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Drags, Negras e Empoderadas

Drag Queens negras lutam por

espaço

Artistas performáticos desafiam os preconceitos da sociedade e trazem alegria para as pessoas


                                                                                         

      Um dos reality shows mais famosos do mundo, RuPaul's Drag Race, surgiu nos Estados Unidos, criado pela Drag Queen mais influente e uma das maiores fontes de inspiração no universo Drag, RuPaul. Com a grande visibilidade do reality, Drag Queens de todo o mundo, que antes eram desvalorizadas, conquistam espaço aos poucos. É importante sempre desconstruir o pensamento de que esses artistas possuem relação com identidade de gênero ou orientação sexual. Ser Drag Queen não se trata de como o indivíduo se sente em relação à própria percepção, mas sim da construção de um personagem.
        Conheça um pouco mais sobre o reality americano que elege a melhor performace e a Drag mais poderosa dos Estados Unidos: 

No Distrito Federal   

         O Brasil vem presenciando a grande invasão do artista e do universo performático. Na capital federal, o cenário vem ganhando força rapidamente, algumas se apresentam profissionalmente e outras só por diversão. Porém, além do preconceito que sofrem por se vestirem de mulher, alguns ainda carregam consigo as marcas do racismo, ainda muito presente no país, por serem negros.
         A personagem Naomi Leakes, criada pelo estudante de moda Victor Juan, é uma das drags negras que representam esse cenário na capital. Victor teve como influência a famosa Drag Queen RuPaul, pelo fato de não ser apenas uma fonte de inspiração, mas por ter uma grande relevância na comunidade LBGT e por discutir sobre questões como gênero e o empoderamento dos negros. Ele acredita que ser Drag Queen é uma representação artística, em que você cria um personagem. “No fundo, eu sou o Victor, mas a partir do momento que eu visto minha roupa, faço minha maquiagem, coloco minha peruca, eu sou a Naomi”.
       Victor conta que, desde que começou a se transformar na personagem Naomi Leakes, conseguiu superar fatos delicados que surgiram em sua vida, além de passar a se aceitar mais. Victor Juan diz nunca ter sofrido preconceito por interpretar uma drag e ser negro, e que a comunidade drag o acolheu muito bem. Porém, afirma conhecer outras drags que sofreram e ainda sofrem muito preconceito. Para ele, ser negro é um jeito de mostrar para o mundo a própria beleza. “É poder mostrar quem eu sou, que eu sou bonito, como qualquer outra pessoa. Temos que mostrar para a sociedade que somos todos iguais, independente da cor”.
  Confira a galera de fotos de Naomi Leakes:


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Confira no SoundCloud os Temas abordados por Naomi Leakes

Estudante de Publicidade e Propaganda, Octavio Gabriel, 19 anos, também representa as drags negras na capital. Dando vida a personagem Stefani Joly, Octavio se transforma profissionalmente e vê a arte de ser Drag Queen como uma "fórmula de escape" para sair do mundo que vive e trazer alegria para as pessoas em forma entretenimento. “Debaixo daquela maquiagem e peruca existe um ser humano, mas, acima de tudo, aquilo é um personagem”. Ele acrescenta que ser Drag Queen é uma forma de desconstrução social, que vem quebrando inúmeros tabus e conquistando o seu espaço cada vez mais. Octavio Gabriel conta que também nunca sofreu preconceito por fazer drag sendo negro. Contudo, afirma que o preconceito com os afrodescendentes, infelizmente, ainda é uma realidade no nosso país e ressalta: "Amplie seu pensamento, olhe para outros horizontes e veja que não é o tom de pele que vai mudar o caráter, que vai mudar uma pessoa. Todos nós somos iguais, ninguém é superior ou inferior a ninguém”.

                 Confira a personagem Stefani Joly, de verde, se apresentando em uma casa noturna
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Estudante e cabeleireiro, Junior Silva, 20 anos, representa a personagem Scarlet Lee nas horas vagas. Junior vê o mundo drag como uma alegria, diversão e superação, e relata que gosta sempre de inovar sua personagem e passar energias boas para o público.“Eu me monto pra mim, mas eu também me monto para as pessoas que acompanham minha arte” Junior acredita que é muito importante assumir as próprias raízes, justamente para quebrar os padrões estabelecidos pela sociedade, que atualmente vêm sendo cada vez mais desconstruídos. “É importante se mostrar, mostrar ao mundo que os tempos mudaram e fazer com que as pessoas comecem a aceitar mais o que é considerado “diferente”Junior relata que, no começo da carreira, sofreu muito preconceito em Brasília por ser drag negra. Ele acredita que as drags brancas possuem mais oportunidade que as negras, pelo fato das performances serem de “Divas pop” – na maioria das vezes, brancas. Apesar disso, crê que os negros vêm conquistando seu espaço. “Felizmente, a cada dia, esse padrão estabelecido vem mudando e Drag Queens negras vem mostrando o seu potencial. Todo dia é uma vitória!”.



Scarlet Lee se apresentando no festival Latinidades



  Batalha 

   Idealizador da página AFROnte , David Lean, 29 anos, hair stylist, homossexual, negro e ativista, criou a página no Facebook com objetivo de trocar informações e unir a cultura e a beleza da comunidade negra do Distrito Federal. David acredita que o racismo continua presente no país e que o negro não conquistou ainda o espaço merecido. 

"O racismo continua forte e opressor, como sempre. Porém, as pessoas têm mais coragem, hoje em dia, de denunciar, e a gente tem lutado mais contra ele. Queremos o que é nosso por direito e lutaremos por isso."


 
Confira a matéria na versão impressa:







Por Bárbara Rezende