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Socialização através do esporte

Alunos no Centro Olímpico de São Sebastião, no DF (Foto: Agência Brasília) 

Com o intuito de promover mudanças na sociedade, projetos sociais promovem a inclusão de crianças, jovens e adultos por meio de práticas esportivas gratuitas. O DF conta hoje com 11 Centros Olímpicos e paraolímpicos mantidos pelo GDF. Eles estão localizados em Ceilândia, Brazlândia, Samambaia, Riacho Fundo I, Recanto das Emas, Gama, Santa Maria, Sobradinho, São Sebastião e Estrutural. O Centro Olímpico de Planaltina ainda está em construção.

O coordenador dos Centros Olímpicos e Paraolímpicos da Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer do DF, Marco Aurelio Guedes, informou que os centros contam com piscinas, quadra de tenis, quadra de areia, futebol society e ginásio.

“Atendemos hoje cerca de 35 mil pessoas. Procuramos envolver além do esporte, uma proposta pedagógica, ter o esporte como qualidade de vida e ressocialização. O esporte é apenas um instrumento para que a gente alcance esse objetivo. Nós recebemos alunos a partir de quatro anos e não temos um limite de idade para participar”, diz.

De acordo com o coordenador, os centros servem de apoio para outros projetos, como o Futuro Campeão, que busca, dentro dos centros, alunos aptos a praticar determinados esportes profissionalmente.

“Procuramos também desenvolver diversas atividades com os nossos alunos, como por exemplo a leitura de livros, em parceria com a secretaria de Cultura do DF. Além disso, temos dentro dos centros, os projetos de PSC, prestação serviço à comunidade. Neste projeto, jovens que cometeram alguns delitos e tiveram como pena a prestação de serviços, ajudam na limpeza e manutenção dos centros", conta Guedes.

Os centros oferecem atividade física orientada (para idosos), atletismo, basquete, boxe, bocha, capoeira, capoterapia, desenvolvimento motor (para crianças), futebol de areia, futebol society, futsal, ginástica localizada, ginásticas rítmica, acrobática e artística, handebol, hidroginástica, caratê, jiu-jitsu, natação, pilates, tênis, voleibol e judô.

Para participar das atividades dos centros, é preciso se inscrever no site da Secretria de Esporte, portando cópias e os originais da documentação exigida: atestado médico, uma foto 3x4, carteira de identidade e CPF.

Menores de idade devem apresentar o comprovante de residência atual, a declaração escolar, a certidão de nascimento, a identidade e o CPF dos pais, um atestado médico e o documento de guarda ou autorização do conselho tutelar, caso o responsável não seja o pai ou mãe, além de uma foto 3x4.


Alunos na aula de natação no Centro Olímpico da Estrutural no DF (Foto: Agência Brasília)


Já em São Sebastião, outro projeto faz sucesso.  O professor de jiu-jitsu Adalberto Ventura, mais conhecido entre os alunos por Betinho, realizou em janeiro de 2015, um sonho antigo, criar o projeto social Campeão no Esporte e na Vida. O projeto conta hoje com 150 alunos entre 4 e 42 anos. A iniciativa é gratuita e se mantém cim donativos e ações voluntárias da comunidade e dos pais dos alunos.

"Eu via os alunos desistindo das aulas, e não sabia o que fazer, eu não queria ver eles nas ruas, sujeitos a más influências. Então, pensei em montar o projeto. Os alunos hoje tem condições de competir e encontraram no esporte, uma alternativa a vida que tinham˜, conta Betinho.

Um dos apoiadores do projeto, o motoboy Magno Rezende, conta que levou seu sobrinho de sete anos para participar das aulas. "Aqui na região é difícil encontrar opções de lazer gratuitas, além do mais, a luta ensina disciplina, mantém a criança ocupada, longe das drogas, e também tem a parte da saúde que conta muito".

Alunos do Projeto Social Campeão no Esporte e na Vida (Foto: Adalberto Ventura)

No Varjão, em 2002, iniciou o projeto "Gracie Barra Varjão". Idealizado pelo atleta de jiu-jitsu Rodrigo Carvalho, o projeto atende hoje mais de 200 alunos carentes da região. Rodrigo conta que a primeira grande vitória do projeto veio em 2007, quando levou a aluna Thaise Fernandes Ramos, na época com 17 anos, para disputar o campeonato mundial de jiu-jítsu em Los Angeles, Califórnia. A jovem participava do projeto desde 2004.

