Se
você está jogando bola com um amigo que não é um grande “craque”, dá um passe a
ele e a bola sai na lateral, se prepare para correr até a parte de fora da
quadra. Essa realidade ocorre em Brasília, área central do Distrito
Federal. As quadras de esporte das Asas
Sul e Norte não recebem investimento da administração e ficam abandonadas, com
as cercas quebradas e o piso sem pintura.
Na
Asa Norte, o local para prática esportiva da superquadra 114 está abandonado. A
cerca não completa a volta inteira em torno da quadra, a pintura está
desgastada e parece que nunca foi acabada. Os gols para jogar futebol não possuem
redes e as traves de ferro já apresentam sinais de ferrugem pela falta de
manutenção. A tabela de basquete não existe e a grama já começa a tomar conta
do concreto desgastado.
Também
na Asa Norte, na 404, a situação é semelhante. Apesar de contornar todo o
perímetro da quadra poliesportiva, a cerca metálica está rompida em vários
pontos, onde os arames ficam expostos para fora ou para dentro da quadra, um
risco para os esportistas e para os pedestres. Na falta de lixeiras por perto,
o chão se torna depósito para os resíduos deixados no local, muitas vezes por
pessoas que utilizam o espaço apenas para consumir bebidas alcóolicas e fazer
bagunça durante as madrugadas.
Arte Urbana – “Está tudo pichado”, diz o neto de
Iridê Moll enquanto joga bola com o seu avô. Na quadra da 310 norte, as
pichações e os desenhos tomaram conta da quadra mal conservada. Além disso, a
cerca quase não existe e o concreto está todo quebrado. Alguns moradores sem
consciência aproveitam o espaço para descartar objetos no local: uma impressora
ocupava o canto da quadra.
Iridê
vem à capital há oito anos de Erechim, no Rio Grande do Sul, para visitar a
filha e os netos que moram em Brasília. Em sua percepção, a quadra de esportes
nunca recebeu melhorias em todo esse tempo. “Tem gente que recebe dinheiro para
investir no espaço público. Não tem nenhum banco para sentar, eles poderiam
cuidar muito mais”, relata. Para ela, a administração poderia investir em
banheiros para quem pratica esportes na quadra. Além disso, não há iluminação.
Em
alguns pontos das quadras 400 na Asa Norte várias pichações onde se lê “400
F.C.”, pintado nos suportes onde deveriam existir tabelas e cestas para a
prática de basquete.
Quadra? – Na 405 sul, está o maior exemplo de
falta de investimento das quadras que foram visitadas. O cimento, que deveria
caracterizar o piso de uma quadra de esportes não existe. A área está tomada
por grama e barro, o que restou foram apenas as cercas inacabadas e as traves
que um dia deveriam ser utilizadas como gols. A área fica no meio da
superquadra e está apenas ocupando espaço, já que não serve para prática de
nenhum esporte.
Ana
Caroline Seidler, que mora no bloco próximo a quadra, acha que virou apenas um
espaço de perigo aos moradores. “Não tem mais nada aqui, então se você tem que
passar por essa grama toda, corre o risco de ser assaltada. Eles podiam limpar
isso. Faz a quadra ou dá um jeito no espaço”, comenta.
Novamente
na superquadra 404 Norte, é difícil reconhecer que um espaço vazio do gramado
foi inicial planejado para ser uma quadra de vôlei. Dominada pela vegetação, a
quadra ainda possui as hastes onde a rede que divide os campos adversários
deveria se fixada, uma delas quase caída, e ambas bastante enferrujadas.
Cercas quebradas, pontas
de metal espalhados, riscos para todos
– Em boa parte das quadras de esporte visitadas, é possível encontrar o mesmo
grande perigo: cercas quebradas. As telas metálicas podem ter sido rompidas, ou
as barras superiores separadas do resto do perímetro e até mesmo alguns
alambrados inteiros podem ser vistos ao chão. O que ficam são os riscos de
acidentes que essas estruturas metálicas representam.
Considerado
o tipo de ferrugem encontrado em praticamente todas essas grades, a possibilidade
de contração de doenças em caso de cortes por esses materiais é altíssima. Na
quadra esportiva da 114 Norte, barras de metal sujo e enferrujado estão
expostas em todos os quatro cantos do local. Numa partida de futebol, onde
todos correm para todos os lados e não se pode saber para onde a bola vai,
barras assim significam grandes e perigosos obstáculos para os jogadores.
Aparelhos
de musculação também tendem a se desgastar com o tempo. Além de enferrujados e
velhos, ficam tortos e propensos para ferir os usuários.
Na
quadra 404 Norte, ao lado da quadra de vôlei escondida pela grama, fica um
parquinho infantil cercado por essas estruturas perigosas. Quando um alambrando
se despende de alguma das vértices do cercamento e cai, o normal é que os pontos
de fixação dessa estrutura continuem firmes e expostos, por serem pequenos
pedaços de metal que costumam estar colados ao resto da grade. Brinquedos
caindo aos pedaços, com correntes fracas e desgastadas também podem machucar. O
espaço para as crianças brincarem se transforma então num campo minado.
Reforma agrada moradores
- Um bom exemplo de
espaço público destinado à prática de esportes está na quadra 406 Norte. As
traves para os gols estão inteiras e ainda contam com redes brancas de metal.
As duas tabelas e cestas também continuam montadas, pintadas, e perfeitas para
o uso. Ao lado de um parquinho que também foi reformado recentemente, a quadra
possui iluminação durante a noite e atrai todos os moradores da superquadra,
crianças, adolescente e adultos.
Maria
Beatriz Koth reúne todas as crianças do prédio onde mora quando vai descer para
brincar com o neto. Ela conta que os dois espaços de diversão foram reformados
em 2012, mas não sabe dizer quem foi o responsável pela restauração. “Tanto no
parquinho quanto na quadra, as crianças da superquadra passam a tarde aqui”
comenta a moradora, que aproveita os benefícios de um espaço seguro para
brincar com o neto.
Apesar
disso, o alambrando que cerca a nova quadra, recém pintado e ainda em boas
condições, já está quebrado em alguns pontos, deixando a tela metálica solta.
Na
quadra 205 Sul a situação também é muito boa. De acordo com moradores, a quadra
foi construída a pouco mais de um ano e é utilizada por vários moradores. Comparada
com outras áreas, a dificuldade de jogar basquete é o de menos. Difícil mesmo
seria jogar qualquer esporte nas quadras que não recebem nenhum investimento e
manutenção da administração responsável.
Luísa Leite e Camila Schreiber- Jornal Esquina On-line