David Fleischer faz um balanço dos primeiros cem dias da presidente.
Por Luís Felipe Sardenberg
A tradição de fazer um balanço dos primeiros cem dias de governo é inspirada em Franklin Roosevelt. O presidente americano costumava se vangloriar de ter conseguido a aprovação de 15 projetos importantes apenas cem dias depois de tomar posse. O ano era 1933 e os Estados Unidos afundavam numa grande depressão econômica. A partir daí, todos os presidentes americanos ficaram reféns desse marco e o costume atingiu outros países presidencialistas. É o caso do Brasil, onde a presidente Dilma Rousseff chegou a montar uma equipe para estipular um plano de metas para os primeiros cem dias — completados no último dia 10 de abril. Para analisar o perfil de governo de Dilma e compará-lo com o do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, a reportagem do Esquina entrevistou o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília e um dos fundadores da ONG Transparência Brasil.
A tradição de fazer um balanço dos primeiros cem dias de governo é inspirada em Franklin Roosevelt. O presidente americano costumava se vangloriar de ter conseguido a aprovação de 15 projetos importantes apenas cem dias depois de tomar posse. O ano era 1933 e os Estados Unidos afundavam numa grande depressão econômica. A partir daí, todos os presidentes americanos ficaram reféns desse marco e o costume atingiu outros países presidencialistas. É o caso do Brasil, onde a presidente Dilma Rousseff chegou a montar uma equipe para estipular um plano de metas para os primeiros cem dias — completados no último dia 10 de abril. Para analisar o perfil de governo de Dilma e compará-lo com o do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, a reportagem do Esquina entrevistou o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília e um dos fundadores da ONG Transparência Brasil.
Ela é mais sisuda, reservada. Como teve um test drive de cinco anos na Casa Civil, sabe muito bem como a máquina federal funciona. E ela cobra essa máquina, o que Lula deixava mais para o Ministério das Relações Institucionais e a Casa Civil tocarem. A Dilma está muito mais ligada ao funcionamento do governo. Aparentemente, vai viajar menos que Lula. O governo dela conduz a parte interna e externa adequadamente. E a Dilma já se saiu bem no primeiro grande teste, com a aprovação do salário mínimo de R$ 545.
Ela se saiu bem mesmo sem propor um valor mais alto, como queriam as Centrais Sindicais?
A Dilma saiu fortalecida, porque as Centrais Sindicais recuaram da posição inicial. E, mais tarde, ela chamou as Centrais para discutir outras coisas, o que mostra uma porta aberta para elas.
Como a presidente lida com a oposição e a base aliada?
Ela tem dois grandes desafios dentro da coligação, que é lidar com o PMDB e o PT. Até agora, tem tratado a base aliada corretamente. Com a oposição, ela estendeu a mão e disse que queria dialogar. Quis mostrar [com o gesto] que a oposição também pode ter boas sugestões para políticas públicas.
O Lula se relacionava melhor com os ministros do que Dilma?
Dilma está mais preocupada com detalhes. Lula não. Ele estava preocupado com as coisas gerais. No tratamento com os ministros, ela cobra especificamente certos desempenhos deles, o que Lula não fazia.
E com a imprensa, a relação é ruim?
Não. O fato de ela não ser tagarela, não falar demais, não atrapalha o trabalho dos jornalistas. O Lula falava todo dia e, às vezes, a fala era desconexa, complicada. Por isso, a imprensa criticava muito a fala de Lula. Mas a Dilma tem uma boa relação com a imprensa.
'Lula era mais ideológico' (Daiane Souza/UnB Agência) |
Uma pesquisa do instituto Datafolha mostrou que a popularidade nos três primeiros meses de Dilma foi semelhante ao índice alcançado por Lula no mesmo período. A popularidade de Dilma não deveria ser maior por conta do melhor momento da economia? Falta carisma a ela?
Lula, com todo seu carisma, estava enfrentando um problema econômico sério e precisava apertar o cinto no início do governo. Dilma também precisou de uma medida de austeridade, cortar R$ 50 bilhões do orçamento no início do ano. Mas a situação do Brasil em 2011 é muito melhor que em 2003. Como ela carrega toda a parte positiva da sociedade e da economia dos anos finais de Lula, então sim, a popularidade dela poderia ser um pouco melhor. Mas ainda assim a popularidade dos dois é maior que a dos outros presidentes do período democrático.
É possível dizer que Dilma é mais objetiva com a política externa, enquanto Lula foi mais personalista?
Sim. Lula tendia a posições ideológicas na política externa. Com ela, não vai ser bem assim. A Dilma está deixando o funcionamento das relações internacionais a cargo do Itamaraty, sem muita imposição ou intervenção por ideologia. A política externa dela está buscando defender os interesses do Estado brasileiro. Mas, nesses primeiros cem dias, ela teve poucas chances de mostrar concretamente suas posições na política externa. Votou contra o Irã para estabelecer um relator da ONU que irá avaliar se houve violação de direitos humanos no país. Mas votou contra a intervenção na Líbia. Essas foram as únicas posições concretas. Precisamos esperar para ver outras.
O governo de Lula foi mais ou menos transparente que o de Dilma?
É mais ou menos igual. O Lula abriu a porta da transparência em 2003. Disse para a Polícia Federal "vai em frente, investiga tudo" e também para o procurador-geral da República "nada fica na gaveta, vão em cima de tudo". Idem para a Controladoria-Geral da União. Lula abriu a porta da transparência e Dilma deixa a porta aberta.