Conic - Uma igreja que acolhe os homoafetivos

A Comunidade Athos é uma igreja recente, com visão inovadora no País

Conic - Seis estúdios fazem a festa dos tatuadores

A tatuagem encontrou no Conic sua casa no Plano Piloto

Conic - O brilho das Drag Queens

Assim que Savanna Berlusconny sobe ao palco, o público da boate se aglomera para assisti-la

Postagem em destaque

Nova plataforma!

Prezadas leitoras, prezados leitores, estamos com uma nova plataforma de conteúdo, lançada em junho de 2017. As reportagens são produtos tr...

A escassez do soro e o veneno angustiante

Aumento de 74,4% dos casos de acidente com escorpião no último ano chama atenção para o baixo quantitativo de antídoto nas unidades de saúde do DF


            As capitais Brasília, Campo Grande, Cuiabá e Goiânia foram responsáveis por mais de 72% dos casos de acidentes com escorpião em toda a região centro-oeste, de 2007 a 2014. É o que aponta o estudo “Acidentes com escorpiões nas capitais brasileiras”, da Universidade Católica de Goiás (UCG), publicado em outubro de 2015. Já no Distrito Federal, segundo a Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde do DF, os atendimentos a pessoas picadas por escorpiões passaram de 524, em 2014, para 914 notificações de atendimentos, em 2015. Esse aumento corresponde a 74,4%.
           
Segundo informações da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), todas as espécies de escorpião são venenosas e esse veneno é neurotóxico, cuja ação é muito rápida e forte. Entre as mais de mil espécies descobertas, somente um pequeno número é, de fato, perigoso para as pessoas. A maioria produz uma reação parecida à ferroada da abelha, que é muito dolorosa, mas usualmente não oferece perigo de morte. A dor é intensa e se irradia por todo o corpo da vítima. A ação ocorre especialmente sobre o sistema nervoso, podendo causar a morte por asfixia, já que os comandos que controlam a respiração ficam bloqueados. De acordo com a instituição, o soro antiescorpiônico é o único remédio realmente eficaz contra as ferroadas dos escorpiões.

Peçonhento
           
Escorpiões saem dos refúgios subterrâneos e, diferentemente de outros peçonhentos como as cobras, são mais facilmente encontrados no ambiente urbano. Conforme Fabricius Domingos, pesquisador de pós-doutorado no Laboratório de Herpetologia na Universidade de Brasília (UnB), o que leva esse animal a picar outro ser é simples. “De maneira geral, todo animal que possui peçonha irá utilizá-la para se defender de possíveis predadores, e para atacar suas presas”, apontou. Ele explica que, em Brasília, o escorpião-amarelo (tityus serrulatus) é comumente encontrado em casas e apartamentos, e deve ser procurado atendimento médico caso a pessoa seja picada. Já os escorpiões pretos, no Distrito Federal, são inofensivos.

Domingos pontifica que o soro contra o veneno de animais peçonhentos trata-se de uma solução de diversas proteínas que se ligam quimicamente ao veneno, eliminando sua ação dentro do organismo. “De maneira bem simples, é como se as moléculas do soro capturassem as moléculas do veneno, inutilizando as mesmas”, destacou. Segundo o pesquisador, os soros são produzidos pelo Instituto Butantã em São Paulo e pelo Instituto Vital Brazil no Rio de Janeiro, e enviado para todo o país.

Dificuldade de assistência

Moradora de Taguatinga, Lorenna Karollinny, 20, foi picada por um escorpião quando saía do banho, em maio do ano passado. “Ele estava preso na minha toalha, caiu no meu pé e picou meu dedo”, conta. Quem prestou socorro foi o pai, que a levou aos Hospitais Santa Marta e Alvorada e nos dois receberam a mesma informação: iniciar um atendimento não iria resolver, já que não tinham antídoto e indicaram que eles procurassem um hospital público. Ao chegarem no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) se depararam com mais uma frustração: não havia médico. “Uma funcionária informou que já tinha aparecido outra menina naquele dia que também tinha sido picada, não recebeu nenhum atendimento, e foi mandada para casa como eu”, disse a jovem. Lorenna teve que entrar em contato com um médico amigo da família e foi tratada somente com anti-inflamatório. Por ter ficado sem o antídoto, a recuperação foi mais lenta e dolorosa, além do local da picada ter apresentado muito inchaço.

