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Além das Paralimpíadas

No DF, mais de mil alunos e atletas frequentam 11 centros olímpicos


Por Bruno Silveira





A cada quatro anos, milhares de pessoas se reúnem para acompanhar um evento esportivo único, que envolve diferentes histórias de superação entres atletas que passaram por várias adversidades para conquistar uma vaga e competir em sua modalidade. As pessoas rapidamente pensariam nos jogos olímpicos, mas é nas Paralimpíadas que essa descrição melhor se aplica.

Ao longo dos anos, o país foi se moldando como uma potência em esportes paralímpicos. No entanto, longe dos sazonais holofotes de TVs, atletas enfrentam todos os dias um sem-número de problemas para treinar diariamente também em prol da própria saúde. Para as pessoas que possuem algum tipo de deficiência, os obstáculos enfrentados no cotidiano transformam a vida delas em uma “paralimpíada” diária sem medalhas, sem torcida, sem hino nacional.

A participação nos jogos paralímpicos é o resultado final de um trabalho que leva anos para chegar ao resultado final. Tudo isso começa com a iniciação esportiva desde a infância, que deve avançar ao longo dos anos, acompanhando a transição entre a fase de crescimento e a fase adulta.

Contar com projetos e iniciativas é de extrema importância para a manutenção dos esportes adaptados. Em Brasília, as onze unidades dos centros olímpicos possuem atividades voltadas às pessoas com necessidades específicas. Entre 1.000 e 1.100 alunos estão matriculados, segundo levantamento feito em agosto pela Secretaria de Esportes do Distrito Federal. Apenas na unidade de Samambaia eram 144 alunos em julho.

Dentro dos centros olímpicos, segundo os coordenadores, os alunos contam com uma ampla estrutura para o desenvolvimento das atividades, com quadras poliesportivas cobertas e descobertas, ginásio, quadra de tênis, pista de atletismo, parque aquático e vestiários. Entre as modalidades oferecidas estão esportes como natação, atletismo, tênis em cadeiras de rodas, vôlei sentado, bocha, entre outras.

Ao lado dos centros olímpicos, outro incentivador dos esportes adaptados na cidade é a Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (Cetefe), uma organização não governamental que mantém parceria com o Governo do Distrito Federal, oferecendo suporte e apoio para associações e atletas deficientes. O Cetefe, além de possuir um complexo esportivo próprio, conta ainda com o apoio de parceiros que cedem espaços para treinamento de equipes e atletas, como a Enap.

INICIAÇÃO

Marco Aurélio Guedes, coordenador dos centros olímpicos da secretaria de esportes do DF, explica como é o acolhimento dos interessados em ingressar nos centros olímpicos. “Nossa metodologia é aberta. O aluno com deficiência é atendido de forma ampla, ele não entra em fila, ele tem todo o tratamento, como diz o nome, especial. Ele procura os centros e a partir daí faz toda uma avaliação funcional da sua deficiência para saber qual é a modalidade mais indicada para poder ser incluído. Para desenvolver toda essa metodologia, nós contamos com um termo de cooperação técnica feito com o Cetefe, que além de dar assessoria para a gente nessa área, capacita nossos profissionais e faz toda essa avaliação funcional e fisiológica de todas essas pessoas com deficiência”.

A organização para trabalhar os esportes com as crianças e adolescentes nos centros olímpicos se divide em estimulação básica e estimulação Global I e II. Crianças de 4 a 8 anos portadoras de necessidades especiais que estão tendo o primeiro contato com o esporte entram na primeira categoria, onde fazem um "rodízio" por todas as modalidades, para promover o desenvolvimento motor. Ao fim desse processo, a criança inicia o módulo de estimulação global I e II, que são definidos a partir do desempenho obtido no módulo anterior, levando em consideração a avaliação funcional e o esporte ao qual melhor se adaptou o aluno.

As associações também realizam um papel importante na divulgação e na continuidade de esportes adaptados, seja com equipes infantis ou com equipes adultas. Criada no início de 2012, a União dos Atletas Cegos do DF, Uniace, surgiu com o objetivo de ser uma representação para os atletas e para os esportes voltados aos cegos, como o Goalball. Leandro Moreno, presidente da Uniace, ressalta a importância da renovação no esporte. “Esse trabalho com as crianças é desenvolvido desde os 12 anos, mais ou menos, que é a época que a criança está apta a praticar os esportes, já para ir desenvolvendo as habilidades motoras. E a Uniace sempre busca atletas mais jovens para ir renovando o quadro de atletas. A gente tem equipe escolar de goalball para competir, com a galerinha de 13 a 15 anos.”

