O crescimento do
desemprego prejudicou os trabalhadores de forma generalizada, de acordo com o
levantamento mais recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
apresentado na última terça-feira (20). A análise reuniu dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério do Trabalho
fixados entre o primeiro trimestre de 2014 e o segundo trimestre deste ano.
O desemprego dos
brasileiros com idades entre 14 e 24 anos passou de 16,8% para 26,7% nesse
intervalo. Já entre 25 e 59 anos, a parcela de inativos subiu de 5,2% para 9,1%
desde o primeiro trimestre de 2014 até o segundo de 2016. Entre as pessoas com
mais de 59 anos, ela subiu de 2% para 4,7%. Assim, a pesquisa constatou que o
desemprego geral no país cresceu de 7,2% para 11,3% no mesmo período.
Para o Ipea, a
queda na renda atingiu ainda mais aqueles que ganham menos que um salário
mínimo. O estudo também mostra que o aumento do desemprego é resultado de uma
maior perda entre os que têm carteira assinada, o que apontaria um aumento da
informalidade do mercado de trabalho.
Neste cenário de
poucas oportunidades no mercado, invariavelmente volta à tona o velho e
conhecido bordão “crise é oportunidade”. Não é raro encontrar pessoas que
começaram a fazer salgadinhos ou doces em casa por encomenda, e hoje
transformaram isso na principal fonte de renda da família. Afinal, com crise ou
sem crise, uma coisa é certa: as pessoas sempre vão precisar de alimentação.
Quer seja em busca de prazer ou para satisfazer uma necessidade.
Pensando nisso, a
designer amazonense Thalita Campos resolveu driblar a crise financeira há
um ano, fazendo brigadeiros para vender e logo viu que a iniciativa estava
dando certo. “Eu estava passando por um momento complicado financeiramente e
tinha que encontrar uma solução rápida... comecei a ver retorno e vi que estava
indo bem”, diz. A jovem, que antes não sabia cozinhar, disse que a necessidade
a fez buscar por receitas na internet e começou a assistir vídeos no YouTube
que apresentavam métodos simples e práticos. “Eu não cozinhava nada! Mal sabia
fazer um ovo mexido”, assume.
Atualmente ela vende docinhos em salões de beleza de Manaus aos sábados por 2 reais, considerando os gastos que ela tem com gasolina e o risco de não vender toda a produção. Ela vê isso como uma forma de divulgar otrabalho e conseguir clientes que façam pedidos para festas e eventos. Sob encomenda, os docinhos variam de R$ 0,75 a R$ 1,50, a depender do sabor e da quantidade escolhida pelo cliente.
A designer Thalita
Campos paga as contas da casa com seus brigadeiros gourmet
Segundo Thalita,
“foi solução mesmo... são os meus docinhos que seguram bastante as contas lá em
casa. Com certeza eu pretendo manter (o negócio) e expandir logo”. Ela ainda
não tem uma média de quantos docinhos fabrica e o quanto arrecada porque as
vendas são muito instáveis. “Os meses de junho e de julho foram muito bons,
agora no mês de agosto eu não tive uma encomenda”, lamenta.
No mês de agosto,
33.953 vagas formais de emprego foram fechadas no Brasil, de acordo com os
dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados na
sexta-feira (23) pelo Ministério do Trabalho. Este é o 17° resultado negativo
consecutivo registrado.
O Caged
contabilizou 651.288 vagas fechadas no acumulado do ano, sendo este o pior
resultado para o período desde 2002, o início da série histórica. No entanto, a
pesquisa mostra que um dos setores da atividade econômica que teve saldo
positivo de geração de postos de trabalho em agosto foi o comércio, com 888
novas vagas.
Investindo nos doces
Mesmo atuando no
mercado de trabalho, o advogado e jornalista Alessandro Saturno resolveu
apostar no comércio de doces em Brasília como uma forma de investimento. Há
dois anos ele e a sócia, Marcia Ventura, fundaram a confeitaria Madame dos
Doces, que oferece aos clientes bolos, bombons, cupcakes e quitutes
requintados, como o macaron - um biscoito comum na culinária francesa
caracterizado pelo formato redondo e as texturas: crocante por fora, úmido e
macio por dentro.
Enquanto a sócia
cuida da confeitaria, Alessandro é o gestor, responsável pela parte
administrativa, fechando contratos e lidando diretamente com a clientela,
organizando também a estrutura financeira da empresa. Segundo ele, o ramo
oferece várias opções: “Ou você abre uma loja, ou você abre uma cozinha, ou
você trabalha de forma virtual. Nós optamos por abrir uma cozinha industrial. A
gente investiu em uma cozinha, comprou maquinário e hoje temos uns 6 a 7 freelancers”.
A sociedade recorre
aos freelancers (termo inglês para denominar o profissional
autônomo que se auto emprega em diferentes empresas) quando há contratos com
grandes eventos, como festas infantis e casamentos. Atualmente o negócio já tem
sete casamentos previstos para os próximos meses. “Da época que eu abri a
empresa até hoje eu senti que a gente cresceu muito, financeiramente e
estruturalmente. A gente aproveitou essa crise mesmo para poder crescer.
Enquanto o povo está reclamando a gente está comemorando”, declara Alessandro.
Alessandro Saturno
viu na confeitaria uma forma de investimento lucrativa
O empreendedor
avalia que a capital federal é um lugar ótimo para ganhar dinheiro nesse
segmento. “Eu me formei em Direito e nem a advocacia está dando o mesmo
resultado. (A confeitaria) está sendo bem mais rentável”, diz.
Por César Raizer