Por Marcos Acypreste
- Solo, ar, fauna, flora, tempo e seres humanos também são afetados diretamente com o alto número de incêndios -
Diferente do que as pessoas pensam, vários problemas aparecem com a chegada da estiagem, da seca e com o aumento dos incêndios. O reflexo dessa situação não está direcionado só ao trabalho do Corpo de Bombeiros (foto1), outras áreas como agrônomos e pneumologistas também trabalham para controlar e tratar os efeitos das queimadas.
A vegetação do cerrado tem uma característica que difere das demais. Durante o ano, as estações são, praticamente, divididas entre seca e chuva. Cada período dura em média seis meses e ocorre no final de agosto e início de setembro que começa o forte período de estiagem e os maiores índices de incêndios registrados. Com a baixa umidade do ar e as folhas muito secas, elas funcionam como forma de combustível. O cerrado representava cerca de 25% da biodiversidade do país. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, esse número caiu para 20% e só 5% estão em áreas de proteção ambiental.
Números de ocorrências em áreas de preservação ambiental no DF
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Dados divulgados pelo Corpo de Bombeiros do Distrito Federal mostram que os registros de abril a agosto desse ano, comparado com 2012, caíram. “Houve uma queda de aproximadamente 100 registros, mas se pensarmos que no total foram registrados quase 3 mil, percebemos que esse número é quase insignificante”, afirma o Major Luiz, do Corpo de Bombeiros.
Bombeiros trabalham para recuperar áreas queimadas
O balanço traz, também, que o mês de maior incidência é o de Agosto, com o registro de 1.444 focos, e depois julho com 840. Ainda de acordo com pesquisa, no mesmo período houve, em 2013, a devastação de quase 5 mil hectares, enquanto em 2012 foram queimados 4 mil hectares.
Bombeiros trabalham dobrado no período de estiagem
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Veja os efeitos:
Solo
O solo é um dos prejudicados pelas queimadas. Entre os prejuízos, estão a morte da microfauna, a eliminação da cobertura que protege contra erosão, a quebra de agregados e a destruição da matéria orgânica, prejudicando a disponibilidade dos nutrientes. De acordo com o agrônomo Lucas Costa, alguns estudos comprovam que a queima provocada pelo homem da cobertura vegetal do solo não oferece nenhuma vantagem (foto). “O produtor precisa do solo para plantar. Com as queimadas ele vai economizar na abertura da mata com maquinas, mas vai ter que repor os nutrientes disponíveis pela matéria orgânica e os agregados”, afirma.
O cerrado é um bioma diferente. A queima natural da vegetação pode trazer algumas vantagens como auxiliar a reprodução de suas espécies vegetais. Lucas afirma ainda que existe uma lei de restituição, mas que ninguém respeita. “A queima natural do cerrado é importante, mas é preciso maior fiscalização do meio rural. Além de provocar queimadas, os produtores não respeitam a lei que estabelece que os nutrientes retirados pelas culturas, do desenvolvimento à produção, devem ser recolocados no solo para evitar seu empobrecimento. E se não houver cuidado, o solo poderá ficar infértil”, explica Lucas.
Tempo
Brasília tem a característica de pouca chuva durante o segundo semestre. Durante esse período chove muito pouco e quando ocorre é passageira, amenizando a situação de seca por um ou dois dias. Os índices de umidades são baixos, especialmente no período da tarde, quando, com frequência, fica em torno dos 30%. Houveram três datas que foram registrados 10% de umidade, 07/08/2002, 04/09/2004 e 15/08/2011. “Julho e agosto são os meses mais críticos, mesmo considerando somente a primeira quinzena de setembro, pois a segunda quinzena desse mês ocorre às primeiras chuvas da estação chuvosa,” explica o meteorologista Luiz Cavalcanti.
Clique para saber sobre o clima |
Os incêndios florestais provocam o aumento de poluição, redução na visibilidade e faz com que não haja troca de massa de ar quente, por massa de ar fria. Considerando o aspecto clima, é negativo, embora as vezes seja necessário uma queimada controlada para evitar um incêndio florestal de grandes proporções e a formação de geadas. “Os incêndios são muito negativos e agem no aumento de calor e na baixa umidade do ar,” afirma Cavalcanti.
Saúde
A fumaça prejudica o sistema respiratório
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Outro problema que aparece nesse período são as doenças. O ar poluído pela fumaça dos incêndios causa problemas no sistema respiratório e cardiovascular. Assim, agravando os sintomas de que sofre de asma, enfisema pulmonar (DPOC), pneumonia, arritmia cardíaca e infarto. “A piora da asma e do enfisema pulmonar geralmente se manifesta com dispneia e chiado no peito. Já a pneumonia normalmente causa tosse e febre. Por fim, o infarto agudo do miocárdio tem como importante sintoma a dor no peito esquerdo,” explica o pneumologista, Alfredo Santana.
Nesse período, os maiores problemas aparecem nas crianças e nos idosos por causa da baixa imunidade e pelas características do pulmão nas crianças e idosos. De acordo com o pneumologista, é preciso procurar assistência médica, especialmente, se o paciente com asma e/ou enfisema pulmonar estiver com piora dos seus sintomas, se estiver suspeita de pneumonia e se apresentar sintomas de infarto. “O principal fator para diminuir todos estes problemas é diminuir as queimadas, o que provavelmente só ocorrerá através da conscientização da sociedade sobre os malefícios das queimadas,” afirma Santana
Fauna e Flora
A fauna e a flora estão diretamente ligadas aos problemas dos incêndios descontrolados. Mas entre os dois, os animais levam a pior. A vegetação, apesar de sofrer danos, consegue se regenerar com as chuvas posteriores e com a própria ação da natureza, já os animais ficam sem habitat e acabam fugindo para a cidade (foto). “O animal é o mais prejudicada nessa situação, porque ou ele acaba sendo queimado ou ele foge para a cidade, onde corre o risco de ser morto por humanos, como em atropelamentos em rodovias,” explica o tenente coronel Ribas, comandante do batalhão da polícia militar ambiental.
Com esse fenômeno, o trabalho da polícia ambiental cresce. De acordo com o tenente coronel, durante todo o ano são capturados gambás e tatus, mas com os focos de queimas, outros animais podem ser encontrados na cidade. “Nesse período é comum a gente encontrar animais como serpentes, antas, lobos e até tamanduás,” afirma Ribas.
O Brasil é o país com o maior número de incêndios na América Latina
Um mapeamento realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostrou que o Brasil é o país da América do Sul com o maior registro de queimadas. Em 2012 o Brasil atingiu a marca de mais de 95 mil incêndios, enquanto a Argentina, que ficou em segundo lugar, registrou pouco mais de 20 mil incêndios. Nesse ano continua com o maior número de registros. Até o começo de setembro já tinham sido identificados 41 mil focos e o segundo lugar, ocupado pela Venezuela, com a marca de 19 mil.
Saiba a situação atual dos focos de incêndio
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