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Lago Sul é a região do DF com maior diferença de renda por gênero

Risco de gravidez é o principal motivo para o menor salário feminino, afirma especialista



No Lago Sul, região administrativa, com maior índice de desenvolvimento humano (IDH) do Distrito Federal, também é possível constatar diferenças salariais entre homens (R$ 13 mil) e mulheres (R$ 8 mil), conforme pesquisa “As mulheres no Distrito Federal e nos municípios metropolitanos - Perfis da Desigualdade”, realizada pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan). A pesquisa apontou dados que mostram que a disparidade de oportunidades é presente no campo profissional e domiciliar.A diferença salarial mostra uma desigualdade severa, tendo em vista que os homens chegam a receber 62% a mais. O sexo masculino também domina a responsabilidade residencial. Além disso, a pesquisa aponta que apenas 18% das casas da região são mantidas pelas mulheres.

                        Um terço das casas no DF tem mulher como chefe de família
                        Mulheres do DF ganham até 46% menos do que os homens


Motivos

O professor de economia na Universidade de Brasília (UnB), Carlos Ramos, explica que o risco da gravidez faz com que as mulheres, mesmo as de classes privilegiadas e elevada grau de instrução, tendam a receber um salário inferior para compensar os custos da maternidade. “Mesmo no setor público, com concurso, ainda existe a discriminação pelo fato de serem mulheres. Isso acontece com algum tipo de gratificação não dada a elas”, disse.

Para o professor, uma das soluções de longo prazo seria a participação política da mulher, que gradativamente tenderia a diminuir a desigualdade. Outro recurso, segundo ele, seria a aplicação de uma política pública que estimule a educação. “Dessa forma seria quebrado o ciclo vicioso de quanto mais pobre, mais filhos e menos trabalho”. Ramos ressalta que alguns países árabes são mais discriminatórios, enquanto que nos nórdicos, como Suécia, Finlândia e Noruega há menos desigualdade. “O Brasil tem um nível de discriminação médio com relação ao mundo”.


    Foto: Portal da Copa do Mundo 

Moradores

De acordo com o procurador geral do Distrito Federal, Plácido Ferreira, e morador do Lago Sul, a diferença de salário entre homens e mulheres é uma questão que está prestes a terminar, pois elas estão lutando pelo seu lugar no mercado de trabalho. “As mulheres estão mostrando para sociedade que têm a mesma capacidade que os homens”. O procurador geral tem quatro filhos e ressalta que as despesas da casa são divididas com a esposa. “No serviço público já há uma paridade em relação à distribuição de rendas, e em pouco tempo no mundo dos negócios também será assim”, disse.

Confira aqui a pesquisa da Codeplan

O casal Diogo Ribeiro e Abigail Ribeiro é morador há 22 anos do Lago Sul acredita que a igualdade salarial baseada no gêneros sexuais ainda está muito longe de ocorrer. Apesar de possuírem o mesmo nível de escolaridade, Abigail sempre ganhou um salário muito inferior ao do marido, Diogo. Ela acredita que isso aconteceu por uma questão cultural e que há muitos anos está enraizada no Brasil. Segundo ela, o homem é socialmente pressionado a trabalhar, a ganhar mais e a pagar as contas, enquanto, a mulher possui o papel social de zelar pelos filhos e pelo lar.

Abigail ressalva que nunca pensou no marido como a única fonte de renda da casa, porém é ele que administra o lar. “Enquanto ele garante o luxo, eu garanto a minha independência”, afirmou.
Diogo Ribeiro afirma que o Lago Sul é o bairro com os maiores salários por residência, com muitos homens no ramo empresarial. “Enquanto em outras áreas do DF com características semelhantes, muitos casais de funcionários públicos concursados têm salários mais equiparados”.

A moradora do Lago Sul, Luísa Abdala, ainda sofre com a discriminação baseada nos sexos. Ela e o irmão, Carlos Abdala, optaram por seguir a mesma carreira, porém Luisa recebe aproximadamente R$ 5 mil a menos. Luísa explica que a formação dos dois é a mesma: “estudei na mesma faculdade que meu irmão, falamos os mesmos idiomas, temos as mesmas capacitações na área e ainda trabalhamos na mesma empresa. Mesmo assim ele recebe muito mais do que eu. No Brasil, ainda existe sim muita diferenciação salarial”.

Ouça aqui a entrevista de Carlos Abdala

Por Érica Fontoura, Luíza Gutierrez, Patrícia Lélis, Thaís Betat - Jornal Esquina