Mestre ensina golpes para alunos de jiu-jitsu |
São as aulas de
jiu-jitsu, que acontecem em frente ao Restaurante Comunitário da Estrutural,
que há cinco anos, mudam a vida dos jovens que moram na cidade. Sem ajuda do
governo, os meninos treinam três vezes por semana no estacionamento do
restaurante somente com a iluminação pública. Faça chuva, ou faça sol, o treino
é pesado e todos comparecem com frequência. Na cidade que possui altos índices
de criminalidade, os jovens encontram uma nova oportunidade para iniciar uma
nova vida.
Marco Aurélio, mais
conhecido como Júnior, tem apenas 17 anos e já tem histórias para contar. A
vida nunca foi fácil, mas foi o esporte que o resgatou e o tirou do mundo do
vício. Foi há mais de dois anos que Júnior resolveu mudar completamente de vida
e se dedicar ao esporte. Quando era mais novo, não queria saber de nada, até
largou os estudos por um tempo. Sem estudar, entrou no mundo das drogas. Depois
de viver na rua e passar por experiências que prefere não lembrar, Júnior
entrou para o jiu-jitsu. Desde o começo sabia que o mestre não permitia bebidas
ou drogas, mas que estava ali para tirá-lo desse mundo. “A gente tem que ter
uma vida saudável no esporte. O mestre pega no nosso pé o tempo todo”, conta
Júnior.
Hoje, ele cursa o 2º
ano do ensino médio e pretende se formar. Por incentivo do professor, já fez
cursos de inglês, informática e de web design. No jiu-jitsu, Júnior é faixa
azul e já foi campeão brasileiro e mundial.
Outro jovem sonhador é
Breno José, de 20 anos. “O jiu-jitsu deu novas metas para a minha vida”,
afirma. Antes de começar a treinar, Breno estudava, mas não se interessava por
nada. Gostava de jogar videogame e só dormia nas horas vagas. Foi à curiosidade
que o trouxe pro jiu-jitsu. O esporte é levado a sério e já virou uma rotina na
vida de Breno, ele já se considera um viciado em esporte.
Breno acredita que o
lugar do treino deveria ser bem melhor, mas para ele, que já passou por
situações piores, já é uma vitória conseguir um lugar para treinar. “Já
treinamos em um lugar 3 x 3, sem janela e ventilação alguma”, conta.
Alunos participam das aulas em frente ao restaurante comunitário |
Respeito e admiração. É
assim que os meninos veem o professor de jiu-jitsu, Meiji Ito, o “mestre” para
eles. Quando Meiji chega para dar aula, todos já estão enfileirados para
cumprimentar o mestre.
O professor que iniciou
todo o projeto na cidade é Maike Ferreira. Há cinco anos luta para que os
meninos tenham um lugar para treinar. E ele conta com a ajuda do Meiji para
garantir o sonho dos 30 alunos que procuram no esporte, uma nova chance para a
vida.
Meiji tem 41 anos e
conheceu o jiu-jitsu em 2000. É professor de matemática da Secretaria de
Educação do DF, e nunca conseguiu um apoio ou lugar para treinar com os
alunos. O preconceito e a discriminação
fizeram com que ele perdesse os espaços que utilizava para dar aulas. “Quando
descobriam que meus alunos eram da Estrutural, não aceitavam e pediam para que
eu treinasse em outro lugar”, lembra o professor.
“O que me define?
Exemplo. Quero ser um exemplo pra eles em tudo. Meu objetivo é mostrar pra eles
que não tem que ser vencedor só nos tatames, mas na vida”, afirma Meiji. No começo,
o jiu-jitsu era um hobby, mas com os projetos sociais, passou a ser um objetivo
de vida.
Meiji tem orgulho de
dar aulas sem cobrar nada. Ele destaca que ainda falta muita técnica dos
meninos, mas a dedicação e o esforço deles deixa o professor cada vez mais
orgulhoso. “Eles não aceitam perder, o espírito guerreiro dos meninos vem de
berço”, comenta. Lição do dia: “Para ser
um campeão, é preciso ter força, preparo físico, raça e técnica. Eles serão
campeões e eu estou aqui para garantir isso”, finaliza Meiji. E os meninos continuam
sem espaço e sem apoio para conquistarem os seus sonhos. O jeito é continuar a
lutar.