palavra a cada troca de gestão.
A W3 Sul começou a perder valor durante a década de 1980, depois que shopping centers como o Pátio Brasil e o Park Shopping surgiram oferecendo estacionamento e infraestrutura mais aconchegante. "Com a falta de interesse na avenida por parte do povo, as lojas também acabaram se mudando para shoppings, logo a avenida estava sempre vazia", lembra César Sousa, aposentado de 65 anos, que se recorda das sessões de cinema e lojas de roupa que frequentava com amigos na juventude.
A situação de desamparo é grave. Sarah Melo, 49 anos, reclama: "Não tem lugar para estacionar e fica difícil de visitar, eu tropeço no chão quebrado e esburacado, sem dizer as pichações que descaracterizam o local". Ela lembra também que o começo da W3 Sul fica perto do Hospital Sarah Kubitscheck, que oferece atendimento especializado em Ortopedia, e muitos cadeirantes e desabilitados precisam passar pela área. Já Caroline Matos, estudante de 15 anos, tem medo dos mendigos que rondam o local, o que torna a caminhada para o colégio, em frente à avenida, uma experiência terrível.
Um economista, que preferiu se identificar como João, atua no local há mais de 30 anos, e contou como a saga se repete: o governo faz reuniões, os mesmos problemas são mencionados, promessas são feitas, mas obras nunca. “Na época de Roriz pedimos para consertar os banheiros públicos que estavam se quebrando, pioraram a situação pois fecharam eles mas não consertaram nada, agora temos que lidar com mendigos que defecam nos becos da avenida e espantam clientela”, lamenta. João afirma já ter mostrado exemplos de revitalização de sucesso pelo país afora para representantes do GDF, mas não recebe resposta fora de períodos eleitorais. O estabelecimento em que João trabalhava teve que se mudar para a 208 sul no último ano.
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Revitalização
A ata do concurso para seleção de projeto de reconstrução, feito em 2002, diz que todas as opções apresentadas foram levadas em consideração. O projeto ganhador, do urbanista Frederico Barreto, demonstra uma W3 onde cultura e lazer atraem pessoas para o local e reforçam o comércio, incluindo o convite de instituições culturais mundiais para terem sedes brasileiras na capital, além da gestão realizada pelas próprias comunidades de moradores. Mas até hoje, mesmo com um projeto pronto e selecionado, obras nunca foram feitas, e a revitalização é apenas repetida em pautas do governo sem nenhuma ação efetiva.
De acordo com Frederico, as obras não foram realizadas porque o GDF, na época, procurava projetos que verticalizassem a W3. Assim, prédios mais altos disfarçariam o erro da transferência do projeto do metrô para o Eixo Monumental, no lugar da W3, como originalmente planejado. Tal decisão, para o urbanista, foi um erro grave, já que um metrô funcional que seguisse pela avenida W3 certamente teria dado vida e fluxo ideal de pessoas. A verticalização da área teria resultado em mais congestionamentos, piorando ainda mais a locomoção de veículos.
Frederico Barreto fala sobre a W3
Frederico Barreto fala sobre a W3
Por Matheus Augusto Vale de Sousa