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Um é pouco, dois é bom, três é melhor ainda

Poliamor é um estilo de relacionamento em que os parceiros têm liberdade para ter outros companheiros paralelamente 

Já pensou se seu amor tivesse outro relacionamento e vocês todos vivessem uma relação amigável? Essa é a ideia do poliamor e abraçada por diferentes relacionamentos, faixas etárias e orientações sexuais. Relações poliamorosas colocam em xeque a tradicional relação monogâmica. Ainda há vários paradigmas sociais a serem quebrados, e uma das primeiras perguntas que surgem quando se fala no assunto é: dá para se apaixonar por mais de uma pessoa? Não existem regras no relacionamento poliafetivo, cada casal cria as melhores formas de felicidade.

 (Divulgação JusBrasil)
                                

 O jornalista Leandro Rodrigues, 29, namora Gabriel e também ama Fernando. Embora os três não se relacionem entre si, existe muito respeito e confiança entre eles. Leandro e os dois namorados vivem uma relação concreta. Com um deles, a história dura mais de sete anos, com o outro, convive há pouco mais de um ano. Todos estão de comum acordo com essa caminhada. “Nossa maior regra é a sinceridade. No início, tínhamos combinado de falar absolutamente tudo um para o outro, mas com o passar do tempo nos demos conta que isso também é uma forma de prisão, e não é isso o que queremos, então a confiança é um dos principais fatores pra continuarmos juntos. Nós não temos nada a esconder um dos outros”.  



Há pontos negativos. “Você tem que saber que não é o único, tem que estar ciente que outras pessoas também podem fazer feliz a pessoa que você ama. Tive que abrir mão do meu orgulho e da minha vaidade para fazer dar certo”. Leandro entende que hoje em dia não seria capaz de viver em outro tipo de relação.

(Leandro ao centro, e os dois namorados, Gabriel à esquerda e Fernando à direita)
                    

Ciúmes


O poliamor rompe as barreiras das relações tradicionais. Não é indicado, por isso, a quem se considera ciumento até com olhares de admiração para alguém passando na rua ou que fica chateado e que vasculha celular em busca de mensagens suspeitas e comprometedoras. O poliamor seria um pesadelo nesses casos. Não há, nesse tipo de relação, lugar para preconceitos, complexos ou obsessões.
É isso o que explica o DJ Danillo Costa, de 25 anos. Ele já foi casado e, em meio ao relacionamento, ele e o ex-marido tentaram incluir um novo integrante três vezes. “Havia um problema recorrente com os terceiros membros. Eles queriam chegar e já ter tudo exatamente igual aos membros mais antigos da relação. Em um relacionamento normal, você leva tempo para conquistar espaço e confiança, você leva tempo para criar uma intimidade sólida e quando você entra no meio de um casal isso também acontece. Você não pode chegar e exigir o mesmo tratamento do que está lá há anos, porque muita coisa já foi trabalhada ali para chegar até aquele estágio”. Segundo ele, uma das coisas mais importantes para que isso ocorra é a maturidade emocional.


Algo bastante recorrente em uma relação a três é quando um dos parceiros só se envolve pelo fato de não querer perder uma das pessoas, mas sem vínculos mais sérios.  A artista plástica Bruna Mello, 22, também teve uma experiência poliamorosa e sabe bem o que é passar por isso. Depois de um mês namorando João*, o parceiro da época, fez a proposta de voltar com a ex-namorada Marina* em um relacionamento poliamoroso. Bruna seria a terceira pessoa da relação. Ela aceitou, mas a outra namorada de João só teria aceitado o acordo porque não queria se separar do rapaz. Após muitas discussões, João terminou o namoro com Bruna, voltando a ter uma relação monogâmica. “Crescemos numa sociedade que ensina ser possível somente uma relação a dois e heterossexual, na qual um deve se dar 100% para o outro. Acho que ninguém dentro daquela relação conseguiu entender bem as demandas individuais um do outro, e ninguém se sentia satisfeito. Havia ciúme da minha parte e de Marina, mas acredito que era fruto da insegurança que as duas sentiam dentro daquela situação.”


 Durante dois anos e meio, o produtor Bruno Antun, 28, teve uma relação poliamorosa com a ex-namorada. Nesse período, o envolvimento com outras pessoas ia além da atração sexual, pois sempre que ficavam com outras pessoas fora da relação, eles faziam questão de já terem compartilhado de certa intimidade com a terceira pessoa e, normalmente, acabava acontecendo algo entre os três, às vezes quatro, segundo o rapaz. “Muita gente acha que é uma falta de vergonha, ou falta de união do casal, mas é justamente o contrário. Tínhamos uma união muito grande, pra dividir a intimidade, o nosso corpo e o da parceira com outras pessoas tem que ter um respeito enorme. Sempre ficávamos atentos pra não forçar o outro a nada, e havia uma confiança muito grande pra fazer funcionar.” Bruno e a ex-namorada quiseram experimentar algo diferente e chegaram a decidir por um modelo de relação mais “tradicional”, sem envolverem com outras pessoas, mas com a evolução da relação eles perceberam que o relacionamento fechado não os agradou tanto e acabaram optando por um término amigável.

(Bruno Antun viveu uma relação poliamorística por dois anos e meio)


Em uniões desse tipo, o direcionamento sexual é algo muito questionado por quem está de fora, principalmente se for uma relação bissexual. Embora fossem abertamente assumidos bissexuais, Bruno sempre ouviu comentários maldosos do tipo: “como ele beijando um cara se ele namora uma garota?!” ou “aquele namoro de vocês era de verdade?”. O rapaz diz que opiniões do tipo são extremamente preconceituosas e ofensivas, afinal ninguém sabe o que se passa sentimentalmente em na vida de cada um. Apesar do término, o produtor revela que ainda existe um amor muito grande entre os dois e ambos ainda se fazem muito presentes no cotidiano do outro.

Sem direitos

Famílias poliamorosas ainda não possuem reconhecimento jurídico

Atualmente, as relações poliamorosas não possuem o mesmo reconhecimento jurídico que uma relação monogâmica (hetero ou homossexuais), como legislatura sobre herança ou divisão de bens, segundo o advogado Álvaro Cerqueira. “As relações desse tipo sofrem um efeito de marginalização jurídica, pois hoje em dia não existe nenhuma previsão legal sequer sobre esse tipo de arranjo familiar.”
Apesar dessa “marginalização jurídica”, existem casos de cartórios que registraram a união entre três pessoas no país. Uma decisão judicial permitiu que esse tipo de união fosse registrada, mas apesar disso esse tipo de união não é reconhecido institucionalmente, ou seja,  são decisões relevantes, porém não representam a opinião majoritária dos magistrados. Fonte 


Os cartórios podem se recusar a registrar esse tipo de união, já que eles não têm nenhum tipo de determinação judiciária a esse respeito, relata Álvaro. “O que existe é uma resolução do CNJ (ConselhoNacional de Justiça), que proíbe e sanciona os cartórios que não registrarem uniõeshomoafetivas, ou seja, haverá punições de acordo com a legislação que assegura esse enlace, mas nenhum cartório sofrerá punição caso se recuse a realizar uma união estável poliafetiva.” Embora os avanços sejam a passos curtos, o advogado afirma que esse tipo de discussão só é debatido no judiciário graças  ao reconhecimento das uniões estáveis entre pessoas do mesmo sexo.

Por Victor Diniz