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Apesar de onda de manifestações, jovens abrem mão do voto

Segundo dados do TSE, o país não tinha um declínio tão grande de eleitores na faixa de 16 e 17 anos desde 1992

As eleições municipais deste ano contam com 144 milhões de eleitores em condições de votar, e 2,3 milhões desse eleitorado (1,61%) têm entre 16 e 17 anos. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é a menor proporção de jovens com voto facultativo desde 1992. “Em minha opinião o cenário político brasileiro está melhorando, mas as mudanças ocorrerão a médio e longo prazo”, explicou Jaqueline Mendes, estudante de Direito e tinha 16 anos na eleição passada. “Preferi não votar em 2014 e esperar pelas próximas eleições, já que eu teria mais conhecimento e uma opinião formada”.

Total de eleitores com 16 e 17 anos, em porcentagem

De acordo com dados do TSE, a região que conta com o maior número de eleitores é o Sudeste, com 64 milhões de pessoas, sendo que 592 mil são menores de 18 anos. Na contramão desses números vem o Centro-Oeste, com o menor eleitorado, cerca de nove milhões, sendo que apenas 145 mil são jovens nessa faixa etária. “Não votei nas eleições de 2014 porque pra mim o voto não era obrigatório”, pontuou o estudante Daniel Astuti. “Hoje eu já não penso assim, inclusive me arrependo de não ter votado, porque agora eu sei a importância desse exercício de cidadania”.

A cientista política Tatiana Ribeiral disse que alguns fatores precisam ser analisados para essa queda brusca. “Há uma queda demográfica de jovens nesta faixa etária no Brasil. A população está envelhecendo. O eleitorado ficou mais velho desde o último pleito eleitoral”. A participação de eleitores de 16 a 34 anos em relação ao total caiu 7,6%, enquanto a de eleitores com 35 anos ou mais aumentou 5,4%. Apesar dessa queda devido ao envelhecimento da população, temos também outros motivos para esse declive. “De fato, há no Brasil um menor interesse dos jovens em tirar o título de eleitor e votar pela primeira vez. Somente 33% do eleitorado na faixa etária entre 16 e 17 anos tirou o título. Em relação a 2012, esse índice foi de 42%”, completou.

Enquanto a relação jovem e política formal parece abalada, o interesse geral na participação política não tem diminuído. “Hoje já sou mais antenada para as questões políticas, procuro pesquisar mais sobre o assunto e com tantas mudanças ocorrendo no governo não pude deixar de me envolver”, conta Jaqueline. Desde 2013, as manifestações e os movimentos sociais têm atraído os jovens para o debate público. “Para citarmos um exemplo, o movimento secundarista e as ações de ocupação das escolas públicas no Brasil foram crescentes desde 2013. Estas ações que se iniciaram no estado de São Paulo, atingiram dezenas de capitas pelo país”, concluiu Tatiana.

Manifestações

No dia 6 de junho de 2013, jovens se reuniram na Avenida Paulista e em vários outros cantos do país para reivindicar melhorias, e deram o pontapé inicial a uma série de protestos pelo país. “A experiência de 2013 foi bem marcante por ter sido minha primeira vez em manifestações e por ter sido um momento de muita efervescência no cenário político brasileiro”, disse Daniel, que tinha 16 anos na época. Pouco mais de três anos se passaram e, ao contrário do que todos esperavam, o cenário político brasileiro caiu no conceito dos jovens e deixou a desejar para eles. “Essa experiência também me deixou desmotivado, pois muitas pessoas compareceram por comparecer, ou por outros motivos, o que acabou enfraquecendo o movimento e fazendo com que as causas se perdessem”.

Manifestações contra a posse do presidente Michel Temer fecharam a Avenida Paulista
Foto: Eduardo Figueiredo/Mídia Ninja

A Justiça Eleitoral, em parceria com a UNE, tenta conscientizar esse eleitorado, aproveitando o momento do país, com mobilizações que conquistaram a opinião pública e debates a respeito do rumo que o Brasil está tomando. “Minhas perspectivas para a política no Brasil são bem pessimistas para ser bem sincera. Esse lance de presidente interino e impeachment são coisas novas para mim”, explicou Thais Fernandes Maciel, estudante de Letras. “Em 2014 eu tinha 16 anos, não me sentia inclusa nesse ambiente na época e achei que meu voto seria de mínima relevância”. A campanha “Se Liga 16! Conquiste mais esse título para o Brasil” foi lançada nacionalmente com a esperança de renovar a força de jovens como a Thais, que chegam em 2016 com pouca fé no cenário político nacional.

“Os partidos políticos têm discursos e formas de abordagem, em geral, pouco atrativas para a juventude”, explicou Tatiana. Temas como o empoderamento feminino e da juventude negra mostram que, independentemente dessa pouca fé nos políticos, não falta conscientização política da juventude; ao contrário disso, percebe-se uma crescente participação desse público. “A criminalização de manifestações públicas e a violenta repressão de movimentos sociais por parte das políticas militares dos estados é um problema grave no Brasil e precisa ser enfrentado”, completou a cientista política.

Paulistanos pedem a saída do presidente Michel Temer
Foto: Eduardo Figueiredo/Mídia Ninja


Obrigatoriedade do voto

A cientista política Christiane Buani acha que a prática do voto obrigatório depende do estágio de cada sociedade, do momento em que ele deve ser usado e para que fins. “O voto obrigatório trouxe vários questionamentos sobre a má utilização desse instrumento em comunidades carentes e analfabetas, quando integravam-se em práticas de patriarcalismo e coronelismo”, contou Christiane. Foi o aumento do debate político no âmbito da sociedade que mostrou o valor do voto e que permitiu ampliar o debate sobre as verdadeiras funções e modalidades.

A prática obrigatória não pode ser considerada um ato educativo, segundo Tatiana Ribeiral. “Para que pudesse ser considerada uma prática educativa, em minha opinião, o exercício do direito ao voto deveria ser atrelado à educação política não somente do jovem, mas de toda a população”, explicou a cientista política. Tatiana pensa que compreender as funções de cada cargo eletivo, ter noções mínimas de direitos e deveres constitucionais e um entendimento básico a cerca do funcionamento do Estado deveria ser um aprendizado massificado no país.

“O cidadão deveria saber seus direitos e deveres sem ter uma lei ou sanção aplicada a eles, pois a construção social vem dessa mobilização dos cidadãos”, explicou Christiane. Ela entende que o voto obrigatório pode ser uma prática de conscientização, ressaltando um debate político em áreas importantes da participação do cidadão em um momento definidor de como os representantes da sociedade serão. “A noção de suas responsabilidades, porém, pode em alguns momentos ter de ser reforçada com esses instrumentos”, finalizou.

Confira também a matéria do Jornal Esquina:



Por Pedro Amaral