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Brincadeira de criança?


Pesquisa da empresa IPSOS revela que 32% das crianças entre 0 e 9 anos já têm acesso à internet

Uma visão comum em ambientes públicos, como restaurantes e shoppings, são as crianças nas mesas com os olhos fixos em smartphones ou tablets. Não é difícil observar pais entregarem aparelhos aos filhos no primeiro choro. Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas apontou que, atualmente, existe em uso 1,2 dispositivo portátil por cada habitante no Brasil. Além disso, outro levantamento da empresa mundial IPSOS, 25% a 30% das mães entregam os aparelhos eletrônicos para os filhos com o objetivo de consolar a criança. No entanto, a merendeira e mãe de cinco filhos, Tatiara Freire, 30 anos, não deixa os pequenos excederem o limite que ela dá de uso desses aparelhos. “Eles vegetam dentro do quarto, não têm vida social e muito menos familiar”, explica. Ela acredita que a boa e velha conversa deve solucionar esses momentos de birras e choros dos filhos, e também vê que a utilização exagerada dessas tecnologias atrapalham a criação deles. “Se eu deixar eles no vício, como vou ensiná-los a viver em sociedade?”, questiona a mãe.
A psicóloga e especialista em terapia de família, Renata Nunes, trabalha com crianças há 14 anos e não vê a tecnologia como a vilã da história. Ela acredita que a conduta dos pais está mais relacionada aos prejuízos do que os próprios aparelhos. “Hoje os aparelhos eletrônicos têm virado um grande problema, porque os pais se utilizam disso para manter as crianças quietas, paradas”, afirma. Segundo pesquisa da empresa IPSOS, 32% das crianças entre 0 e 9 anos já têm acesso à internet.
A vida moderna é corrida, agitada. Renata comenta que os pais estão cheios de trabalho e precisam produzir cada vez mais. Para a especialista, isso pode prejudicar a vida pessoal, consequentemente, a relação com os filhos. A psicóloga ressalta a importância do contato dos pais, de escutar a criança, para que ela não se isole no mundo da tecnologia. “A causa do isolamento é emocional. É uma questão de convivência tanto com a família, quanto com a sociedade. Cada vez mais eu acredito que a relação dos pais com os filhos tem mais influência nesse isolamento do que a tecnologia”, revela.

Mundo Real
Marina Pacheco, 33 anos, é psicóloga e mãe de Helena (foto), 5. Ela conta que não incentiva a filha ao uso dessas tecnologias, mas revela que é impossível proibir tal contato completamente. “Não dá pra não deixar ela participar desse mundo novo. Deve existir um espaço para aprender com essas tecnologias, jogar, ver vídeos, fazer pesquisas, ter acesso às informações, mas não ficar só nisso. Dá pra utilizar a tecnologia sem perder o contato com os outros”, opina. Para Marina, o contato e a convivência real com outras pessoas são essenciais, por isso, ela acredita que seria incoerente da parte dela permitir que a filha utilizasse essas tecnologias excessivamente e perdesse esse contato humano que tanto valoriza.
A pequena Helena gosta de inventar brincadeiras, interpretar com bonecas, e a mãe sempre tenta entrar no mundo da filha. Além disso, incentiva o contato com a natureza e as atividades ao ar livre. “Nós fazemos parte da natureza. Tento passar para a minha filha que esse contato faz muito bem. Quase todo fim de semana fazemos programas ao ar livre”, conta. Quem concorda com Marina é a pedagoga Clara Martinho, 24 anos, mãe de Helena, 2 e Bernardo, 2 meses. Para ela, também é importante que os filhos aprendam a brincar na terra, construindo brincadeira e brinquedos. A moça acredita que a interação com o mundo à sua volta é muito importante para as crianças. “Esses aparelhos viciam e individualizam as pessoas, criam um mundo virtual de interação. Eu quero que minha filha interaja no mundo real, feito de planta, bicho e gente”, planeja


Cuidados

Uma pesquisa realizada pelo Common Sense Media, em 2012, com professores nos Estados Unidos, constatou que 71% dos educadores acreditam que a utilização dessas mídias diminui a atenção das crianças. Além disso, mais da metade dos professores classificam a escrita dos alunos como ruim e eles acreditam que isso seja por causa do vício nessas novas formas de comunicação.
A psicóloga Renata destaca que o uso excessivo desses aparelhos pode prejudicar o desenvolvimento social das crianças. “Eles ajudam alguém que já tenha uma tendência de isolamento, se afaste ainda mais da sociedade”.
Os pais têm se apoiado nas tecnologias para acabar com as pirraças das crianças, e a especialista estimula a importância de estabelecer limites. A mesma instituição de pesquisa americana constatou, em 2013, que três entre quatro crianças, entre 0 e 9 anos, têm acesso a dispositivos móveis e mais da metade dos pais baixam aplicativos específicos para os filhos. Para a psicóloga, é importante conversar e estabelecer limites para que os pequenos não se tornem viciados e passem a viver no próprio mundo virtual.
A pedagoga Fernanda Pereira, 35 anos, começou a estabelecer regras para o uso do celular com o filho Pedro Henrique (foto), 4 anos. Fernanda explica que o garoto gosta de assistir a vídeos em inglês para aprender. “Ele gosta bastante, se eu deixar ele passa o dia no celular”, conta. Pedro agora tem horários certos e um tempo limitado para utilizar o aparelho. Além disso, durante a semana, os dias de Pedro Henrique são cheios, ele passa o dia inteiro na escola e faz aulas de natação, o que não deixa muito tempo para passar no celular.
A maior dificuldade de Fernanda é tirar o celular na hora da comida, quando Pedro gosta mais de sentar e ver os vídeos. Apesar disso, Pedro não deixa de brincar com brinquedos e também usa muito da imaginação. “Ele gosta de brincar sozinho, ele vê alguma coisa e já cria um jeito”, explica. Ela acredita que os pais que decidem se a tecnologia vai influenciar de um jeito bom ou ruim. Ela vê uma influência positiva da tecnologia sobre o filho. “O Pedro é muito esperto. A gente brinca que ele é um mini adulto! O fato de ele ter acesso a esses vídeos ampliou o conhecimento dele”, explica.


Educação

A tecnologia já está presente nas escolas com os quadros interativos e a utilização de tablets nas salas de aula. A pedagoga July Angel, do Grupo de Pesquisa Processos de Desenvolvimento Humano Mediados pelas TICs-Unb, explica que a tecnologia é um recurso pedagógico que facilita o processo de aprendizagem dos estudantes. “O uso da tecnologia promove a atenção das crianças, pois se trata de um recurso que possui ferramentas que permite explorar cores, formas, posicionamento espacial, entre outras coisas, de uma forma que outros recursos, como um quadro branco, não permitem”, garante.
As crianças já estão inseridas nesse mundo tecnológico, além de ser impossível, não é saudável privá-las completamente dessas tecnologias. Porém, a pedagoga July e o grupo de pesquisa reforçam que a superexposição na primeira infância a tablets, smartphones, computadores, entre outras formas de tecnologia, pode trazer prejuízos.



No começo, Marcelo Ferreira, 36 anos, perito criminal, não deixava os dois filhos, Marcelo e Luiz, 2 anos e 1 ano, usarem o celular por causa do conteúdo inapropriado que eles podiam encontrar. “Como eu faço perícia tem muita foto disso no meu celular, então eu não deixava”, conta. O pai fica com as crianças durante o dia e conta que o dia recheado de brincadeiras e visitas ao parque. Os meninos gostam de brincar de super-herói, pintura, pega-pega, entre outras brincadeiras. “O mais velho já está ensinando o pequeno a brincar de se esconder em casa”, conta Marcelo.

Marcelo costuma levar seus filhos para
passear no parque e alimentar os patos
Marcelo se preocupa com a educação dos filhos e sabe que é impossível privar as crianças dessa influência da tecnologia durante a vida. Apesar disso, tenta utilizar a tecnologia a favor dos filhos. “Eu posso fazer uma coisa boa com a tecnologia para que eles possam se desenvolver. Alguns desenhos, programas de computador e celular são altamente educativos e interessantes”, explica. O pai acredita também que se permitisse o uso excessivo da tecnologia aos seus filhos, facilitaria sua vida agora, porém no futuro teria problemas. “Eu acho que a dificuldade que eu ia gerar ia ser maior que a facilidade que eu teria hoje”, explica.

Por Ana Luiza Noronha