Pobreza, falta de saneamento básico, de postos de saúde e de transporte com atendimento a todos os bairros. Estas são algumas das reclamações das comunidades de São Sebastião, no sul do DF. Em visita ao local, cada repórter da equipe do Jornal Esquina que participou da cobertura teve uma percepção diferente. Por isso, nós, Rodrigo Nunes e Sérgio Lopes, decidimos transmitir os nossos pontos de vista aqui no blog. Leia a seguir duas crônicas que relatam o cotidiano dessas pessoas e os problemas enfrentados.
Crônica jornalística: Lado carente da cidade
Condições precárias de vida. Andando por São Sebastião, tive outra concepção do cotidiano de lá. Moradias sem rede de esgoto, apenas com fossas. Em outras casas, havia somente canos que desaguavam na rua. Foram as primeiras impressões quando visitamos o pintor Francisco Magalhães. No lote, um barraco à beira de um barranco; lá embaixo, o córrego que passa serve para tomar banho, mas logo vimos que não é limpo. Entulhos de lixo acabam sendo despejados na água. Quando chove, há risco de deslizamento, e a enxurrada pode derrubar a casa dele.
Ao sair para trabalhar, os filhos de outro morador, José Francisco, convivem com a falta segurança nas ruas. Por ameaças de criminosos contra o filho, José teve que mandá-lo de volta para Januária, cidade do interior de Minas. A realidade da família é de medo por causa dos filhos que estudam e, ao saírem para o colégio, não sabe se voltam vivos. A escola é longe de casa. Algumas vezes, motoristas da empresa responsável pelo transporte coletivo não estavam cumprindo linhas pelo bairro, por haver uma série de assaltos a ônibus. Quanto ao lote de José, há antigos eletrodomésticos do lado de fora da casa, restos de lixos jogados pelo chão, sofá velho e aros empenados de bicicletas.
Em seguida, fomos a uma vila de invasões logo atrás do bairro Bosque. No Capão Cumprido, observamos um cenário de condições precárias como esgoto a céu aberto, mau cheiro, casas construídas em barrancos. Lá não há escola nem posto de saúde. Quando alguém passa mal, tem que ir para o Hospital de Base, em Brasília, para ser socorrido.
David Barrados, morador, conta:
- O socorro que tem é Deus, porque você confiar em hospital hoje em dia é complicado, o que mais você vê por aí é gente morrendo nas filas. Num caso emergencial posso até confiar, mas não conto muito com o governo.
No segundo dia, pegamos o ônibus e fomos ao Morro da Cruz. Por que esse nome? No centro do Bairro há um morro com uma Cruz. De cima do Morro, há uma visão ampla do local e percebe-se que o Bairro é novo por lá.
Andando mais um pouco, uma das moradoras, Edivania Aquino, destacou a falta de segurança:
- Meu pai, que mora na mesma rua, teve a casa roubada cinco vezes, e também aqui tem muita droga, quase não vejo polícia por aqui.
Para finalizar o dia, andamos mais uns quilômetros, e encontramos Maria Conceição. A dona de casa tem intenção de voltar para a terra natal no interior do Maranhão, Barra do Corda, de onde veio para buscar melhores condições de vida:
- Eu pretendo ir embora daqui porque meu marido tá doente de hérnia de disco na perna, e não tem como a gente ir para o hospital porque é longe e meu marido trabalha de caseiro.
Essa impressão me causou uma quebra de conceitos sobre a cidade. Quem vê São Sebastião de longe pode achar que há apenas residências de classe média, mas se seguir adiante na região administrativa, vai perceber outra dura realidade de vida.
Por Rodrigo Nunes
Desmistificando São Sebastião
“Sofro com a violência”, afirma José Francisco, morador da cidade há 28 anos. São Sebastião é diversificada: moradias pequenas, grandes, baixas, altas, ruas com esgoto a céu aberto; paraíso para muitos, sim, para outros nem tanto. De carro, é perto, 23 quilômetros. Quem mora lá e trabalha no Lago Sul ou no Jardim Botânico, vai de bicicleta, apreciando a vista, e ainda economiza a passagem, olha que vantajoso. Chegar de ônibus é fácil, 56 linhas entram e saem da cidade todos os dias. Seria até bastante se não estivessem sempre lotados.
Restaurante Comunitário até tem, porém o preço subiu de um para três reais. Para uma família grande é melhor comprar uma galinha viva na feira no centro da cidade, fica mais barato e já garante o almoço.
Setor Tradicional, Centro, João Cândido, Morro do Preá, São Bartolomeu, Vila Nova, Vila do Boa, São José, Nova Betânia, Bela Vista, São Francisco, Bonsucesso e Residencial Oeste, Residencial Vitória, Morro da Cruz, Itaipu, Capão Cumprido, ufa, quantos bairros! De acordo com Jean Duarte, administrador da cidade, são 12, mas na realidade, se contarmos com as áreas ocupadas, quantos mesmo existem?
No Morro da Cruz, a vista é perfeita. O problema é subir com um sol de 30 graus e coberto de poeira, mas vale a pena o passeio. Fomos duas vezes à cidade para entrevistar, analisar, explorar, verificar, indagar e compreender um pouco mais sobre a cidade que escolhemos - não por acaso, mais pelos graves problemas sociais. Chegamos a ser chamados de Anjos por Francisco Magalhães, o Índio. Ele que mora à beira de um barranco, com lixo por todos os lados e galinhas no quintal. Renda fixa é luxo, ele sobrevive apenas fazendo bicos como pintor.
Perigo tem, e muito. Desconfiados, os habitantes entram em casa quando tentamos abordá-los. Ao fazermos uma entrevista com um morador, um carro suspeito com dois homens parou perto de mim e de meu colega, e ficou observando por uns dez minutos. Foi muito estranho, mas isso faz parte do cotidiano de um jornalista, essa tensão de que algo imprevisto possa acontecer a qualquer momento.
Como diz nosso professor Luiz Cláudio Ferreira, “temos que mostrar a surpresa, o diferente”. Não tentamos mudar nada, mas quem sabe nós conseguimos? Afinal, jornalismo consiste em informar os problemas. Porém, não basta mostrar só o lado ruim, é preciso expor também algo positivo. Essa foi minha experiência ao realizar a matéria sobre a décima quarta região administrativa, conhecida como São Sebastião.
Por Sérgio Lopes
Veja abaixo o vídeo com fotos da reportagem:
Veja a seguir a reportagem completa: