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Maioria nos games, mulheres denunciam machismo em plataformas on-line

Mensagens misóginas e de assédio espantam público feminino do meio

Por John Matos

(Foto e edição: John Matos)
Mulheres são a maioria dos usuários de jogos, representando 52,8% do total no país, segundo dados levantados pela Pesquisa Game Brasil de 2016. Apesar do número, ainda há um receio do público feminino sobre adentrar o "universo dos jogos" – apenas 6% das jogadoras se declaram "gamer", ou seja, quem leva videogames um pouco mais a sério –, algo que se dá graças à dominância histórica dos homens dentro desse meio.

Assédio, ataques pessoais, ataques de gênero e ameaças são os tipos de agressões mais comuns enfrentadas por mulheres em plataformas de jogos on-line, segundo dados levantados pelo Jornal Esquina. A pesquisa contou com a participação de 191 mulheres com idades entre 13 e 28 anos e mostra dados alarmantes sobre o machismo em jogos: 97,4% das entrevistadas relataram já ter sofrido alguma das violências citadas; 33% relatam ameaças, como as de estupro.

Já sofreu alguma violência em jogos on-line? De que tipo?




A estudante Pâmela Martins, de 19 anos, aponta que uma das principais razões para que os ataques tenham início é o "nick" (apelido) das jogadoras. Nicks com o nome, pronomes ou palavras que remetam ao feminino podem expor o gênero de quem está por trás do computador para os agressores. “Eu sempre usei o nick feminino em jogos on-line por achar que é um direito meu, mas a mudança de nick é muito comum entre as garotas, assim como as que fingem ser homem para jogar em paz”, denuncia Pâmela.

Jenyfer Sanches, de 18 anos, reclama que o problema não é o desempenho delas na partida, mas o simples fato de serem mulheres. "Não importa se você está jogando bem, se as pessoas descobrirem que você é mulher, automaticamente você vai sofrer com comentários ofensivos, machistas e de baixo calão”, completa Nathália Akemi, jogadora profissional.

Além de agressões de gênero cliché, como "volta pra cozinha", "lugar de mulher não é jogando" e "mulher é ruim", uma das violências mais comuns é o assédio.  Assim que outros usuários notam que estão jogando com uma menina, uma enxurrada de mensagens requisitando amizade em redes sociais, números de telefone e até fotos nuas surgem. “Quando a gente recusa pedidos de chamada em Skype ou número do WhatsApp, aí partem para os ataques mais sérios”, conta Jenyfer Sanches, 18.

Para Pâmela Martins, ameaças de assédio sérias, como de estupro, são as piores. “É muito comum que os agressores falem ‘eu te estupraria’. Para uma mulher que já foi vítima de estupro, é extremamente traumatizante”.

Desestímulo

Com tantos ataques e um ambiente de diversão transformado em porta para ofensas e ameaças, é esperado que muitas mulheres se afastem dos jogos. “Fiquei mais de um ano sem jogar sequer uma partida por causa de agressão verbal”, assume Alessandra, de apenas 13 anos. “Eu tive medo. Porque eles ficam pedindo fotos, redes sociais. Quando recuso, usam uns xingamentos bem pesados”. 

Além de afastar as que jogam, a má fama dos jogadores também acaba impedindo que outras também se insiram no meio. “Já tentei trazer amigas para os jogos e elas, muitas vezes, acabam parando de jogar porque se sentem deprimidas com as atitudes machistas”, revela Pâmela.

Outro comportamento comum é o de não excluir totalmente, mas limitar a participação das garotas nos jogos, escolhendo as “funções” que elas desempenhariam mais naturalmente apenas por serem mulheres. Em jogos como o League of Legends, o mais jogado no mundo, esse papel é o de suporte, aquele personagem que tem como função auxiliar o time, não participar ativamente das partidas. “Quando eu tentava desempenhar outra função, logo era xingada por caras que diziam que ‘mulher só serve para jogar de suporte’”, destaca Sarah Martins, de 19 anos. “Esse tipo de coisa faz com que a gente se limite no jogo e fique com medo de ir além. É tanto xingamento e ofensa que quando a gente arrisca e vai mal, a gente acaba acreditando, inconscientemente, no que os caras falam. E aí desanima completamente”.

Mudanças

Com reclamações constantes e nada recentes de um suposto apoio das desenvolvedoras quanto às práticas machistas em jogos e o aumento da pressão de feministas, as empresas que criam esses jogos começam a criar medidas para atrair mais o público feminino.

Uma das principais mudanças, que vem criando críticas positivas em geral, mas provocando a ira de machistas, é a mudança nas personagens femininas, cada vez menos sexualizadas. A Riot Games, desenvolvedora do League of Legends, vem mudando o design das personagens. “Eles já estão há uns três anos sem criar personagens sexualizadas, um grande avanço”, cita Laís Figueiredo, de 17 anos. Segundo a pesquisa realizada pelo Esquina, 63% das entrevistadas acreditam que essa alteração é positiva e atrai público feminino para o meio.

Evolução da personagem Lara Croft, da série de jogos Tomb Raider. Antes com seios desproporcionais e poucas roupas, a personagem recebeu um novo visual em 2013, com roupas mais condizentes e um visual menos sexualizado. (Ubisoft / imagem - Wikipedia)
A indústria dos games é uma das que mais cresce no mundo. No Brasil, é o 12º maior mercado – o maior da América Latina – e movimenta cerca de R$ 1,3 bilhões em todas as áreas só em 2016 (dados da empresa de pesquisas voltadas para jogos Newzoo).