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Vegetarianismo durante o desenvolvimento infantil gera polêmica

Pais e nutricionistas debatem as possíveis consequências para as crianças adeptas da dieta
     
A palavra ficou popular dentro de casa. Famílias inteiras aderiram. Ser vegetariano, o que inclui abrir mão das proteínas de origem animal, pode parecer uma escolha de vida que requer muito planejamento e renúncias em uma sociedade majoritariamente onívora. Um reflexo dessa preferência foi medido pelo Google Trends, que constatou a partir das buscas feitas no site do Google: o interesse do brasileiro pelo veganismo aumentou 500% nos últimos cinco anos. Outro detalhe é que o Distrito Federal é líder no interesse pelo assunto. Seja pela atual popularidade na mídia ou por questões de saúde, o estilo de vida que, com algumas ressalvas, dispensa a proteína animal da alimentação, tem se tornado cada vez mais comum na vida do brasileiro. Mas e quando os adeptos da dieta vegetariana são crianças? Pais e nutricionistas debatem até que ponto essas limitações podem ser feitas sem prejudicar o desenvolvimento infantil. Segundo o Centro Vegetariano, as crianças podem começar essa dieta depois do primeiro ano de vida.
Lia Tavares com as filhas Luana e Maíra
Para se tornar um verdadeiro vegetariano, é preciso um pouco de esforço. Escolher um bom restaurante com preços em torno de R$ 20, ter a certeza de que os pratos estão sendo preparados da forma correta e, muitas vezes, comer apenas antes de sair ou quando já se voltou para casa são alguns dos muitos desafios enfrentados diariamente por quem prefere deixar a proteína animal de lado. 

Para pais vegetarianos como Lia Tavares, mesmo com algumas dificuldades, como garantir que os filhos comam bem e evitem alimentos industrializados, é possível manter uma dieta balanceada para os pequenos. Com 35 anos, Lia é ovolactovegetariana (vide tabela) desde 2006, dieta em que alguns alimentos de origem animal, como ovos, leite, iogurtes e queijos podem ser consumidos. Ela é mãe de Luana, de seis anos e de Maíra, de oito.

Enquanto a mais velha segue o exemplo da mãe, a mais nova opta por não seguir a mesma dieta. Luana não é vegetariana por opção e apesar de consumir carnes, é quem mais nos preocupa em termos nutricionais por não ter apreço pelas frutas e legumes. Já Maíra é ovolactovegetariana, come frutas e legumes, além do ovo e alguns derivados do leite, como manteiga e iogurte”, conta. Quanto à proteína, Lia explica que são supridos todos os dias com arroz, feijão, castanhas e amendoim.


Já Rebecca Boubli, de 29 anos, é nutricionista e mãe do David, de um ano. Apesar de não ser vegetariana, ela segue uma dieta sem proteína animal durante alguns dias da semana e frisa a necessidade da diversidade na alimentação tanto dos adultos, quanto dos pequenos. “Acredito e pratico o equilibrio. Acho importante as pessoas se atentarem ao exagero do consumo da proteína animal e à forma como ela é preparada, além dos acompanhamentos que são consumidos junto à ingestão dessa proteína em cada refeição”, conclui.

A nutricionista também ressalta que há requisição de diversos nutrientes provenientes de uma alimentação balanceada. "Uma vez que falamos de restrição alimentar, naturalmente há a possibilidade de surgirem deficiências nutricionais, como por exemplo, o ferro. Os vegetarianos tendem a comer mais carboidratos para se saciarem, mas seu alto consumo está associado a diversas doenças como diabetes e esteatose hepática”, completa.

