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Brasilienses que moram nas satélites gastam tempo excessivo no trânsito

 
Percurso Brasília/ Gama em horário de pico. Foto de Noa Abe.
 
Brasília. A cidade que foi sonhada e planejada cresceu (veja pesquisa do Ipea) e hoje já sofre com os mesmos problemas enfrentados por antigas metrópoles brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo. Um deles é o transporte urbano.
 
A quantidade de carros nas ruas – em média, 37 para cada 100 pessoas – e as grandes distâncias dos percursos entre residência e trabalho fazem com que grande parte da população gaste tempo excessivo no trânsito. Estudo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre o tempo de deslocamento casa-trabalho no Brasil revela que, por ser a sede do governo federal, o Distrito Federal é um caso particular. Segundo o estudo, isso explica em parte por que o DF possui os níveis mais elevados de PIB per capita e de taxa de motorização.
 
Entretanto, para muitos brasilienses, Brasília é apenas o local de trabalho. Embora existam muitas oportunidades de emprego, sobretudo em órgãos públicos, a renda da massa de trabalhadores não é compatível com o alto padrão de vida em Brasília. Os imóveis são de altíssimo custo (confira matéria da Exame ).

 Com isso, morar em cidades satélites, que, em contrapartida, não oferecem a mesma estrutura (algumas não tem estrutura alguma) e as mesmas oportunidades, é a alternativa. É um grande paradoxo.
 
Estresse

 

Trânsito na Esplanada dos Ministérios. Foto de Noa Abe.
 
O agente de segurança judiciária Paulo Lustosa considera que o tempo gasto no percurso entre casa e trabalho afeta consideravelmente a qualidade de vida dele, pois gera estresse, desgaste e ainda compromete o descanso e o tempo disponível para a família. Ele mora no Valparaíso (em média, 43 km de BSB) e chega a gastar duas horas por dia no trânsito, isso porque utiliza o carro próprio ou o transporte disponibilizado pelo Tribunal.
 
“Gostaria de vir de carro para o trabalho, porque, pelo menos, viria sentada”, disse a atendente comercial Aline Fiungo, que mora na Santa Maria (em média, 34 km de BSB). Para chegar à empresa onde trabalha (na Asa Norte) às 8h, ela sai de casa antes das 6h e, às vezes, ainda chega depois do horário.

 
Transporte público
 

Ao contrário de Aline, há quem prefira usar o transporte público. O servidor público Alisson Bruno Dias, que mora no Gama (em média, 30 km de BSB), gosta de ler enquanto está no caminho para o trabalho. “Sou totalmente a favor do transporte público. Atualmente, considero um sacrifício devido à qualidade do serviço prestado. Mas, ainda assim, a opção pelo transporte público beneficiaria a todos, com a diminuição do tráfego. Creio que este ano o serviço melhorará com as novas empresas, regras e ônibus”, afirmou.
 
O advogado Tiago Dias costuma usar o metrô pra evitar os engarrafamentos. Morador de Águas Claras (18 km de BSB), Tiago já pensou em morar perto do trabalho, mas mudou de ideia. “Cheguei à conclusão de que haveria perda da qualidade de vida, uma vez que as habitações da área central de Brasília são pequenas e desprovidas de infraestrutura (piscina, churrasqueira, playground, grandes salões de festas etc.), geralmente encontradas em novos condomínios, como, por exemplo, em Águas Claras”, comentou.
 
Quem não trabalha, também sofre com os problemas do trânsito. João Marcos Sales estuda na Universidade de Brasília, mas mora no Gama. Ele leva entre uma hora e meia e uma hora e quarenta e cinco minutos para chegar à UnB. “Utilizo o ônibus porque é o transporte mais barato para mim, além do mais porque tenho direito ao passe livre estudantil”, afirmou. Para ele, o tempo gasto no ônibus é perdido. “Posso até estudar e ler algum livro no ônibus, mas não é um estudo de qualidade”.

Por Noa Abe - Jornal Esquina On-line