A filha de Andréa teve atendimento negado em dois hospitais particulares (Foto: Ana Luiza Campos)
A assessora de imprensa, Andréa Sekeff, 47, passou um sufoco com a filha que também foi picada no pé por um escorpião. Desta vez, em um restaurante no Sudoeste. Gabriela Sekeff, 22, foi sorrida por policias militares que estavam próximo ao local e a levaram para o Hospital Santa Lúcia e, em seguida, ao Santa Luzia. Nas respectivas unidades de saúde, o atendimento foi negado e funcionários indicaram que a jovem fosse levada ao Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). “Ela só conseguiu ser atendida naquele dia, à noite, no HRAN, porque ela estava dentro de um camburão”, relatou Andréa. Segundo a mãe, Gabriela sentiu muita dor no local da picada, além de ardência, tremor e, por fim, ela teve dificuldade para se articular, mal conseguia falar. Somente três horas após o antídoto ter sido ministrado, a jovem sentiu melhora.  As duas ainda passaram a noite no hospital. Um exame de sangue foi feito de após 12 horas para verificar se a situação estava normalizada, e Gabriela, então, teve alta.

O pesquisador Fabricius Domingos explica que a região picada varia de acordo com o veneno injetado, mas é esperado que a pessoa sinta dor, que a área fique sensível, e que possa ficar bem avermelhada devido à inflamação local, ou mesmo preta caso o veneno ataque o músculo. Segundo ele, caso a pessoa seja tratada rapidamente, não são esperados efeitos de longo prazo no organismo, mas a pessoa pode adquirir alergia ao veneno ou ao soro, dificultando seu tratamento caso seja picada novamente.

            A Secretaria de Saúde informou que o soro antiveneno é distribuído aos Estados pelo Ministério da Saúde e que, desde o ano passado, encaminha um quantitativo inferior do que o normal. A pasta esclareceu que atualmente a rede recebe 50 ampolas por mês no Distrito Federal, sendo que, anteriormente este quantitativo era de 150 unidades. Informaram também que todos os hospitais do DF possuem o soro, mas em quantidade reduzida. Como a maior procura dos pacientes é no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), esta unidade é a que recebe um quantitativo um pouco maior do que os demais.

Precauções

            Vários fatores provocam o desalojamento do escorpião, conforme informou a Secretaria. Como, por exemplo, o uso de inseticida; reformas estruturais, construções e acúmulo de entulho; limpeza de fossas, caixa de gordura, esgoto e bueiros; e as chuvas que provocam o alagamento dos esconderijos desses aracnídeos, trazendo-os para a superfície.

A Diretoria de Vigilância Ambiental em Saúde (Dival), da Secretaria de Saúde do DF, possui Núcleos Regionais de Vigilância Ambiental (Nurvas), com equipes de técnicos responsáveis pela realização das inspeções em toda a região. Estas acontecem perante solicitações realizadas pela população - por telefone, e-mail e documentos oficiais. As inspeções buscam identificar as condições favoráveis para o acesso e abrigo dos animais peçonhentos, recomendar medidas corretivas e capturar espécimes encontradas.

De acordo com a Secretaria, a diretoria possui ainda o Núcleo de Vigilância Entomológica e Animais Peçonhentos (Nuvep), responsável pela identificação, montagem de coleção biológica e encaminhamento de espécimes vivos para o Instituto Butantan em São Paulo para obtenção de veneno e produção de soro. Além disso, é realizada a consolidação dos dados, análise dos riscos ambientais em relação a acidentes por animais peçonhentos.

Arte: Fernanda Roza

Crime ambiental

“Matar qualquer animal silvestre - incluindo o escorpião -, é considerado crime ambiental no Brasil, então isso jamais deve ser feito”, destaca Fabricius Domingos. Ele explica que a captura é uma atividade perigosa e que não é recomendado que as pessoas tentem fazê-la devido ao risco de serem picadas. O correto ao encontrar um animal peçonhento em área doméstica é buscar socorro. No caso de escorpiões em região urbana, a Dival deve ser acionada pelo telefone (61) 3341-1900. Caso seja picada, a pessoa deve procurar atendimento médico o mais rápido possível. Outros auxílios e informações podem ser solicitados gratuitamente pelo Centro de Informação Toxicológico pelo 0800-6446-774.


Confira a versão impressa para o Jornal Esquina:



Por Ana Luiza Campos


Acampamento Fascinação

                                           Foto: Guilherme Cavalli
O acampamento Fascinação, nome que recorda a sensação dos trabalhadores ao chegarem ao local, é composto por 29 famílias sem terra. Destas, 21 são de retirantes nordestinos. No total, há 76 pessoas, 15 delas crianças. A propriedade localizada na região de Ponte Alta Sul do Gama, cidade satélite do Distrito Federal, pertence à Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal (Terracap). Em 2014, o terreno foi destinado à reforma agrária pela Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri-DF).
Para as famílias, resta apenas esperar. Por estarem em um acampamento, elas não têm acesso a energia elétrica, água potável, saneamento, que são direitos básicos. Enquanto a área não for assentada, não haverá esses serviços, conforme explica a Seagri-DF. Segundo o órgão, não existem projetos específicos para atender os acampados. Não há políticas de incentivo para aqueles que reivindicam um retrato físico da reforma agrária. Ao serem questionada pelo Jornal Esquina sobre a falta de assistência do Governo, a assessora técnica Gleide Célia Virgolino afirmou desconhecer os motivos.
Confira entrevista com a assessora técnica da Seagri - Gleide Célia Virgolino:

 


Dia a dia no acampamento
...
...

Demarcação
O processo de demarcação da terra para a efetivação de um assentamento começa com a destinação da área. A partir da regularização latifundiária por meio da definição da propriedade da terra, a titularidade e a posse de imóvel são destinadas ao processo de transformação em assentamento. Isso é o que vai definir o tipo de política a ser aplicada. A remarcação de terras é atribuída ao Incra quando detém a posse do terreno. “O órgão não tem responsabilidade sobre áreas de outros entes públicos, sejam eles Federais, Estaduais, Municipais e ou Distritais.”, esclarece Lúcio Pereira Mello, analista administrativo do Incra. Com o parecer do Instituto, o processo de remarcação é encaminhado para a Casa Civil, que avalia a aprovação para configurar o terreno como assentamento.
Confira mapa abaixo o mapa interativo de todos os acampamentos e assentamentos do DF.

 
Confira a reportagem feita para o Jornal Esquina sobre o mesmo assunto.


Por Carolina Gama e Guilherme Cavalli
Arte: Fernanda Roza

 
 
 

 

Educação para deficientes auditivos: da reabilitação à inclusão

Educação para deficientes auditivos: da reabilitação à inclusão

Instituição do DF trabalha para desenvolver a audição e a linguagem de crianças e jovens surdos


Há 40 anos, o Centro Educacional da Audição e Linguagem Ludovico Pavoni (CEAL-LP) trabalha para a evoluir a fala das crianças e dos jovens com deficiência auditiva. O diretor da instituição, o Padre Rinaldi, explica que os principais objetivos do Centro são o diagnóstico e a reabilitação precoce, além da inclusão no ensino regular.             

Confira aqui a reportagem completa.


Sistema esportivo brasileiro beneficia atletas de alto rendimento

Receber todos os benefícios de uma carreira militar, como salário, plano de saúde, férias e 13º salário é o sonho de todo atleta. Porém, esse benefício só é conquistado pelos profissionais que já atingiram o alto rendimento. Todo ano, o Ministério da Defesa investe, aproximadamente, R$ 15 milhões em salários para os atletas que participam do Programa Atletas de Alto Rendimento. Esse sistema prejudica novos atletas que, muitas vezes, poderiam alcançar o topo mas não recebem o mesmo patrocínio. Leia aqui a matéria completa.

Confira abaixo a reportagem feita para o Jornal Esquina.


Por Clara Sasse

Música clássica como ferramenta social


A Associação Cultural Música e Cidadania educa, há 9 anos, crianças por meio da música. Os fundadores do projeto, Cláudia e Valdécio Fonseca, contam que o objetivo é ensinar para as crianças, além da música, o exercício da cidadania. Anualmente, eles atendem 400 alunos de 7 a 17 anos. 
Leia aqui a reportagem on-line completa.

Confira também a matéria feita para o Jornal Esquina, no link abaixo:


Por Clara Sasse

Dores e delícias da conquista no esporte

Atletas de alto rendimento superam os limites do corpo para chegar o pódio e provar sua qualidade como profissionais

Foto: Ana Luiza Campos
Esqueça por um instante medalhas, conquistas, vitórias, a imagem de sorrisos trilhada pelo hino nacional. No pódio ou no chão suado da quadra, tem outro sentimento invisível que não está grafado no troféu: dor. Palavra pequena na escrita e gigante na memória dos atletas de alto rendimento, é ela que chega antes das competições, durante mundiais ou nos treinos, e sempre na superação de limites. O objetivo de um atleta de alto rendimento é a honra e a glória de vencer, de ser o melhor, de ser o campeão. Esses momentos de brilho e reconhecimento são, por muitas vezes, mascarados por uma dura rotina de treinamento, que a maioria das pessoas desconhece. Dentre todos esses esforços que envolvem a rotina de um atleta de ponta, fica uma questão: qual o limite do corpo de um esportista profissional? (Assista ao mini-documentário sobre o tema, ao final desta página)

“A dor e o treinamento andam juntos”, afirma Shirlene Coelho, paratleta de atletismo de 34 anos, medalhista de ouro nas últimas Olimpíadas de Londres (2012). A sobrecarga de treinamentos é rotina na vida de qualquer atleta que busca bons resultados. Por isso, é importante destacar que avaliações clínicas são primordiais para diferenciar dores de treinamentos e lesões. Para Glauber Henrique, 29 anos, atleta da seleção brasileira de natação, o dia a dia não é normal. “O atleta de alto rendimento não é uma pessoa saudável, porque ultrapassa o limite do nosso corpo todos os dias”. Ele conta que muitas vezes chega em casa, após o treinamento, chorando de dor.

Foto: Arquivo pessoal
Lesão e sensação dolorosa

“O atleta de alto rendimento é submetido a uma rotina intensa, que envolve demandas física, técnica e psicológica”, destaca Márcio Oliveira, especialista em fisioterapia esportiva e doutor em avaliação e reabilitação do aparelho locomotor no esporte. Segundo ele, tudo isso somado gera estresse, e a dor faz parte desse processo. O atleta sempre trabalha no limite. O fisioterapeuta explica que essa dor está relacionada à microlesão e quadros de fadiga que geram contratura, mas não é necessariamente uma lesão. Ou seja, no treino, o atleta busca a sobrecarga e depois a recuperação.

Segundo Márcio Oliveira, pesquisas mais atuais mostram que, no universo do alto rendimento, 40 a 80% dos atletas sentem algum tipo de dor. A modalidade do esporte e a faixa etária do atleta influenciam o diagnóstico. Porém, quando os esportistas são questionados se realmente estão lesionados, pouquíssimos afirmam que sim. “Essa grande sobrecarga física, técnica e psicológica, associada ao alto risco de lesões e à exigência do alto rendimento, faz com que a carreira desses atletas seja realmente curta”, explicou o especialista. Poucas equipes, clubes e modalidades fazem planos de aposentadoria para os atletas. Esta é uma preocupação mundial, de acordo com Márcio Oliveira. Ele relata que os grandes congressos de medicina do esporte, atualmente, têm como pauta a vida após a carreira esportiva.

Segundo o artigo “A dor entre atletas de alto rendimento”, publicado na Revista Brasileira de Psicologia do Esporte, em junho de 2010, a sensação dolorosa e a dor têm definições distintas. Escrito por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), o estudo aponta que a lesão é uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada ao dano real ou potencial dos tecidos. Já a dor é sempre subjetiva, por ser uma percepção de cada indivíduo, que por meio de experiências prévias, aprende a lidar com a situação.

Os autores têm como base a noção de que atletas treinam com regularidade e buscam objetivos específicos — como a superação dos próprios limites e tempos ou a conquista de algum resultado próprio. A dor do treinamento, segundo o estudo, é necessária às adaptações fisiológicas do corpo para se fortalecer. A dor da lesão, por outro lado, retira os atletas da rotina de treinamentos. Todos os entrevistados para a pesquisa afirmaram que essa linha é muito tênue e acaba sendo ultrapassada durante a carreira esportiva.

Resistência

Pelo fato de a dor ser considerada uma percepção, a cabeça do atleta está programada para lidar com ela. “Ele vai conseguir suportar mais ao longo do tempo e chegar mais longe”, explica o especialista em medicina do esporte e performance, Ricardo Franco. O corpo de um atleta é muito mais condicionado a se recuperar, principalmente no que se trata de musculatura.
Treinos regulares proporcionam a hipertrofia (síntese de células musculares) tecidual dos músculos, como mostra a figura abaixo. Isto é, treinamentos resistidos de alta intensidade ocasionam a síntese de proteínas contráteis (fibras musculares que exercem contração e extensão), além de recrutamento e comprometimento das células que regeneram a musculatura. É o que aponta o Núcleo de Estudos em Esporte e Ortopedia (NEO)

O médico Ricardo Franco explica que os treinamentos causam microlesões no tecido muscular. Quando são regeneradas pelo organismo, elas levam à hipertrofia do músculo. Tal situação é um resultado da adaptação muscular ao esforço, e tem a finalidade de deixar o músculo mais forte para poder suportar o desgaste em uma oportunidade futura.

Limites

Márcio Oliveira explica que atletas no limite do estresse começam a apresentar alterações dos sinais vitais, como frequência cardíaca, frequência respiratória, pressão arterial e alterações no humor, como irritação e antipatia. “Além disso, podem aparecer quadros de contraturas musculares, déficit de atenção e inflamação de alguns tecidos que, hoje, já podemos identificar por câmeras de termografia”, descreveu.

Iranildo Espíndola, 47 anos, paratleta da seleção brasileira de tênis de mesa em cadeiras de rodas e medalhista do último Panamericano em Toronto, assegura que se cobra muito. Para ele, o limite é quando não conseguir fazer mais nada, nem ao menos levantar o braço para jogar. Mas reconhece: “Preservar a nossa integridade física é o mais importante”.

Foto: Ana Luiza Campos

As situações de exaustão são perigosas para a saúde e o rendimento do atleta. De acordo com o médico Ricardo Franco, o limite do corpo significa que as fibras musculares estão trabalhando em condições extremas. É nesse momento que o corpo fica mais vulnerável a lesões. Portanto, é fundamental saber o momento de parar.

Uma equipe multidisciplinar, como a que acompanha Iranildo, é indispensável para qualquer atleta de alto rendimento. E nesses momentos de exaustão, podem ser decisivas para a integridade física do atleta. “Se depender de mim, eu vou até onde a cabeça e o braço aguentar, ainda mais se estiver em competição. Por isso é importante a intervenção deles (equipe)”, revela. Mais do que atleta realizado, Iranildo se emociona ao revelar que a vida no esporte trouxe satisfação pessoal: “O esporte me devolveu autoestima, qualidade de vida, mostrando para mim que a pessoa com deficiência também tem valor”.

Superar obstáculos

“Acho que ninguém gosta de dores — eu detesto -, mas o engraçado é que nos meus melhores resultados, nos mais importantes, eu estava com algum problema de dor e tive que superá-la”, confessou Iranildo. No mundial de 2013, ele estava com uma dor terrível na região abdominal e, posteriormente, chegou a ser operado por um problema no apêndice. Mesmo assim, competiu, chegou à final e foi campeão. Ele conta que pensou em todas as pessoas que torciam por ele. “Na hora da premiação, você chega a esquecer a dor. Logo após a competição, eu fui internado para fazer a cirurgia”, disse.

Abrir mão de momentos de entretenimento, deixar a cidade a cidade natal em busca de melhores condições de treinamento, ficar longe da família, do namorado e dos amigos para vir treinar em Brasília. Luana Lira, 20 anos, atleta da seleção brasileira de saltos ornamentais, escolheu passar por tudo isso para seguir firme no objetivo que tem: crescer no esporte e participar de competições internacionais. “Esse é meu sonho”, confessou ela. Para ela, vale a pena ser determinado, ter disciplina e cumprir os treinos. Afinal de contas, “tudo vale a pena para chegar e estar ali em cima do pódio”.

Foto: Ana Luiza Campos

Glauber, da natação, tem uma lesão grave que, às vezes, atrapalha o treinamento — uma tendinite aguda na cabeça longa do bíceps, no ombro esquerdo. Ele relata que a dor o acompanha há cerca de dez anos e, por isso, faz fisioterapia diariamente desde então. “A gente que é atleta treina com dor. Então, é sair daqui da piscina e ir direto para a fisioterapia para aliviar”, conta ele.
Atletas de alto rendimento têm que superar a dor para continuar o treinamento, de acordo com Shirlene, do atletismo. Mesmo quando está com lesão, ela procura fazer o movimento completo, “porque é lá que eu tenho que mostrar minha qualidade como profissional”. E enfatiza: “Vale a pena a dor, o treinamento, tudo para conseguir chegar a uma paralimpíada ou competição internacional”.

Prevenção

Pode-se dizer que, na década atual, a prevenção realmente se tornou realidade, especialmente no Brasil, conforme destacou o fisioterapeuta Márcio Oliveira. “Hoje fala-se e faz-se prevenção”. Ele revela que ter uma mentalidade preventiva é a melhor opção na medicina esportiva. No entanto, prevenir não é erradicar as lesões do esporte. Segundo o especialista, isso é impossível, mas existe a chance de diminuir o número de ocorrências e a gravidade das lesões. Isso é feito de maneira multidisciplinar — diagnósticos precisos das eventuais alterações, avaliação biomecânica do corpo para ver fatores que podem gerar lesões, alimentação e repouso adequados e com estratégias específicas que envolvem a correção do gesto esportivo, controle de atividade que o atleta faz e da carga de atividade.

Luana, dos saltos ornamentais, diz que o corpo dá sinais quando se aproxima da exaustão. Ela, Glauber, Iranildo e Shirlene acreditam que vale a pena, pelo esporte. Confira no mini-documentário abaixo:



Confira a reportagem na versão impressa para o Jornal Esquina: 

Por: Ana Luiza Campos

Perfis da dependência química na adolescência

Foto: Marco Gomes/Creative Commons

A adolescência é a primeira porta de entrada para determinadas experiências. Festa, barzinho e carnaval são eventos que podem significar, aos ouvidos dos pais de um adolescente, o uso de drogas. “Toda família tem alguém que é a ovelha negra, a fruta podre”. São palavras da mãe de uma dependente química, em uma reunião para pessoas na mesma condição. Palavras, estas, que ilustram a visão da sociedade sobre o viciado em drogas: uma pessoa estragada, sem conserto, marginalizada e esquecida.

Conheça duas histórias de jovens que foram vítimas dessa realidade. Uma delas é ponteada por tragédias paralelas ao uso de drogas. A outra mostra que é possível encontrar uma luz no fim do túnel: a superação. 




O aposentado José Vilmar Pereira visita o filho na prisão todas as quintas-feiras. Tudo começou quase dez anos atrás, quando o garoto passou a usar maconha. Não demorou para aparecer a curiosidade de experimentar drogas mais pesadas. A primeira internação veio antes dos 15, compulsoriamente, numa clínica onde ele passou três meses. Vilmar conta que a primeira prisão ocorreu logo após a alta. “Foi preso com 15 anos por tráfico de drogas. Ele ficou preso mais ou menos uma semana e depois ficou em liberdade assistida. Me deu muito trabalho, continuou usando drogas e andando com as mesmas companhias”, lamentou.

O menino passou ainda pela segunda internação, em uma clínica no estado de São Paulo. Permaneceu por seis meses. Parecia que as coisas tinham melhorado. Ao completar a maioridade, conseguiu um emprego e conheceu a atual esposa. “Ele terminou o Ensino Médio, fez um curso de audiovisual e ficou mais ou menos um ano sem usar drogas”, contou o pai. Contudo, Vilmar começou a perceber os primeiros sinais do tráfico. “Encontrei nas coisas dele uma balança de precisão e logo depois ele apareceu com um carro que era roubado, dizendo que era de um amigo”, relatou. Nesse período, uma denúncia o levou de volta para a prisão. Aos 18 anos de idade, ele foi condenado a 16 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas e porte de armas. “Ele está preso com 22 pessoas na cela, a comida é horrível, a cadeia é horrível. Estou tentando, por contatos, conseguir um trabalho para ele lá dentro” disse, entre lágrimas. As visitas semanais dos pais e da esposa são um apoio para o jovem.
O trabalho voluntário com pessoas na mesma situação do filho foi o que ajudou Vilmar. Há cinco anos, ele faz parte da equipe de voluntários da Associação Francisco de Assis e do Grupo Enoque. “A partir do meu sofrimento e da minha família, comecei a ver o sofrimento de outras famílias. Passo para eles a minha experiência, o que eu vivi e o que eu fiz que deu certo”, comentou. Entre os trabalhos executados, estão a distribuição de alimentos a moradores de rua na Rodoviária e a divisão de custos de internação de dependentes químicos.



A irmã da diarista Nilzete Tavares, Tábata, tinha 18 anos e tinha acabado de dar à luz quando teve o primeiro contato com drogas. Nilzete conta que 
a mudança de comportamento da irmã foi brusca e aconteceu em poucos dias. "Foi uma surpresa para mim, pois ela tinha acabado de ter filho. Eu mesma não tinha entendido o que estava acontecendo, um rapaz da rua me avisou que minha irmã estava usando e vendendo drogas", contou. Não demorou muito para a garota ter uma segunda gestação, e o uso do crack a acompanhou durante os nove meses. Nessa fase, ela era moradora de rua e usuária de cigarro, álcool e crack. "Ela chegava em casa, comia, roubava alguma coisa e ia embora", desabafou Nilzete. Tábata fez parte dos 73% dos dependentes químicos no Brasil que são poli-usuários de maconha, álcool, crack ou cocaína, segundo o LENAD Família. No Centro-Oeste, o crack corresponde a 47% das drogas ilícitas consumidas.

Depois de seis anos, a jovem decidiu fazer tratamento. Ela foi uma das mulheres recebidas pelo Centro Terapêutico Casa do Sol Azul, a única instituição que acolhe dependentes químicas entre 12 e 18 anos no Distrito Federal. Para Nilzete, o centro terapêutico foi a melhor opção. "Tábata completou todo o tratamento. Tem pouco mais de um ano que ela está totalmente limpa, sem usar nenhum tipo de droga", orgulhou-se.




Segundo o psicólogo Leonardo Cavalcante, a complexidade e quantidade de aspectos a serem abordados no vício em drogas se faz ainda maior quando se trata de adolescentes. Mas o profissional esclareceu que esta fase da vida não está necessariamente predisposta à dependência. “Ser adolescente não é uma característica determinante ao uso de drogas. Não é o fato de ser adolescente, mas o fato de ser adolescente em determinados contextos existenciais”, disse.

Confira aquiíntegra da entrevista com o psicólogo Leonardo Cavalcante, em áudio. 

A dependência química no Brasil está representada no mapa a seguir, que é interativo. Deslize o mouse por cima para saber de algumas informações regionais. Os dados que você vai ver foram obtidos no "Levantamento Nacional de Álcool e Drogas", realizado pela Unifesp e na "Pesquisa Nacional sobre o uso de Crack", da Fiocruz.






Quer saber mais sobre a dependência química na adolescência? Selecionamos cinco filmes para você entender melhor este tema. Dê uma olhada nos trailers:


1. Diário de um adolescente (The Basketball Diaries, 1995)




2. Aos Treze (Thirteen, 2003)




3. Spring Breakers: Garotas Perigosas (Spring Breakers, 2012)

















4. Kids (Kids, 1995)
















5. Cidade de Deus (Cidade de Deus, 2002)


















Confira a reportagem completa feita para o Jornal Esquina sobre o mesmo assunto.




Texto por Bruna Maury
Artes por Fernanda Roza e Bruna Maury