A nutricionista Rebecca Boubli com o filho David
Equilíbrio

A pediatra Délia Bráz, 26 anos, explica que as crianças criadas numa dieta vegetariana, ainda que estejam se desenvolvendo, não sentem falta da proteína animal especificamente. "Seu corpo pode ter carência de proteína, seja ela de origem vegetal ou animal, e acabar sofrendo de desnutrição e mau desenvolvimento físico, cognitivo e estrutural." No entanto, Délia afirma que, com a oferta adequada de proteína vegetal, que contém todos os aminoácidos essenciais, não há problema. “É essencial que os pais façam acompanhamento com um nutricionista para garantir que as crianças ingiram todos os nutrientes necessários para uma alimentação balanceada e garantir a saúde dos filhos”, finaliza a pediatra.

Por outro lado, para a nutricionista Lia Ribas, 28 anos, essa dieta não é comum para a realidade do brasileiro. Ela acredita que a criança deve ser apresentada a todos os alimentos sem exclusão de nenhum grupo alimentar. A especialista ainda cita alguns dos problemas mais comuns relacionados à deficiência nutricional. “A fragilidade e perda de cabelo, linhas nas unhas, perda de peso significativa, pele escamosa e dores musculares podem ser relacionados à má alimentação. Além delas, má cicatrização de feridas e edemas, anemia e, em casos mais, sérios pode chegar até a desnutrição grave, doença conhecida como 'Marasmo', também são causadas por baixa ingestão de proteína na infância”, conta.

Contra o vegetarianismo, a nutricionista Lia Ribas com a afilhada
Dieta e saúde

A empresária Bruna Daibert, 35 anos, é mãe de Inah, seis anos. Bruna começou a dieta vegetariana aos 18, mas recentemente reintroduziu carnes brancas, como frango e peixes, na alimentação. Quando Inah tinha um ano, foi diagnosticada com intolerância à lactose. "A primeira dieta dela foi muito restrita, ela não podia comer nada do boi, carne, leite, manteiga, iogurte e até gelatina. Foi bem complicado." Bruna conta que, aos poucos, a pequena foi melhorando, e a carne foi bem tolerada na alimentação. "De lá pra cá ela segue comendo carne eventualmente. No almoço de casa vamos de frango, ovo e alguns dias sem nenhuma carne pra dar uma variada”, finaliza.

Lia Tavares afirma que as filhas Luana e Maíra, apesar de se aliemtarem com certas limitações, são meninas saudáveis e raramente ficam doentes. "Sempre que as levamos ao pediatra, saímos tranquilos com as taxas de crescimento e outras informações que nos garantem que estão crescendo com saúde”, conta. A nutricionista Rebecca reforça a importância de fazer as substituições adequadas, avaliar parâmetros bioquímicos por meio de exames de sangue para confirmar possíveis deficiências nutricionais e, por fim, respeitar a vontade da criança. "Muitas vezes o corpo 'pede' o que está sentindo falta". 

O pequeno David no Snapchat da mãe Rebecca
Veja abaixo a reportagem feita para o Jornal Esquina. 

Por Tammy Faria

Manutenção e segurança do Mané preocupam para as Olimpíadas

Arena gasta cerca de 700 mil mensais para reparos e é refúgio para algumas competições
O que começou como uma arena de copa do mundo, virou um refúgio para clubes de outros estados. Considerado um elefante branco, o estádio Nacional Mané Garrincha é um dos campos que receberá as olimpíadas em agosto deste ano. A cidade vai sediar dez jogos de futebol, sendo sete masculinos e três femininos, mais partidas que na copa do mundo de 2014. A Secretaria de Turismo gere a arena e desembolsa mensalmente 700 mil reais para a manutenção de energia, limpeza, reposição de peças, gramado, pequenos reparos, entre outros serviços, gerados pelo uso contínuo do espaço.
Mas, não são apenas problemas estruturais. Recentemente, o estádio recebeu a partida válida pela sexta rodada do Campeonato Brasileiro, entre Flamengo e Palmeiras, em que cenas de violência foram registradas. Brigas entre os torcedores das equipes marcaram a vitória do clube paulista por 2x1. Jogadores e torcedores ficaram abismados com o ocorrido. Confira o vídeo.



