O preconceito vivido diariamente por aquelas que querem um espaço no ambiente esportivo.
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| Elizandra Reis enfrentou os estereótipos e hoje é professora de skate. (Foto: Arquivo Pessoal) |
Delicadas. Cuidadosas. Verdadeiras bonecas. Esses são alguns dos estereótipos criados para as mulheres. Mas isso tem mudado, este ano, na Olimpíada do Rio de Janeiro, a inscrição de atletas femininas bateu recorde: 45,29% dos inscritos eram mulheres. A skatista Elizandra Reis, 28 anos, lembra da infância e conta como o tratamento era diferente entre as meninas e meninos. “Tem que ficar em casa, não pode fazer isso, não pode fazer aquilo. A mãe fala para a criança que ela não pode fazer isso, não é coisa de menina. Os meninos ganham bolas de futebol, as meninas ganham bonecas e conjuntos de cozinha”, lembra.
Diariamente as atletas femininas enfrentam preconceitos por se dedicarem ao esporte, principalmente àqueles que são considerados mais masculinos, como o Rugby, Skate, lutas, automobilismo, entre outros. Além da discriminação, as atletas não possuem tantos incentivos como os homens da mesma categoria do esporte. O Ministério do Esporte e o site Think Olga fizeram pesquisas sobre o quadro do esporte no Brasil e encontraram resultados espantosos.
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| Dados da pesquisa realizada pelo Ministério do Esporte (Crédito: Ana Luiza Noronha) |
AMOR PELO ESPORTE
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| "Eu vivo skate, respiro skate, sou skate" (Foto: Arquivo Pessoal) |
As meninas passam por situações desagradáveis nas rotinas, mas isso não diminui o amor que sentem pelo esporte. A skatista, Elizandra, conta que quando começou a praticar skateboard, escutava dos rapazes que mulher não deveria andar de skate, mas sim ficar aplaudindo os homens. Apesar disso, ela lembra de outra história. “Uma vez um rapaz virou para mim e falou que eu nunca ia conseguir fazer uma manobra, por ser mulher. No fim eu aprendi e joguei na cara dele e foi muito legal essa parte”.
Bia Figueiredo é a primeira brasileira a correr em uma categoria top do automobilismo mundial e também sofreu no início de sua carreira nos anos 1990. Apesar de não existir diferença entre mulheres e homens nas competições, no começo foi difícil, pela falta de mulheres no automobilismo, assim existindo um preconceito com as pilotas pioneiras. As curvas no começo da carreira foram um pouco perigosas, mas Bia sempre contou com o apoio da família e se empolga ao explicar o amor pelo esporte. “É um esporte diferenciado, onde você tem que controlar uma máquina que pode chegar a quase 400km/h, ter um controle mental gigante e gostar de desafiar o tempo. Por isso o amo”, conta. Depois de vários prêmios na estante e história no esporte, a pilota aprendeu a se impor. Hoje é respeitada e se orgulha de ter chegado ao topo do automobilismo, apesar da falta de fé que algumas pessoas tiveram nela.
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| Bia Figueiredo é apaixonada pelo automobilismo (Foto: Arquivo Pessoal) |
Viviane Araújo, atleta de MMA, escutou de muitas pessoas que luta era algo muito violento para uma mulher. Viviane continuou lutando, e hoje se sente realizada e feliz com o que faz. Com muita disciplina, autoconfiança e autocontrole ajudaram a enfrentar os preconceitos diários. “Viajo para diversos cantos do mundo, conquisto prêmios, minha família se orgulha, tudo isso por que não desisti quando tentaram me parar”, conta.
A história se repete no Rugby. A designer e jogadora de Rugby, Érika Oliveira, de 24 anos, conta que, além da discriminação com o esporte em si, a categoria feminina sofre mais. O esporte é visto como violento demais para as mulheres, que são julgadas como seres frágeis. “Tem vezes que a situação é mais pesada, as pessoas nos comparam a homens e fazem insinuações pejorativas”, conta. Além disso, as equipes, normalmente, são formadas apenas por homens, no começo. Depois quando surgem as equipes femininas, os homens se sentem com uma autoridade, por terem chegado antes, e as mulheres acabam enfrentando um grande desprezo, além de terem que aturar atitudes machistas e até mesmo abusivas. Apesar desses problemas, Érika treina seis dias por semana, podendo treinar duas vezes no mesmo dia. Essa dedicação toda se deve ao amor que sente pelo rugby desde que viu a seleção feminina conquistar o primeiro Sulamericano e começou a se dedicar ao esporte.
PATROCÍNIOS
As dificuldades que essas mulheres passam vão além dos preconceitos. Os salários são menores, os patrocínios difíceis de serem conquistados. A seleção feminina de vôlei ganha uma premiação em dinheiro cinco vezes menor que seleção masculina. Elizandra explica que essa dificuldade de conseguir patrocínio, principalmente no skate, pode causar até uma forma de prostituição das mulheres no esporte. Afinal, as ofertas que surgem são poucas. Sendo assim, qualquer chance que apareça é abraçada de qualquer maneira. “As meninas aceitam a primeira oportunidade que vier. Elas não sentam e colocam os seus termos, não falam como querem. Simplesmente aceitam”, conta.
ASSÉDIO
Comentários maldosos são frequentes na vida delas, às vezes chegando até ao assédio. Viviane Araújo, 27 anos, é atleta profissional de MMA. Ela explica que no começo da carreira sofreu preconceitos, por ser mulher, não era reconhecida, nem aceita no ambiente das aulas. Na primeira academia onde praticou jiu jitsu, o professor não estava preparado para ensinar a luta às mulheres. Ela era uma das únicas alunas e sentia desconforto com a maneira que o professor conduzia a aula. “Senti que o professor me deixava um pouco constrangida por passar a mão em algumas partes do meu corpo durante a demonstração de alguma posição. Daí notei que quando ele fazia a mesma posição com os meninos era diferente”, explica. Apesar disso, Viviane conversou com o professor e ele mudou a atitude, mas hoje ela treina em outra academia e, segundo ela, a trata como atleta, independentemente do gênero.
MÍDIA
A skatista Elizandra se indigna com diversas marcas que têm investido em fotos de mulheres vestidas sensualmente, seminuas, para divulgar produtos. Isso para a professora de skate é inaceitável, já que não é assim que as mulheres vão ganhar o respeito que merecem no esporte. “O skate vai além do seu corpo, além de você ser sensual ou não. Isso não representa o skate feminino, eu não acredito que usar mulher como objeto sexual não vai elevar o nível do esporte”, conta. Isso não acontece apenas no skate, a mídia está repleta de manchetes sexistas e que objetificam o corpo feminino para promover o esporte. Apesar do jornalismo ainda não ter conseguido se livrar totalmente de perguntas sexistas, as respostas só vêm melhorando. Como no caso de Simone Biles:
