A crise financeira que tomou o Brasil afeta também os aspirantes a um emprego temporário no final do ano. Aqui, no DF, a estimativa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal (Fecomércio-DF) é a criação de apenas 3,8 mil vagas. No entanto, não há números e estimativas que desanimem o estudante Allan Songy, 23 anos. Ele enxerga o período como sendo uma “boa oportunidade para aqueles que querem uma renda extra para aproveitar as férias”. O estudante é otimista pois avalia que há muitas vendas em shoppings (seu foco, neste ano), e que as empresas costumam contratar antes de dezembro para a realização de treinamentos. Caso consiga alguma chance de se efetivar, Allan vai fazer parte dos 30% de trabalhadores que conseguem emprego fixo após a vigência do contrato de emprego temporário.
Mas nem tudo são flores para todo mundo. Se alguns veem esses dados com bons olhos, a concentração em outros pode cravar um pessimismo e instalar a confiança (não benigna) de que a situação não vai bem. Donato Dutra, um senhor de 63, é vendedor numa loja de calçados. A mudança de cenário nas contratações de 2016 no local de trabalho dele em relação aos anos anteriores é clara: nenhuma contratação de mão de obra. Um baque e tanto uma vez que antigamente registrava-se a contratação de “quatro a seis funcionários em relação ao número do quadro”, segundo ele. Essa queda é traduzida em porcentagens em levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em conjunto com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), feito em 27 capitais com 1168 empresas. Desse total, não mais que 15,4% pretendem contratar funcionários temporários. Isso, ao mesmo tempo em que impressionantes 84,6% não vão contratar de jeito nenhum.
Relatório da Confederação Internacional das Agências Privadas de Emprego Público (International Confederation of Private Employment Services) - CIETT - faz saber que 40% de empregos temporários no mundo concentra-se na área de serviços, enquanto que a indústria é representada por 32%. A divisão dá conta de deixar claro que empregos temporários não estão apenas em shoppings. Izequiel Bezerra, 44 anos, é habituado com trabalhos temporários na área administrativa. Faturista hospitalar, assistente administrativo, técnico administrativo, auditor de finanças são apenas algumas das funções que estão assinadas em sua carteira de trabalho. “No período de um ano já cheguei a ter sete trabalhos em empresas diferentes como temporário. Era saindo de um e entrando em outro. Não esquentava com tempo e sim pensava na experiência e amizades que conquistava nas empresas por onde passava”, aponta ele. A diversidade de setores em que pessoas arrumam emprego temporário é representada também no casal Sofia de Faveri, 20, e Lahiri Abdalla, 26.
“Cartas marcadas”
As áreas mais comuns em que a jovem Sofia trabalha envolvem festas, eventos de música e transcrição de áudio. O número aproximado de empregos temporários que ela arranja é de vinte a cada ano, incluindo festas grandes e eventos pequenos. Já as oportunidades para trabalhar com transcrições de áudio surgem em períodos sazonais: no início e fim de semestres. Segundo ela, uma das vias pelas quais ela encontra emprego temporário são os amigos. “É muito difícil você chegar lá numa produção de festa e pedir um emprego. É muito complicado isso porque as pessoas já têm cartas marcadas assim. Elas já sabem em mais ou menos confiar e quem contratar porque geralmente são trabalhos que exigem uma determinada confiança e aí ela não vai ficar contratando qualquer pessoa.”
Na visão dela, a oferta de empregos temporários em Brasília nessas posições não é boa. “As pessoas geralmente só contratam quem elas já conhecem. Ninguém vai te contratar pra fazer um trabalho que às vezes mexe com dinheiro, ou que mexa com equipamentos caros, essas coisas, se a pessoa não te conhecer, a pessoa não ter noção de quem você é, você não tem uma indicação.”
Ainda de acordo com ela, umas das dificuldades em procurar emprego temporário é o preconceito que existe por parte de alguns contratantes não aceitarem pessoas com tatuagens, piercings e de pessoas com body modification (modificação corporal). “Acaba que atrapalhando um pouco porque as pessoas não têm credibilidade em você. Elas não acham que você, às vezes, consegue fazer determinados trabalhos de comunicação com as pessoas e tudo mais por causa do seu estilo, pelo jeito que você é. Aé eu já vi gente reclamando que pessoas também reclamam que os empregadores julgam pela sexualidade das pessoas, pela orientação sexual. Isso tudo é um grande tabu, é um grande preconceito. Tem muito problema em procurar emprego com isso. Fica muito difícil de procurar um emprego fixo, alguma coisa que mexa com público.”
Ouça Lahiri falar sobre vantagens e desvantagens do emprego temporário:
Conheça as vantagens e desvantagens dos empregos temporários na avaliação dos entrevistados: