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Por futuro melhor, mãe semi-analfabeta incentiva estudo dos filhos

A empregada doméstica Maria das Neves Marinho mal consegue ler e escrever, mas sempre soube que a educação era a única saída para os três filhos
 
A empregada doméstica Maria das Neves Marinho e a bíblia
(Filipe Marques/Esquina)
Por Filipe Marques

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) aponta que 72% dos jovens de classe D estudam mais que os seus pais. Exemplos dessa melhoria de uma geração para outra são os filhos da empregada doméstica Maria das Neves Marinho, 58 anos.
Semi-analfabeta, Nevinha, como prefere ser chamada, não esconde a dificuldade que tem para ler e escrever. “Eu até entendo o que estou lendo, mas escrevo tudo errado. A letra é tão horrorosa que nem eu entendo direito”, diz. Como não queria ver os filhos com as mesmas dificuldades, ela se convenceu que a educação era a única saída.
Nevinha sonhava alto. Mesmo com dificuldades, pagou a faculdade da filha mais velha, Ângela Costa, 31 anos. “Trabalhava de dia e de noite. Ia dormir às 2h e acordava às 4h para ir para a feira comprar frutas. Depois, fazia ‘marmitex’ e vendia nas ruas, junto com as frutas”, conta.
Para conseguir o diploma de História, Ângela também precisou se sacrificar. “Como eu trabalhava o dia todo, não tinha tempo para estudar. Só de madrugada, depois de chegar da faculdade. Todo dia, minha mãe colocava um colchãozinho na cozinha para ficar do meu lado, enquanto eu estudava. Tinha dia que eu fingia cair no sono só para ela dormir e, depois, ia estudar no banheiro para não acordá-la. Então, quando eu recebi o meu diploma, não foi uma realização só minha, mas também dos meus pais”, narra.
A caçula Alessandra Novaes, 28 anos, resolveu seguir os passos da irmã mais velha. Sete anos após ter concluído o ensino médio, ela realiza o sonho de cursar faculdade. Mãe de duas crianças, Alessandra é aluna do primeiro semestre de Pedagogia. O retorno só foi possível com a ajuda dos pais, que pagam a faculdade.
Porém, Maria das Neves ainda não se diz satisfeita com a conquista das duas filhas e sonha com a volta do filho, André, aos estudos. “Ele é preguiçoso para estudar. Gosta de trabalhar, mas não gosta de estudar. Mas quem sabe?”, revela esperançosa. Por isso, ela sonha alto. “Meu grande sonho é ver os meus três filhos formados. Até agora, estou conseguindo formar dois. Achava que nunca ia conseguir... Mas sonhava e acreditava que daria para eles o que eu nunca tive”, conclui.