"Ela começou a treinar quando ainda usávamos um barracão sujo, sem estrutura, bem no começo. Ela nos procurou pedindo para treinar. Era magrinha, muito tímida, falava pouco, mas no tatame era uma gigante. Sempre foi uma aluna muito aplicada e disciplinada. Quando voltamos com a medalha, fizemos uma carreata pelo Varjão. Foi bem emocionante. Ela foi a primeira mulher brasiliense a ser campeã mundial dessa modalidade", relembra.

Alunos em aula na Gracie Barra Varjão (Foto: Rodrigo Carvalho)

Segundo Carvalho, a Administração do Paranoá cedeu um espaço para treinamento, dessa forma, não é cobrada taxa para as crianças participarem do projeto. "Para os adultos, pedimos uma taxa simbólica, de R$ 20 por mês, mas aqueles que não têm condições também são bem vindos".

Thaise Ramos, hoje com 26, faz parte da equipe de professores do projeto. "Eu procuro incentivar meus alunos e mostrar que mesmo em condições precárias, conseguimos ter uma vida melhor através do esporte. Eu consegui medalhas em um mundial, o que até hoje é muito surpreendente pra mim, mas se eu consegui, qualquer um consegue".


O Instituto de Ações, Projetos e Pesquisas Sociais(INAPPES) também é um dos exemplos de ações sociais que tem no esporte uma nova oportunidade para os jovens em necessidade. O projeto foi iniciado em 2005, e tinha como intuito a captação e distribuição de cestas básicas, além de dedicar-se à inclusão digital de pessoas de baixa renda. Somente em 2010 foi criado o PROBOLA, que tem como prioridade crianças e adolescentes da Cidade Estrutural.


Alunos do projeto PROBOLA (Foto: divulgação)


PROBOLA


Esse é o principal projeto que envolva o futebol. O objetivo é transmitir fundamentos do futebol e valores sociais, gerando oportunidades à crianças e adolescentes de regiões desfavorecidas e mais vulneráveis do DF.


De acordo com o presidente Hélio Alfinito, o intuito do projeto é de conciliar o esporte com a educação. 
"Nós temos trabalhado com esse projeto do PROBOLA exatamente para tirar as crianças da rua, poder envolvê-los com o esporte, no caso o futebol, de tal modo que eles possam colocar o coração deles no esporte. Um dos requisitos é que todos estejam estudando,"diz. Alfinito ressalta ainda que é fundamental que os jovens não troquem os estudos pelo esporte, mas sim que façam os dois, de maneira complementar.

Para facilitar o trajeto o projeto freta toda semana um ônibus para levar os garotos de suas escolas para o centro de treinamento, que é cedido pela Sociedade Hípica de Brasília. Ainda não há nenhum auxílio do Governo do GDF, porém já existem negociações. "A gente quer firmar uma parceria com o GDF para que a gente eduque os treinadores com a nossa metodologia, e no final do ano realizar um torneio no Eixão do lazer." afirmou o presidente.

Vídeo institucional do PROBOLA (Fonte: INAPPES)

FIFA


No ano de 2013 o INAPPES foi convidado pela FIFA para participar do fórum internacional FIFA for hope, em Belo Horizonte. Lá foi possível desenvolver novas técnicas para projetos socias, tendo como principal o desenvolvido pela StreetFootballWorld, que é uma organização mundial sediada em Berlim, na Alemanha, com o objetivo de utilizar o futebol para mudar a vida de crianças em todo o planeta.


ESPORTE EM TRÊS TEMPOS


O Esporte em três tempos é a metodologia utilizada após o evento da FIFA. O aprendizado de valores sociais é promovido por por meio do esporte lúdico, no turno ou contraturno das aulas. Essa metodologia divide a atividade em três partes. Na primeira, o treinador discute com os alunos quais as regras serão utilizadas na atividade. Na segunda parte eles realizam a atividade, e por fim, eles se reúnem novamente para conversar sobre os resultados obtidos. Nessa atividade o placar não é o mais importante. 

"O objetivo é de que a criança perceba que o placar não é o mais importante, mas sim a maneira com que a atividade é praticada", diz o presidente.


O projeto necessita apenas de uma quadra esportiva ou qualquer outro lugar que traga segurança para os jovens e de um mediador treinado especificamente para utilizar essa metodologia, sendo capaz de transmitir tal experiência.

Alfinito ainda comentou sobre as mudanças que esse projeto tem causado na vida dos jovens. 
"Nós temos vários casos de garotos que chegaram aqui como causadores de problemas, que brigavam muito, e após seis meses nós já notávamos mudanças de comportamento. Um desses atletas já se tornou até auxiliar técnico aqui", relatou.

Por Hugo Reis e Jéssica Simabuku