A adolescência é a primeira porta de entrada para determinadas experiências. Festa, barzinho e carnaval são eventos que podem significar, aos ouvidos dos pais de um adolescente, o uso de drogas. “Toda família tem alguém que é a ovelha negra, a fruta podre”. São palavras da mãe de uma dependente química, em uma reunião para pessoas na mesma condição. Palavras, estas, que ilustram a visão da sociedade sobre o viciado em drogas: uma pessoa estragada, sem conserto, marginalizada e esquecida.
Conheça duas histórias de jovens que foram vítimas dessa realidade. Uma delas é ponteada por tragédias paralelas ao uso de drogas. A outra mostra que é possível encontrar uma luz no fim do túnel: a superação.
O aposentado José Vilmar Pereira visita o filho na prisão todas as quintas-feiras. Tudo começou quase dez anos atrás, quando o garoto passou a usar maconha. Não demorou para aparecer a curiosidade de experimentar drogas mais pesadas. A primeira internação veio antes dos 15, compulsoriamente, numa clínica onde ele passou três meses. Vilmar conta que a primeira prisão ocorreu logo após a alta. “Foi preso com 15 anos por tráfico de drogas. Ele ficou preso mais ou menos uma semana e depois ficou em liberdade assistida. Me deu muito trabalho, continuou usando drogas e andando com as mesmas companhias”, lamentou.
O menino passou ainda pela segunda internação, em uma clínica no estado de São Paulo. Permaneceu por seis meses. Parecia que as coisas tinham melhorado. Ao completar a maioridade, conseguiu um emprego e conheceu a atual esposa. “Ele terminou o Ensino Médio, fez um curso de audiovisual e ficou mais ou menos um ano sem usar drogas”, contou o pai. Contudo, Vilmar começou a perceber os primeiros sinais do tráfico. “Encontrei nas coisas dele uma balança de precisão e logo depois ele apareceu com um carro que era roubado, dizendo que era de um amigo”, relatou. Nesse período, uma denúncia o levou de volta para a prisão. Aos 18 anos de idade, ele foi condenado a 16 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas e porte de armas. “Ele está preso com 22 pessoas na cela, a comida é horrível, a cadeia é horrível. Estou tentando, por contatos, conseguir um trabalho para ele lá dentro” disse, entre lágrimas. As visitas semanais dos pais e da esposa são um apoio para o jovem.
O trabalho voluntário com pessoas na mesma situação do filho foi o que ajudou Vilmar. Há cinco anos, ele faz parte da equipe de voluntários da Associação Francisco de Assis e do Grupo Enoque. “A partir do meu sofrimento e da minha família, comecei a ver o sofrimento de outras famílias. Passo para eles a minha experiência, o que eu vivi e o que eu fiz que deu certo”, comentou. Entre os trabalhos executados, estão a distribuição de alimentos a moradores de rua na Rodoviária e a divisão de custos de internação de dependentes químicos.
O trabalho voluntário com pessoas na mesma situação do filho foi o que ajudou Vilmar. Há cinco anos, ele faz parte da equipe de voluntários da Associação Francisco de Assis e do Grupo Enoque. “A partir do meu sofrimento e da minha família, comecei a ver o sofrimento de outras famílias. Passo para eles a minha experiência, o que eu vivi e o que eu fiz que deu certo”, comentou. Entre os trabalhos executados, estão a distribuição de alimentos a moradores de rua na Rodoviária e a divisão de custos de internação de dependentes químicos.