Leandro explica que todo final de ano acontece o campeonato escolar, e a Uniace busca levar os novos atletas para incentivar os jovens a tomarem gosto pelo esporte.Hoje a gente participa de campeonatos regionais e nacionais, inclusive o nosso carro chefe é o goalball, que nós somos os atuais campeões brasileiros, tetra campeão regional. A gente tem vários jogadores do goalball, que compõem ou já compuseram a seleção brasileira.”

RODAS

Quedas de atletas são comuns no Quad Rugby
O time Lobos Vermelhos representa um esporte pouco divulgado na cidade, o Quad Rugby, ou Rugby em cadeira de rodas em português. As partidas de Quad Rugby são disputadas em uma quadra com as mesmas dimensões utilizadas no basquete, com uma bola parecida com a do vôlei, diferente da tradicional bola ovalada praticada no Rugby tradicional, pois traria dificuldade de manuseio ao cadeirante. Os atletas são amarrados à cadeira nos pés, nos joelhos e no tronco para garantir mais segurança em caso de eventual queda. Nas linhas de fundo são posicionados dois cones, a uma distância de 8 metros um do outro e o grande objetivo do jogo é passar com a posse de bola por entre os cones, marcando assim o chamado “gol” do esporte. 

Cada equipe conta com quatro atletas de cada lado, que são classificados a partir do tipo, do tempo e da altura da lesão medular. A partir dos critérios analisados, o atleta ganha uma pontuação, que varia de 0,5 até 3,5. Acima disso o atleta é considerável inelegível para a modalidade, por ter muita funcionalidade e estaria jogando de uma forma “desleal” com outros atletas que tem menos função. Um ponto interessante do esporte é a formação de equipes mistas, reunindo atletas homens e mulheres no mesmo time.

O funcionário público Tiago Rodrigues começou a praticar o Quad Rugby no final de 2015, por indicação de um amigo que fazia a modalidade. Portador de uma doença degenerativa chamada Amiotrofia Muscular Espinhal, AME, ele comenta a mudança que o esporte foi capaz de promover em sua vida. “Como eu tenho uma doença degenerativa que vai progredindo, eu jogava bola até os 19 anos. Mas depois que eu fui passando para a cadeira de rodas, eu acabei utilizando somente a natação, que era o possível de fazer, mas estava meio cansativo. E buscando uma alternativa, conversei com um colega, achei interessante o que ele me apresentou e vim conhecer o Quad Rugby.”

“No aspecto social foi bastante interessante. Todo mundo agora me conhece como jogador de rugby, e isso é legal”

Tiago Rodrigues lembra que o esporte também trouxe mudanças nas relações sociais. “No aspecto social foi bastante interessante. Todo mundo agora me conhece como jogador de Rugby, e isso é legal. Essa interação com vários colegas cadeirantes, que isso eu não tinha antes. E esse reconhecimento das pessoas que me veem como atleta agora, não só como cadeirante.”

David Lobato, professor de educação física e treinador do time Lobos Vermelhos, explica como é a recepção e a adaptação dos cadeirantes que procuram o Quad Rugby. “Essa parte de ambientação com o pessoal é bem rapidinha, aqui a gente é uma grande família, estamos tá aqui para nos ajudarmos. A gente dá um toque de: ‘bota a luva assim; não usa isso, usa esse equipamento’. A gente vai dando esses toques, que ajuda muito." 

Segundo David, o desenrolar da modalidade em si depende muito de cada um, do quanto ele se dedica e do grau de lesão. "A gente nota que alguns atletas chegam aqui com bastante dificuldade de tocar a cadeira, às vezes ficou muito tempo dentro de casa, não trabalha ou tem uma vida social muito restrita dentro da família, e aos poucos eles começam a ver que outros atletas tem a mesma lesão e fazem coisas que ele não faz. E essa pessoa começa a ver que se outra pessoa faz, por que ela não pode fazer também? Mas todos eles vão caminhando devagarzinho, muito mais devagar do que atletas convencionais. Mas os pequenos ganhos que eles têm já são ganhos enormes para a vida social e para a vida independente deles.”

Nos jogos paralímpicos Rio-2016, o país estreou na modalidade, com a vaga garantida por sediar o evento. A seleção brasileira de Quad Rugby fez quatro partidas nos jogos, contra Canadá, Grã-Bretanha, França e Austrália, sendo derrotada em todas elas. A medalha de ouro ficou com os australianos, enquanto o time Brasil terminou a primeira participação em uma paralimpíada na oitava colocação da modalidade.





Confira a seleção de imagens de um treinamento da equipe Lobos Vermelhos:

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