Modelos de tamanho maior dão a volta por cima e arrasam sob os holofotes. Mas o que não aparece nas passarelas é o preconceito que essas meninas sofrem por não estarem no padrão imposto pela sociedade. Luz, câmera e ação, que lá vêm elas!
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No dia 23 de outubro acontecerá em Brasília a etapa do Miss Brasília Plus Size. Esse concurso é voltado para valorizar e ressaltar a beleza das mulheres que vestem o manequim a partir de 44. A primeira edição foi no ano passado, e a vencedora foi de Brasília: Camila Goulart, 32, manequim 48. Ela ganhou uma passagem para Paris e um contrato de trabalho de R$ 10 mil, além de treinamento com aulas de passarela e coreografia. A primeira etapa do concurso acontece este ano em Brasília. A vencedora vai para a final em São Paulo. É um momento em que os holofotes se voltam para essa causa e a visibilidade do movimento Plus Size ganha a mídia. Sharlene Leite, professora e modelo Plus Size, diz que vai participar do concurso, pois pretende continuar com a sua ideologia. Ela acredita que ser Miss é mais do que ser um rostinho bonito, é preciso ter conteúdo também e isso não depende de cor de pele ou de tamanho. Sharlene criou um blog para ter um espaço onde pudesse contar e discutir as vivências do dia a dia. A professora, que já participou da primeira e única edição do concurso presencial de musas de times de futebol plus size e venceu, conta no vídeo abaixo um pouco mais da história e das dificuldades, durante o concurso e na própria vida.
Gravação: Ana Tonissi
A professora entregou um projeto para o coordenador do time do São Paulo Futebol Clube com o intuito de fabricar blusas do time com um corte feminino, de tamanho maior. Ela afirma que as blusas grandes são sempre masculinas e não possuem caimento para um corpo feminino. Alega que, ao comprar a blusa do time, as femininas possuem apenas o tamanho "P". Durante a entrevista, Sharlene mostra como ela customizou a sua própria camiseta do time.
Gravação: Ana Tonissi
Sharlene Leite exibe com orgulho a faixa que ganhou no concurso de musa do São Paulo Futebol Clube 2016.// Foto: Ana Clara Tonissi |
A professora afirma que é possível estar acima do peso e ecnontrar roupas com corte e caimento que favorecem as curvas.// Foto: Ana Clara Tonissi |
Marilyn Monroe e Elisabeth Taylor fizeram sucesso nas décadas de 1940 e 1950 com seus corpos de curvas sinuosas. A mulher é dona do próprio corpo, entretanto sempre sofreu a pressão para adquirir o "corpo ideal". Mas o que é ter um corpo ideal? Para Indira Jéssica, 21, estudante de artes plásticas e fundadora do grupo Sereias Plus Size, o corpo ideal é aquele que te faz se sentir bem. O movimento Sereias Plus Size Brasília é voltado para meninas da região, que estão acima do peso, e que tem o objetivo comum de compartilhar experiências, relatos de preconceito e dicas de moda maior. A estudante, e uma amiga, Aline Ramos, são as idealizadoras e fundadoras do grupo. Para fazer parte do movimento, a interessada deve entrar em contato com uma das criadoras do grupo ou conhecer alguma participante para fazer a indicação. Manoela Oliveira, 20, também estudante de artes plásticas e integrante do grupo Sereias, conta a experiência do preconceito, "vivenciei de diversas formas. Por ser lésbica e por ser gorda. Nunca fui desejada. A autoestima sempre esteve no pé. Eram apelidos, comentários e você sempre é preterida a qualquer outra pessoa que se encaixe num padrão. É você ir numa loja e ver uma roupa que deseja e ter que ouvir que não existe pro seu tamanho. É ter que escutar 'nossa você é linda de rosto, mas é gorda'. O preconceito é algo presente".
A estudante conheceu o Sereias Plus Size por meio de uma amiga que a indicou para participar do grupo. Manoela conta que, no momento em que ela se aceitou, passou a aprender a se amar como é, parou de correr atrás do padrão ao qual ela não pertencia e acabou com as dietas malucas. " A minha vida mudou, porque deixei de viver pros outros e vivo só pra mim", comentou a estudante. Algumas mulheres não se aceitam como elas realmente são e isso acarreta diversos problemas físicos e psicológicos, como anorexia e bulimia. O padrão de beleza atual são mulheres que usam um manequim 38 e que, por vezes, estar magra não é sinônimo de uma vida saudável, levando pessoas a se questionar sobre essa forma que é considerada “perfeita”.
Alerta
A saúde dessas mulheres que estão acima do peso deve ser acompanhada por nutricionistas e endócrinos. Uma pesquisa feita em 2015 pelo Ministério da Saúde mostra que 52,5% da população brasileira estão acima do peso e que 17,9% são obesos. Para o Dr. Osmário Salles, endocrinologista do Hospital Aliança, o combate a esse mal é mais simples do que se imagina. “O maior remédio na medicina se chama exercício. Com a prática de meia hora podemos evitar uma série de doenças que vem atrelada a estes hábitos, como a diabetes, hipertensão e até alguns tipos de câncer”. Segundo o médico, é possível estar com sobrepeso e ser saudável, e uma pessoa magra não necessariamente é sinônima de saúde. O médico deixa claro que é fundamental a presença de um especialista e um acompanhamento nutricional. Uma página do Facebook chamada "Empodere duas Mulheres" divulgou este ano uma campanha produzida pela marca de cereais Special K, com a finalidade de encorajar as mulheres a mudarem as perspectivas do que é considerado "perfeito". A mensagem central do vídeo é " E se fôssemos mais gentis com nós mesmas?", assista a seguir:
Confira a matéria para o Jornal Esquina na versão impressa:
Ana Tonissi