O estádio, que custou mais de um bilhão aos cofres públicos, é cuidado pela secretaria e por quem o aluga, seja para partidas de futebol ou shows. A segurança é questionada, pois, não é o primeiro ato violento registrado no estádio. Num jogo, também envolvendo times do eixo Rio-São Paulo, Vasco x Corinthians, a disputa também ficou marcada pela violência das duas equipes.
Apesar desses fatos ocorridos, o estádio Nacional Mané Garrincha volta a receber jogos já nesta quinta feira, dia 16 de junho, entre Fluminense x Corinthians, válida pela oitava rodada do campeonato brasileiro de futebol. Outro jogo que deve passar por cima da interdição é entre Flamengo x São Paulo, ainda neste mês.

Com isso, o Sub-secretário de Turismo, Jaime Recena, comentou um pouco sobre os atos de vandalismo e segurança do local, confira nos áudios.




Outra preocupação é sobre as condições de limpeza do estádio. Cadeiras sujas, higiene precária nos banheiros, sem contar os lanches caros e a falta de água nos bebedouros instalados nos anéis da arena. Diferentemente desse ponto de vista, Jaime Recena, comenta um pouco das condições do estádio.
“O estádio é novo, as dependências estão novas, somos muito bem avaliados pelos torcedores. Na época da copa e no passar dos tempos, também conseguimos atender todos os jogos que recebemos por aqui”. Além disso, ele comenta que o gramado realmente chegou a passar por problemas, até pela falta de cuidado, porém, atualmente todas as dificuldades já foram sanadas.
Os jogos da final do campeonato candango, entre Luziânia e Ceilândia, estiveram entre os últimos realizados na arena multiuso, nos dias 30 de abril e sete de maio. A reportagem foi ao local da partida na época e, realmente, o gramado estava em perfeitas condições. Com um acompanhamento melhor, o presidente da Associação Atlética Luziânia, Daniel Vasconcelos, contou que não tinha o que reclamar tanto por parte dos jogadores, como da torcida, que compareceu em peso nos dois jogos da decisão.
“Com relação a essa parte de limpeza, estava tudo muito limpo, cheiroso, nada para reclamar com essa parte. Cheguei a conversar com alguns torcedores, ninguém reclamou, pelo contrário, também aprovaram tudo”, comentou o presidente. Por parte do gramado, o cartola afirmou que estava impecável e as condições para um jogo, principalmente de final de campeonato, superaram as expectativas.

