Postagem em destaque

Nova plataforma!

Prezadas leitoras, prezados leitores, estamos com uma nova plataforma de conteúdo, lançada em junho de 2017. As reportagens são produtos tr...

Agências creem em aumento de trabalhos para negros; modelos ainda reclamam

"Hoje eu vejo que tem mais espaço para modelos negros, até porque estamos aparecendo mais, assumindo a nossa identidade, e ela está chamando atenção”, afirma a ex-modelo Carla Rayssa. 


Foto: Vilmar Costa 
Ellen Farias pensa que "A mentalidade dos negros está mudando e eles estão tendo mais orgulho de se assumir".



Ellen em ensaio de um comercial (Foto: May Machado)
"Apareci em um programa de TV e acabei sendo entrevistada com meu marido. Dias depois fui chamada para ser assistente de palco em um programa local da Paraíba", assim começou a carreira da modelo Ellen Farias Pronk, 27, formada em Educação Física, que cursa mestrado em Atividade Física para a terceira idade. Desde então, a modelo fez comerciais locais, nacionais e um internacional, trabalhou como assistente de palco e já foi até apresentadora em um programa local. Carisma e beleza chamaram atenção de agências e  publicitários, Ellen tornou-se uma profissional conhecida, com experiência em TV e como modelo fashion e comercial.


No primeiro dia de Outubro, 27 candidatas disputavam o concurso que iria eleger a Miss Brasil 2016, no Citibank Hall, em São Paulo. Raíssa Santana, uma modelo negra, foi eleita aos 21 anos de idade como representante do estado do Paraná. Ela teve os melhores resultados em todas as etapas, conquistou os jurados e fãs no palco e nas redes sociais. 

A Miss Brasil 2016 Raíssa Santana recebeu elogios e apoio de vários fãs nas redes sociais. Reprodução: Instagram 
Ao todo, seis modelos negras concorriam, 25% do total de selecionadas. Para a modelo Ellen Pronk, a competição foi justa e ela sentiu orgulho por Raíssa ter vencido. Pronck destaca que a combinação de postura, interação e beleza compõem Raíssa Santana. 
"Passei por muitas no início. Uma vez chegávamos para um desfile, eu e mais outras meninas de pele clara e cabelo liso. Perguntavam em que podiam me ajudar e as outras eles mandavam para o camarim para se arrumarem. Eu dizia com toda tranquilidade: sou uma das modelos também, e eles ficavam sem graça, me pedindo desculpa", relata a modelo. Ellen acredita que existe mais espaço para modelos negros no mercado atual, não porque a mentalidade da sociedade mudou, e sim para evitar processos e revoluções. "O mercado está destacando mais etnias por conta de lutas...e não por beleza. A mentalidade dos negros está mudando e eles estão tendo mais orgulho de se assumir."  Para Farias, há uma pressão da sociedade sobre a mídia.

Modelo Ellen Farias Ensaio de "Mulher Gato", foto: Vilmar Costa
Quando Ellen obteve mais visibilidade  e boa relação profissional, produtores lhe pediam indicações.

A tirinha relata uma situação preconceituosa que a modelo presenciou.



Mais sobre a carreira de Ellen Farias:
                                                    Participação no programa Bora Simbora, em João Pessoa - Paraíba
Aproximadamente 56,2% da população do Distrito Federal é composta por negros, segundo dados do IBGE. “A presença do negro na publicidade aumentou de 3% em 1985, para 13% em 2005”, aponta uma pesquisa da USP, feita pelo professor Carlos Augusto de Miranda. A inclusão de modelos negros no mercado publicitário, inclusive no da capital federal,  não é suficiente e poderia ser maior, segundo Pedro Abelha, presidente do Sindicato dos Publicitários de Brasília. “Não aumentou no que seria um percentual correto. Mas comparado com 20 anos atrás, modelos negros têm mais espaço do que antes no mercado”, cita Abelha. Para ele, a miscigenação é um diferencial no Brasil, e negros, mulatos, índios, pardos e outras etnias merecem reconhecimento do mercado publicitário. Modelos, no entanto, admitem que a situação melhorou, mas questionam preconceitos.



Carla acredita que ser negro está virando tendência.

Foto: Arquivo pessoal de Carla Rayssa
  Ainda criança, Carla Rayssa, 21, foi convidada para fazer um curso de modelagem e etiqueta. Porém, só levou a carreira a sério aos 13 anos, quando participou de um concurso e foi selecionada para uma agência de São Paulo. "Minha carreira só se tornou ativa quando troquei de agência, em Brasília, pois eu conseguia participar mais dos encontros e entrevistas", afirma a ex-modelo. A carreira de Carla durou quatro anos. No começo, Rayssa diz ter sido complicado, pois ela era uma das únicas negras enquanto havia muitas morenas, ruivas e loiras. "Me sentia deslocada muitas vezes. Havia um preconceito indireto em relação às preferências e favoritismo. Em um casting de desfile de noivas, três negras dentre vinte meninas. Apenas dez foram escolhidas e nenhuma era negra", relata.
  Carla entende que a mídia é pressionada a mudar o estilo para atender o público-alvo. Loiras e loiros dos olhos azuis não têm sido mais o padrão, há mais oportunidade de trabalho para outras etnias. Ainda assim, ela acredita que os resultados poderiam ser melhores."Hoje eu vejo que tem mais espaço para modelos negros, até porque estamos aparecendo mais, assumindo a nossa identidade, e ela está chamando atenção, como algumas pessoas ousam dizer: ser negro está virando tendência, chama atenção, cada estilo, cada cabelo. Apesar da conscientização, não sei se aumentou, pois percebo essa diversificação em fotos. Eu gostaria de ver essa presença em diversas áreas", diz Carla.
 Atualmente Carla optou pela faculdade. Ela estuda administração e desistiu da carreira de modelo: "Hoje vejo uma mulher querendo ser modelo como um homem querendo ser jogador de futebol. Muitas pessoas com potencial mas poucas vagas".
  Carla entende que a mídia é pressionada a mudar o estilo para atender o público-alvo. Loiras e loiros dos olhos azuis não têm sido mais o padrão, há mais oportunidade de trabalho para outras etnias. Ainda assim, ela acredita que os resultados poderiam ser melhores."Hoje eu vejo que tem mais espaço para modelos negros, até porque estamos aparecendo mais, assumindo a nossa identidade, e ela está chamando atenção, como algumas pessoas ousam dizer: ser negro está virando tendência, chama atenção, cada estilo, cada cabelo. Apesar da conscientização, não sei se aumentou, pois percebo essa diversificação em fotos. Eu gostaria de ver essa presença em diversas áreas", diz Carla. Atualmente Carla optou pela faculdade. Ela estuda administração e desistiu da carreira de modelo: "Hoje vejo uma mulher querendo ser modelo como um homem querendo ser jogador de futebol. Muitas pessoas com potencial mas poucas vagas".
 




A história em quadrinhos justifica a fala de Carla: "diferente de 90% de modelos que eu conheci, sempre precisei levar minhas maquiagens pessoais (base, pó e pincéis), pois nunca tinha nada da minha tonalidade", afirma.






Fotógrafo profissional e advogado, Hay Torres, 29, já atua há mais de oito anos no mercado da fotografia publicitária, fotografia sensual e moda - Hay no estúdio de fotografia.



  Hay entende que a publicidade, independentemente de ser para campanhas públicas ou privadas, tende à diversidade em castings, não distinguindo cor de pele ou etnia. "A cada dia o empresário contratante visa atingir o povo brasileiro da forma como ele realmente é, sem estabelecer padrões europeus, que sempre foi a grande queixa nesse meio", diz. Para Torres, a justificativa de existir muitos modelos de cor branca é o fato de que há uma maior circulação de campanhas de marcas europeias. “Acontece que o povo europeu possui, em sua maioria, olhos e cabelos claros, nada mais natural que produzir a campanha com os modelos que estão ali mais pertinho dos contratantes”.   A mídia não determina um padrão de etnia e sempre absorveu modelos de toda linhagem, segundo Vanessa Lippelt, diretora em uma agência de modelos em Brasília, com nove anos de carreira. "Acontece que em alguns mercados determinados perfis funcionam melhor que outros. Cada perfil étnico será demandado de acordo com a necessidade", diz ela. Vanessa considera que o mercado publicitário, atualmente, é democrático. "As pessoas gostam de se ver representadas em campanhas publicitárias desde sempre. Se a sua etnia está retratada ali ela se identifica e isso faz parte da estratégia de marketing de qualquer campanha quando quer atingir determinado público", finaliza Lippelt.


         
                                            Estereótipos  

   Ainda há muito espaço para ser explorado no mercado publicitário com diversas etnias, inclusive negros, segundo o antropólogo Frederico Tomé. Para ele, isso vale não só para Brasília, mas para todo o país. Tomé destaca duas questões que são influentes: a ampliação do mercado publicitário nos veículos de comunicação tradicional (televisão e impresso), "novas ferramentas informacionais provenientes da convergência digital" e a segunda seria "a afirmação negra na sociedade brasileira para além de um mito da democracia racial." Contudo, há ainda no mercado publicitário uma reafirmação dos estereótipos que povoam um certo imaginário brasileiro. Em termos gerais, uma síndrome de bovarismo - querer ser o outro - contamina a publicidade e as produções audiovisuais brasileiras como um todo", completa o antropólogo.

 

            “Aumentou sim. Mas pode melhorar"                                    
                     Acompanhe alguns relatos: 

   Entramos em contato com sete agências de publicidade e propaganda situadas em Brasília-DF para buscar o ponto de vista sobre a inclusão de modelos negros no espaço publicitário. Todas afirmam que teve crescimento, porém, não tão intenso. Não foram encontrados dados que mostrem o índice no Distrito Federal, mas diretores e produtores interpretam como um progresso que poderia ser maior.



  “A propaganda brasileira há muito tempo não tinha essa preocupação de diversidade étnica. Isso mudou muito. Tem inclusive uma presença do governo federal muito grande em um país diverso como o Brasil. Há sim a preocupação que tenha mais modelos negros. O Ministério da Cultura também tem essa preocupação”. 
Fred Hudson com 20 anos de experiência no mercado publicitário. 
  “Houve aumento sim. De cinco anos pra cá. Quando há peças feitas com crianças por exemplo, pedem para que as etnias sejam mescladas, para também representar a etnia negra. A maioria do banco de fotos são estrangeiras. O cliente entende que aquilo não representa o povo brasileiro”.
           Rodrigo Bacelar, designer com 12 anos de mercado. 
 “Relativo. Depende do segmento, variedade e estilos. Os clientes têm sentido cada vez mais necessidade de colocar modelos negros. Tá na moda fazer esse tipo de inclusão”.     
        Rodrigo Cavalcante, oito anos no mercado publicitário.









                                       Bastidores da nossa matéria
...


Por Amanda Escorsin