A irmã da diarista Nilzete Tavares, Tábata, tinha 18 anos e tinha acabado de dar à luz quando teve o primeiro contato com drogas. Nilzete conta que
a mudança de comportamento da irmã foi brusca e aconteceu em poucos dias. "Foi uma surpresa para mim, pois ela tinha acabado de ter filho. Eu mesma não tinha entendido o que estava acontecendo, um rapaz da rua me avisou que minha irmã estava usando e vendendo drogas", contou. Não demorou muito para a garota ter uma segunda gestação, e o uso do crack a acompanhou durante os nove meses. Nessa fase, ela era moradora de rua e usuária de cigarro, álcool e crack. "Ela chegava em casa, comia, roubava alguma coisa e ia embora", desabafou Nilzete. Tábata fez parte dos 73% dos dependentes químicos no Brasil que são poli-usuários de maconha, álcool, crack ou cocaína, segundo o LENAD Família. No Centro-Oeste, o crack corresponde a 47% das drogas ilícitas consumidas.
a mudança de comportamento da irmã foi brusca e aconteceu em poucos dias. "Foi uma surpresa para mim, pois ela tinha acabado de ter filho. Eu mesma não tinha entendido o que estava acontecendo, um rapaz da rua me avisou que minha irmã estava usando e vendendo drogas", contou. Não demorou muito para a garota ter uma segunda gestação, e o uso do crack a acompanhou durante os nove meses. Nessa fase, ela era moradora de rua e usuária de cigarro, álcool e crack. "Ela chegava em casa, comia, roubava alguma coisa e ia embora", desabafou Nilzete. Tábata fez parte dos 73% dos dependentes químicos no Brasil que são poli-usuários de maconha, álcool, crack ou cocaína, segundo o LENAD Família. No Centro-Oeste, o crack corresponde a 47% das drogas ilícitas consumidas.
Depois de seis anos, a jovem decidiu fazer tratamento. Ela foi uma das mulheres recebidas pelo Centro Terapêutico Casa do Sol Azul, a única instituição que acolhe dependentes químicas entre 12 e 18 anos no Distrito Federal. Para Nilzete, o centro terapêutico foi a melhor opção. "Tábata completou todo o tratamento. Tem pouco mais de um ano que ela está totalmente limpa, sem usar nenhum tipo de droga", orgulhou-se.
Segundo o psicólogo Leonardo Cavalcante, a complexidade e quantidade de aspectos a serem abordados no vício em drogas se faz ainda maior quando se trata de adolescentes. Mas o profissional esclareceu que esta fase da vida não está necessariamente predisposta à dependência. “Ser adolescente não é uma característica determinante ao uso de drogas. Não é o fato de ser adolescente, mas o fato de ser adolescente em determinados contextos existenciais”, disse.
Segundo o psicólogo Leonardo Cavalcante, a complexidade e quantidade de aspectos a serem abordados no vício em drogas se faz ainda maior quando se trata de adolescentes. Mas o profissional esclareceu que esta fase da vida não está necessariamente predisposta à dependência. “Ser adolescente não é uma característica determinante ao uso de drogas. Não é o fato de ser adolescente, mas o fato de ser adolescente em determinados contextos existenciais”, disse.
Confira aqui a íntegra da entrevista com o psicólogo Leonardo Cavalcante, em áudio.
A dependência química no Brasil está representada no mapa a seguir, que é interativo. Deslize o mouse por cima para saber de algumas informações regionais. Os dados que você vai ver foram obtidos no "Levantamento Nacional de Álcool e Drogas", realizado pela Unifesp e na "Pesquisa Nacional sobre o uso de Crack", da Fiocruz.
A dependência química no Brasil está representada no mapa a seguir, que é interativo. Deslize o mouse por cima para saber de algumas informações regionais. Os dados que você vai ver foram obtidos no "Levantamento Nacional de Álcool e Drogas", realizado pela Unifesp e na "Pesquisa Nacional sobre o uso de Crack", da Fiocruz.
Quer saber mais sobre a dependência química na adolescência? Selecionamos cinco filmes para você entender melhor este tema. Dê uma olhada nos trailers:
1. Diário de um adolescente (The Basketball Diaries, 1995)
2. Aos Treze (Thirteen, 2003)
3. Spring Breakers: Garotas Perigosas (Spring Breakers, 2012)
4. Kids (Kids, 1995)
5. Cidade de Deus (Cidade de Deus, 2002)
Confira a reportagem completa feita para o Jornal Esquina sobre o mesmo assunto.
Texto por Bruna Maury
Artes por Fernanda Roza e Bruna Maury