Há três anos, Francisco Ronaldo, 24
anos, vive da venda de pano de chão e saco de lixo. Seu ponto fixo é o semáforo
que fica em frente ao Tribunal Superior do Trabalho, na L4 Sul. Enquanto
servidores públicos dos três tribunais que ficam nas proximidades passam em
seus carros confortáveis, Ronaldo anda rápido debaixo do sol quente para
oferecer seus produtos. As realidades são muito distintas; contudo, o vendedor
não tem vergonha da sua, pelo contrário, até gosta. “Pra mim, tá bom aqui. Não
tenho do que reclamar”. Ouça parte da entrevista com ele. Morador de Luziânia (GO), Ronaldo faz uma “viagem” todos os dias para chegar ao ponto de vendas
Em Brasília, há uma grande distância econômica entre quem mora na capital e quem
trabalha informalmente na capital. Onde há a maior renda per capita do país,
jovens lutam para sobreviver com o pouco que recebem.
Trabalhando em torno de seis horas, Ronaldo consegue vender, em média, 75 panos por dia. Adquire cada um por R$
1,10 e revende por R$ 1,66 (seis por R$10), uma oferta bem atraente para quem
não gosta de gastar dinheiro com pano de chão. “Eu ganho em torno de R$ 800 por
mês”. Com o rendimento, que nunca é o mesmo todo mês, Ronaldo sustenta a esposa
(que não trabalha) e o filho pequeno.
. Para ele,
apesar de morar tão longe, vir para Brasília compensa, porque a demanda é bem
maior. Enquanto a maioria das pessoas que ganham até mais que Ronaldo utiliza o
transporte público, ele prefere usar o carro próprio – fato curioso. Mas, para não ficar no prejuízo, divide a
gasolina com amigos – agora está explicado.
Assim como muitos trabalhadores
informais, o vendedor já tentou trabalhar com carteira assinada. Durante um
tempo, deixou de vender no semáforo (na época, seu ponto era na quadra 514
Sul) para ser pedreiro. Não deu certo. Então, voltou à antiga atividade.
Ronaldo não concluiu o Ensino Médio;
parou no primeiro ano e não pretende voltar a estudar. Sonho profissional? Num
primeiro momento, Ronaldo afirmou que não tem nenhum. Mas pensou melhor e mudou a fala: “A gente tem, mas como não consegue, então a gente deixa de lado”.
Com ele não poderia ser diferente. É
quase impossível alguém não ter um sonho. Cada sonho é compatível com cada
realidade, mas pode não ser. Quando alguém tem um sonho “irreal”, este pode ser
somente um sonho, mas, dependendo da vontade, pode tornar-se uma realidade
inesperada.
Por Noa Abe – Jornal Esquina on-line