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Unir forças para vencer

Empresários lucram com negócio colaborativo em meio à crise.

Em tempos de crise, ideias inovadoras são adotadas e se tornam estratégias eficientes num cenário de escassez. Exemplo disso são os negócios colaborativos, um modelo de negócio em que a principal característica é o somatório de forças de trabalho na direção de um objetivo comum. Um exemplo mais pontual desse cenário em Brasília é um espaço colaborativo aberto no fim do mês de abril, e liderado pela estilista e empresária Lili Brasil, na 315 Norte.  Ela conta que a primeira vez que teve contato com negócio colaborativo foi em São Paulo, mas que a primeira experiência de viver coletivamente foi já na capital federal. “Eu vi que era uma ideia muito viável. Que as marcas conseguiriam ter um espaço sem que cada uma tivesse que ter uma loja”, defende. 
Lili explica também que viver coletivamente não é fácil, e que é necessário cuidado ao lidar com os interesses de todos os envolvidos. Mas que apesar disso percebia que a força das pessoas era maior que os problemas que surgiam. “A gente só tem 15 dias. Mas de todas as marcas só uma não alcançou o seu investimento”, relata Lili. No caso da marca de Lúbia Do Carmo, sócia de Lili, as vendas já alcançaram o triplo do valor do investimento. “Para a gente tem sido lucrativo. A gente não lucra com a loja em si, a gente lucra com a venda das nossas peças. A loja é autossustentável”, esclarece Lúbia.   Das vantagens que o modelo colaborativo traz, Lili elenca como principal a união de forças por um único objetivo. A estilista, que lidera pela primeira vez um negócio colaborativo em um espaço fixo, também já comercializava a marca individual em uma van, por meio de um serviço de delivery. Mas a empresária percebia que os clientes pareciam resistentes em chamar o serviço e acabar não comprando. "Na loja tem essa vantagem, os clientes ficam mais à vontade, e podem conhecer diversas marcas num único espaço".
Fazer com que as pessoas se interessassem pela proposta de negócio quando ela ainda era uma ideia foi uma dificuldade do início. "Teve gente que fez o contrato um dia antes da inauguração. Precisou ver a loja pronta para acreditar. Mas hoje a gente tem uma lista de espera".
Durante a criação do plano de negócios, as empreendedoras avaliaram o risco de abrir uma empresa em meio a uma crise,  mas enxergaram no modelo uma vantagem a mais. "Uma coisa é pegar um aluguel de cinco mil reais sozinha, outra coisa é dividir isso com quinze pessoas", explica. Além do triunfo sobre as contas internas do comércio, as sócias apostam na divulgação pelas redes sociais e na promoção de eventos abertos para atrair o público."A gente pensou também que a loja, além de um espaço de venda, fosse também um espaço de compartilhar informação. Um ponto de encontro." Criaram um happy hour regular para todas as sextas-feiras, sempre com comida e bebida e uma proposta artística, na frente da loja. "Às vezes as pessoas não compram exatamente naquele dia, mas elas sempre voltam".

Lili Brasil (frente à esquerda) e Lúbia do Carmo (frente à direita) com parte da equipe de criadores.  Foto: divulgação.

Para Luana Ponto, sócia de um outro espaço colaborativo na 310 norte desde 2014, além da diversidade de produtos, muitos deles de origem candanga,  expostos num mesmo lugar, e com preço acessível,  uma grande vantagem do modelo colaborativo é a dinâmica diferenciada do estoque. “A gente não tem essa preocupação, porque os produtos não são nossos. A gente só aluga os espaços, e dá essa estrutura de loja,  mas a preocupação com o estoque, com o que vai vender, e com os preços, é das marcas”, esclarece. A sócia conta ainda que todos os meses chegam marcas novas, e que toda semana os locadores dos espaços precisam trocar os produtos. Como lado negativo, Luana fala sobre a dificuldade de trabalhar  com muitas pessoas. “É difícil e a gente não pode abrir muitas concessões, porque se abrir pra um precisa abrir para todas as outras 120 pessoas envolvidas”.
Camila Viana, sócia proprietária de um coletivo na 404 Sul, relatou que teve contato com o modelo de negócio colaborativo pela primeira vez em São Paulo, mas que em pesquisas realizadas na internet viu que era um modelo já pulverizado no exterior. A empreendedora, que pensava em abrir uma loja comum, optou por juntar esforços com marcas que só expunham em feiras pontuais durante os fins de semana. Para ela, “o espaço funciona como um  mini-shopping, durante a semana toda e no final de semana também”.
Uma das dificuldades que Camila enfrentou foi o fato do modelo ser uma novidade para os serviços profissionais necessários à abertura da empresa. “A gente foi atrás de advogado, contador, e publicitário quando foi implementar a empresa, e ninguém conhecia esse tipo de negócio. Então eles nem sabiam ajudar a gente no princípio. A gente começou totalmente do zero”.
Camila afirma que o negócio tem sido lucrativo e superado todas as expectativas. E que o público que passa a frequentar a loja, ao conhecer o funcionamento de um espaço colaborativo, fica interessado não só em comprar, mas em expor também. “Para a gente a crise praticamente não existe, a gente pega exatamente as pessoas que estão precisando de uma renda extra, e que fecharam as portas de grandes lojas, por não ter mais condição de manter”.

No espaço colaborativo de Camila Viana cada marca expõe em um box exclusivo. Foto: divulgação.

Eunice Pinheiro, jornalista de formação e proprietária de um coletivo no shopping Liberty Mall, é também estilista e dona de uma marca de sapatos há cinco anos. Ela acreditava que o Natal do ano passado dava sinais de que teria vendas baixas. Decidiu então se reunir com amigos produtores de moda de Brasília, e abrir uma loja Pop Up (Estabelecimentos varejistas que funcionam por um prazo geralmente curto e pré-determinado) para vender melhor o trabalho dos envolvidos. “Negociei um aluguel bem razoável, conseguimos pagar dois funcionários e as contas”. A loja está aberta desde dezembro, e no plano original era para ter sido fechada em janeiro deste ano. Mas o sucesso de vendas, demonstrando a aceitação do público, permitiu a renovação do contrato do aluguel até dezembro de 2016. “O que a gente paga aqui é metade do que valeria, ou menos. A crise existe, mas as pessoas pararam de comprar o comum e passaram a comprar o diferente”.
No espaço liderado por Eunice, todos têm o mesmo destaque. E para entrar no coletivo é necessário que se tenha um trabalho autoral. Ela explica que não entra no rateio do aluguel, mas participa na divisão dos valores de impostos e despesas internas. A jornalista, que deixou um cargo de confiança no Senado após 19 anos, revela que apesar de ter optado por uma vida com orçamento mais restrito, hoje vive do que rende o empreendimento. “Claro que eu não viajo mais para o exterior como eu viajava antes, mas eu estava super infeliz como jornalista, então eu resolvi optar pela minha felicidade”, confessa.

Por dentro da caixa

A boa perspectiva parece corresponder não só às expectativas dos proprietários dos espaços coletivos como também às dos expositores. Fábio Souza é dono de uma marca chamada de camisetas com temática de futebol. Ele relata que não tinha o dinheiro para abrir uma loja, e que após pesquisar na internet e conversar com amigos, abriu a marca no Natal. E apesar da pressão em alcançar a cota de vendas para não perder espaço para os candidatos à expositores na lista de espera dos coletivos em que participa, Fábio é otimista. “Está no começo. As coisas estão começando a encaminhar. As pessoas estão começando a conhecer a nossa marca”, afirma.
Ana Paula Barros cria itens de decoração em feltro há dez anos, e também procurava uma saída para os altos custos envolvidos no aluguel e na manutenção de um ponto comercial e de uma equipe de funcionários. A empresária paulista conta que já frequentava uma conhecida loja colaborativa da Rua Augusta, e que como sempre vinha para Brasília visitar a família, acabou conhecendo a franquia localizada na Asa Sul. “Fiquei morrendo de vontade de ter uma caixinha. É uma vitrine perfeita, traz novos clientes”. 

A marca de camisetas de Fábio Souza aposta também nas vendas em eventos abertos da cidade. Foto: divulgação.


Novos Caminhos

Como uma forma primordial para a saída da crise que o Brasil vive agora, o desenvolvimento de negócios colaborativos é fundamental. Sobretudo se levarmos em consideração o contexto de escassez de crédito. Está caro para as empresas financiarem seus próprios projetos. Ao se falar de negócios colaborativos, uma empresa pode desenvolver soluções para a outra. Cada vez mais vamos entender os negócios colaborativos atuando entre si, o que vai permitir o caminho da inovação criativa. Por mais que no Brasil a Inovação não seja um conceito tão disseminado entre as empresas, falando de uma forma geral, esse caminho é essencial para a saída de uma conjuntura de crise. “O crowdfunding, por exemplo,  é uma forma de você colaborar financeiramente, ou dar ideias de projeto através das plataformas. Um modelo de negócio colaborativo em grande escala que já vem funcionando”, é o que afirma o Coordenador do projeto Indústria Criativa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro - FIRJAN.

Confira abaixo a matéria feita para o Jornal Esquina.



Por Ricardo Cezar Rocha.