Foto: Rafael Duarte 
Saudades de Sydney
Contudo, as opiniões nem sempre são as mesmas. Um jogador muito experiente na capital federal tem opiniões contrárias à do presidente do azulino goiano. Baiano, volante conhecido no futebol candango, foi o primeiro a levantar um troféu no Mané Garrincha, mas, apesar disso, não tem jogado muito mais na arena. Estreado em 2013, relata que mesmo assim, existem problemas. “Joguei lá na final do Candangão de 2013, fomos campeões e o gramado e limpeza estavam impecáveis. Já nesse ano, o gramado não estava tão bom assim, a água dos vestiários continua gelada, mas, sobre limpeza, não sou apto de falar”, completou o jogador.
Além disso, sobre a questão do gramado, o jogador da equipe do Brasília Futebol Clube, que já disputou os jogos olímpicos de 2000, em Sydney, na Austrália, comenta que as arenas daquela época sempre vinham bem cuidadas e com em excelentes condições para prática esportiva.
Baiano também fala que, com essa grande leva de partidas, pode acabar chegando em baixa qualidade para a disputa dos jogos olímpicos. “Não vai chegar em perfeitas condições para as olimpíadas, vai ter ainda algumas sequências de jogos, como o Flamengo, que vai mandar muitos jogos aqui. Se fosse por mim, fecharia para chegar 100% nos jogos”.
O rubro-negro carioca já veio à capital federal para alguns jogos do campeonato estadual devido ao fechamento do Maracanã, visando justamente a questão dos jogos olímpicos. Quanto a isso, o subsecretário Jaime Recena diz que não tem preocupação, apesar de receber jogos antes e mais partidas que na copa do mundo. “A arena foi construída para isso, para receber muitos jogos. Não vai ser um problema esses jogos pré olimpíadas”, pontua o adjunto da pasta.
Por parte da torcida, conversamos com um torcedor que já foi ao estádio no mínimo duas vezes neste ano. Em uma das vezes, o analista de sistema de 21 anos, Gabriel Laurindo, frequentou a arena na semifinal da Primeira Liga, campeonato formado neste ano com times do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Fazendo um comparativo com a Copa do Mundo, Gabriel diz que o estádio precisa de algumas melhorias. "Questão de assentos está boa, não tem do que reclamar, tudo bem conservado. Já os banheiros precisam de melhorias, tinha alguns sanitários interditados e pias danificadas".
Ainda sobre a questão de manutenção do complexo, Gabriel Laurindo diz que a iluminação de dentro e fora do estádio precisa de reparos, pois na saída de jogos e eventos, a falta desse recurso pode ser um problema até mesmo para segurança. Ele comenta um pouco mais sobre as condições para os jogos olímpicos. "Ainda faltam alguns reparos, como falei anteriormente, a expectativa é que o estádio esteja em boas condições, tanto de jogo quanto para os espectadores".
Aluguel
O estádio Nacional Mané Garrincha recebe muitos jogos de diversos campeonatos. Como dito anteriormente, são gastos 700 mil mensais com a manutenção do estádio, e a Secretaria de Turismo apenas faz o gerenciamento para que ocorram eventos esportivos aqui na capital federal.
Para alugar a arena, os preços variam. Segundo a Federação de Futebol Brasiliense, o valor cobrado geralmente corresponde a 15% da renda bruta do evento, como foi acordado para os dois jogos das finais do campeonato.
Com isso, a parte de limpeza deve ser feita pelo comprador do evento. No caso da final, ficou a cargo da Federação. Os preços também variam, pois dependem de quanto da capacidade do estádio será necessária. Na parte do anel inferior, o preço do aluguel diminui para 13% da renda do evento.
A reportagem entrou em contato com a Federação e com a assessoria do Clube de Regatas Flamengo, mas não conseguimos saber o valor ou a empresa que faz o serviço de limpeza quando contratada.
RIO 2016
A capital federal vai receber dez partidas de futebol masculino e feminino nos jogos olímpicos. Brasília é uma das cidades do futebol, juntamente com Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Manaus e São Paulo.
A seleção masculina vem ao Distrito Federal para jogar contra África do Sul e Iraque, pela fase de grupos. Além disso, a partida pela medalha de bronze será disputada na capital do país.
A equipe de futebol feminino não jogará aqui no estádio Nacional Mané Garrincha, porém, três jogos da fase de grupos serão realizados aqui.
Os jogos olímpicos Rio 2016 começam no dia quatro de agosto e vão até o dia 21 do mesmo mês.




Por Victor Fernandes

Tatuadores escolhem o Conic como novo reduto da tatuagem na capital federal

Das pinceladas aos rabiscos, do clássico ao marginal, artistas tentam vencer o preconceito e marcar o brasiliense em um dos locais mais tradicionais da cidade.


O CONIC possui 12 estúdios de tatuagem atualmente
Foto: Marina Lima 
A tatuagem tem conquistado espaço ao se tornar uma forma de expressão da arte mais comum nos tempos atuais. Para os artistas da agulha, a barreira do preconceito ainda é grande, mas a busca pelo reconhecimento é necessária. O que antes era visto como marca para simbolizar o pertencimento a um determinado grupo, hoje representa homenagens, criatividade ou puramente a vontade de enfeitar a pele com um desenho. Em um dos maiores polos culturais da capital federal, o Conic, visitamos cinco estúdios de tatuagem que atendem mais de 50 brasilienses por mês. Com o amor pela arte, os tatuadores enfrentam todas as barreiras para verem suas obras “ andando pela cidade”.

Rodolfo Barral, 31 anos, nasceu em Brasília, é tatuador há sete anos e dono do próprio estúdio há dois. Mesmo com uma forte influência do desenho na sua vida, Barral nem sempre viu a tatuagem como profissão. “ Eu cheguei a parar de desenhar por um tempo, com uns 14 anos”. Quando começou a trabalhar em uma loja especializada em piercing e tatuagens, o artista começou a se reaproximar do desenho e percebeu que essa poderia ser a forma principal de sustento.

O tatuador Rodolfo Barral retocando a tatuagem do colega de trabalho
Foto: Marina Lima
Rodolfo diz que, apesar de muitas pessoas ainda não entenderem a tatuagem como forma de expressão, os desenhos muitas vezes assumem significados ou são puramente estéticos. “Acho que cabe tanto como enfeite quanto forma de expressão. Tenho tatuagens que têm um significado forte para mim. Atualmente, acredito que seja um networking da arte, porque quando vem amigos de fora pra cá, sempre deixo uma marca do trabalho deles em mim”.

A paixão artística desde pequeno é um denominador comum em vários artistas do ramo.“Não foi bem decidir virar tatuador, foi influência da arte que eu respiro”, essas foram as palavras de Luan Bites, 23 anos, que tatua há três anos e se inspira nos desenhos do dark e do realismo.“Nunca fui de brincar com as coisas comuns que qualquer moleque gostava de brincar, como bola ou pipa. Gostava de construir coisas, desenhar, montar lego, tudo mais relacionado à arte. Apesar de não saber que já significava algo assim”. Aos 18 anos, procurou saber mais sobre o trabalho e o estilo de vida que a tatuagem provocava, a fim de criar um foco pessoal na profissão que queria desempenhar.
"O processo começa a partir do estudo do desenho", diz Luan
Foto: Marina Lima

Com o crescimento da profissão, uma visão deturpada desses profissionais começou a surgir no senso comum: alguém todo rabiscado, mal encarado e com um jeito meio “malandro”. Breno Vieira, 21 anos, mostra justamente o contrário. Com personalidade tranquila, Vieira é tatuador há dois anos, mas possui apenas um desenho marcado no corpo. “Eu seleciono o que vou tatuar em mim. Eu penso muito antes de fazer, vai ficar marcado pelo resto da vida. Não é apenas fazer e acabou, mas sim estudar, entender, ver se aquilo representa algo realmente profundo. Pra mim é arte e arte precisa contar algo”.

PRECONCEITO

Numa mescla de culturas e gêneros, o lar desses profissionais é no Conic. Eles querem ser reconhecidos e ter a arte como essência fundamental no que trabalham. Vieira enxerga o local como patrimônio da cidade e berço de várias iniciativas culturais na capital. “O Conic representa muito Brasília. É e sempre foi um lugar para pessoas do ‘nosso tipo’ e não sei como não enxergam que é um lugar para todos. O grande problema é que a visão daqui é de um local para prostitutas e drogados mas, na realidade, é muito mais do que isso”.

Apesar do fundo artístico, das criações e das homenagens, a tatuagem ainda carrega uma imagem marginalizada e rotulada para um só tipo ou tribo de pessoas. Outro pensamento comum, é não entender o porque de se tatuar, levando a questionamentos sobre autoflagelação ou rebeldia. Barral contou que já se sentiu deslocado em alguns locais públicos. “Já sofri várias vezes com esse tipo de preconceito. Os olhares não me incomodam tanto, o que me deixa triste são as pessoas mal-educadas. Já sentei em um restaurante e a pessoa fazia questão de falar alto para que eu pudesse ouvir ela falando que tatuagem é coisa de bandido”.

Em alguns casos, os problemas surgem fora e dentro da própria casa. Foi o que aconteceu com Breno, que já pensou em desistir algumas vezes do talento e do amor pela arte e pelo desenho, para que não tivesse mais problemas com os pais. “Era complicado, foi um momento um pouco delicado. Meus pais não queriam que eu trabalhasse com tatuagem antes de aparecerem os frutos”.


PERFIL



“É como se fosse uma exposição”, diz tatuador

Antônio Alessandro: "Posso assustar alguns, mas minhas filhas se amarram"
Foto: Marina Lima


Antônio Alessandro, de 26 anos, carrega um perfil que pode assustar algumas pessoas. A partir do momento em que começa a conversar, mostra muita inteligência, educação e cordialidade. Pai de duas meninas, Sofia, de dois anos, e Nicole, de um ano, se mostrou protetor e coruja com as pequenas crias. Alessandro escolheu o mundo da tatuagem por ter encontrado na arte a paixão para criar. “Pra mim é tudo, é vida. Vivo disso porque gosto mesmo, é amor. É gratificante pensar que estou criando uma exposição da minha arte, pois todos que passam por aqui, carregam minhas criações. Isso é ótimo”.

Alessandro encontrou uma nova “casa” dentro do polo cultural do CONIC, não apenas pelas manifestações artísticas mas também pela cultura do skate no local. O tatuador tinha como plano B treinar para ser skatista, assim, o útil e o agradável foram encontrados na área. “Aqui é o lugar que recebe todo o tipo de pessoa né? Sempre andei por aqui, desde mais novo, atrás de vários tipos de coisa. Vinha para encontros de skatistas, comprar camisetas legais e diferentes e foi aqui que tive meus primeiros contatos com a tatuagem. Eu amo esse lugar”.

O estilo artístico de Alessandro é bem conhecido no CONIC. O tatuador faz traços bem definidos, desenhos bem detalhados e estudados, mostrando uma sensibilidade que não era imaginada. O artista busca aprimorar cada vez mais as técnicas utilizadas, pois, segundo ele, o mundo da tatuagem se renova sempre. “Temos que nos renovar sempre. Hoje existem algumas tendências mais procuradas, como o realismo. Mas procuro aprimorar meu estilo, não penso em dinheiro, é importante, mas a marca que deixarei eu acho maior”.

Entretanto, apesar da grande personalidade e das qualidades de Alessandro, a aparência que o tatuador carrega, provoca ainda algumas atitudes preconceituosas. O artista acredita que essas situações não são motivos para se manter calado e apesar de entender que alguns motivos são históricos e culturais, deixar de reagir só serve para que o assunto continue sendo visto de forma pejorativa, igual a homofobia e o machismo. “Sempre rola, quase todo dia. Hoje em dia não é qualquer coisa que mexe comigo. principalmente quando são crianças, porque entendo que é algo diferente. Mas para outros casos, responder à algumas ofensas pode mostrar muito mais sobre o que somos”.



Por Felipe Oliveira e Marina Lima





Unir forças para vencer

Empresários lucram com negócio colaborativo em meio à crise.

Em tempos de crise, ideias inovadoras são adotadas e se tornam estratégias eficientes num cenário de escassez. Exemplo disso são os negócios colaborativos, um modelo de negócio em que a principal característica é o somatório de forças de trabalho na direção de um objetivo comum. Um exemplo mais pontual desse cenário em Brasília é um espaço colaborativo aberto no fim do mês de abril, e liderado pela estilista e empresária Lili Brasil, na 315 Norte.  Ela conta que a primeira vez que teve contato com negócio colaborativo foi em São Paulo, mas que a primeira experiência de viver coletivamente foi já na capital federal. “Eu vi que era uma ideia muito viável. Que as marcas conseguiriam ter um espaço sem que cada uma tivesse que ter uma loja”, defende. 
Lili explica também que viver coletivamente não é fácil, e que é necessário cuidado ao lidar com os interesses de todos os envolvidos. Mas que apesar disso percebia que a força das pessoas era maior que os problemas que surgiam. “A gente só tem 15 dias. Mas de todas as marcas só uma não alcançou o seu investimento”, relata Lili. No caso da marca de Lúbia Do Carmo, sócia de Lili, as vendas já alcançaram o triplo do valor do investimento. “Para a gente tem sido lucrativo. A gente não lucra com a loja em si, a gente lucra com a venda das nossas peças. A loja é autossustentável”, esclarece Lúbia.   Das vantagens que o modelo colaborativo traz, Lili elenca como principal a união de forças por um único objetivo. A estilista, que lidera pela primeira vez um negócio colaborativo em um espaço fixo, também já comercializava a marca individual em uma van, por meio de um serviço de delivery. Mas a empresária percebia que os clientes pareciam resistentes em chamar o serviço e acabar não comprando. "Na loja tem essa vantagem, os clientes ficam mais à vontade, e podem conhecer diversas marcas num único espaço".
Fazer com que as pessoas se interessassem pela proposta de negócio quando ela ainda era uma ideia foi uma dificuldade do início. "Teve gente que fez o contrato um dia antes da inauguração. Precisou ver a loja pronta para acreditar. Mas hoje a gente tem uma lista de espera".
Durante a criação do plano de negócios, as empreendedoras avaliaram o risco de abrir uma empresa em meio a uma crise,  mas enxergaram no modelo uma vantagem a mais. "Uma coisa é pegar um aluguel de cinco mil reais sozinha, outra coisa é dividir isso com quinze pessoas", explica. Além do triunfo sobre as contas internas do comércio, as sócias apostam na divulgação pelas redes sociais e na promoção de eventos abertos para atrair o público."A gente pensou também que a loja, além de um espaço de venda, fosse também um espaço de compartilhar informação. Um ponto de encontro." Criaram um happy hour regular para todas as sextas-feiras, sempre com comida e bebida e uma proposta artística, na frente da loja. "Às vezes as pessoas não compram exatamente naquele dia, mas elas sempre voltam".

Lili Brasil (frente à esquerda) e Lúbia do Carmo (frente à direita) com parte da equipe de criadores.  Foto: divulgação.

Para Luana Ponto, sócia de um outro espaço colaborativo na 310 norte desde 2014, além da diversidade de produtos, muitos deles de origem candanga,  expostos num mesmo lugar, e com preço acessível,  uma grande vantagem do modelo colaborativo é a dinâmica diferenciada do estoque. “A gente não tem essa preocupação, porque os produtos não são nossos. A gente só aluga os espaços, e dá essa estrutura de loja,  mas a preocupação com o estoque, com o que vai vender, e com os preços, é das marcas”, esclarece. A sócia conta ainda que todos os meses chegam marcas novas, e que toda semana os locadores dos espaços precisam trocar os produtos. Como lado negativo, Luana fala sobre a dificuldade de trabalhar  com muitas pessoas. “É difícil e a gente não pode abrir muitas concessões, porque se abrir pra um precisa abrir para todas as outras 120 pessoas envolvidas”.
Camila Viana, sócia proprietária de um coletivo na 404 Sul, relatou que teve contato com o modelo de negócio colaborativo pela primeira vez em São Paulo, mas que em pesquisas realizadas na internet viu que era um modelo já pulverizado no exterior. A empreendedora, que pensava em abrir uma loja comum, optou por juntar esforços com marcas que só expunham em feiras pontuais durante os fins de semana. Para ela, “o espaço funciona como um  mini-shopping, durante a semana toda e no final de semana também”.
Uma das dificuldades que Camila enfrentou foi o fato do modelo ser uma novidade para os serviços profissionais necessários à abertura da empresa. “A gente foi atrás de advogado, contador, e publicitário quando foi implementar a empresa, e ninguém conhecia esse tipo de negócio. Então eles nem sabiam ajudar a gente no princípio. A gente começou totalmente do zero”.
Camila afirma que o negócio tem sido lucrativo e superado todas as expectativas. E que o público que passa a frequentar a loja, ao conhecer o funcionamento de um espaço colaborativo, fica interessado não só em comprar, mas em expor também. “Para a gente a crise praticamente não existe, a gente pega exatamente as pessoas que estão precisando de uma renda extra, e que fecharam as portas de grandes lojas, por não ter mais condição de manter”.

No espaço colaborativo de Camila Viana cada marca expõe em um box exclusivo. Foto: divulgação.

Eunice Pinheiro, jornalista de formação e proprietária de um coletivo no shopping Liberty Mall, é também estilista e dona de uma marca de sapatos há cinco anos. Ela acreditava que o Natal do ano passado dava sinais de que teria vendas baixas. Decidiu então se reunir com amigos produtores de moda de Brasília, e abrir uma loja Pop Up (Estabelecimentos varejistas que funcionam por um prazo geralmente curto e pré-determinado) para vender melhor o trabalho dos envolvidos. “Negociei um aluguel bem razoável, conseguimos pagar dois funcionários e as contas”. A loja está aberta desde dezembro, e no plano original era para ter sido fechada em janeiro deste ano. Mas o sucesso de vendas, demonstrando a aceitação do público, permitiu a renovação do contrato do aluguel até dezembro de 2016. “O que a gente paga aqui é metade do que valeria, ou menos. A crise existe, mas as pessoas pararam de comprar o comum e passaram a comprar o diferente”.
No espaço liderado por Eunice, todos têm o mesmo destaque. E para entrar no coletivo é necessário que se tenha um trabalho autoral. Ela explica que não entra no rateio do aluguel, mas participa na divisão dos valores de impostos e despesas internas. A jornalista, que deixou um cargo de confiança no Senado após 19 anos, revela que apesar de ter optado por uma vida com orçamento mais restrito, hoje vive do que rende o empreendimento. “Claro que eu não viajo mais para o exterior como eu viajava antes, mas eu estava super infeliz como jornalista, então eu resolvi optar pela minha felicidade”, confessa.

Por dentro da caixa

A boa perspectiva parece corresponder não só às expectativas dos proprietários dos espaços coletivos como também às dos expositores. Fábio Souza é dono de uma marca chamada de camisetas com temática de futebol. Ele relata que não tinha o dinheiro para abrir uma loja, e que após pesquisar na internet e conversar com amigos, abriu a marca no Natal. E apesar da pressão em alcançar a cota de vendas para não perder espaço para os candidatos à expositores na lista de espera dos coletivos em que participa, Fábio é otimista. “Está no começo. As coisas estão começando a encaminhar. As pessoas estão começando a conhecer a nossa marca”, afirma.
Ana Paula Barros cria itens de decoração em feltro há dez anos, e também procurava uma saída para os altos custos envolvidos no aluguel e na manutenção de um ponto comercial e de uma equipe de funcionários. A empresária paulista conta que já frequentava uma conhecida loja colaborativa da Rua Augusta, e que como sempre vinha para Brasília visitar a família, acabou conhecendo a franquia localizada na Asa Sul. “Fiquei morrendo de vontade de ter uma caixinha. É uma vitrine perfeita, traz novos clientes”. 

A marca de camisetas de Fábio Souza aposta também nas vendas em eventos abertos da cidade. Foto: divulgação.


Novos Caminhos

Como uma forma primordial para a saída da crise que o Brasil vive agora, o desenvolvimento de negócios colaborativos é fundamental. Sobretudo se levarmos em consideração o contexto de escassez de crédito. Está caro para as empresas financiarem seus próprios projetos. Ao se falar de negócios colaborativos, uma empresa pode desenvolver soluções para a outra. Cada vez mais vamos entender os negócios colaborativos atuando entre si, o que vai permitir o caminho da inovação criativa. Por mais que no Brasil a Inovação não seja um conceito tão disseminado entre as empresas, falando de uma forma geral, esse caminho é essencial para a saída de uma conjuntura de crise. “O crowdfunding, por exemplo,  é uma forma de você colaborar financeiramente, ou dar ideias de projeto através das plataformas. Um modelo de negócio colaborativo em grande escala que já vem funcionando”, é o que afirma o Coordenador do projeto Indústria Criativa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro - FIRJAN.

Confira abaixo a matéria feita para o Jornal Esquina.



Por Ricardo Cezar Rocha.