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Os Caminhos para a Mudança da Matriz Energética Brasileira

Paulo Stefanini
pauloepstefanini@gmail.com


Segundo especialistas, as fontes alternativas de energia apresentam expansão promissora no país, mas a matriz hidrelétrica está longe de mudar

O Brasil possui uma matriz de energia elétrica que conta com a participação de 65% da hidroeletricidade. São 82GW de energia proveniente de 190 usinas em operação, com perspectiva de aumento do uso dessa fonte, através da construção de 71 novas usinas até 2017. Diante da necessidade social do suprimento energético com adequados custos em bases técnica e ambientalmente sustentável, destaca-se a importância da participação de outras fontes renováveis na matriz energética brasileira, com preços competitivos e tecnologias que já se encontram em um nível de maturidade adequado. Ao lado da energia térmica movida a biomassa e as PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), a energia eólica é a que teve a maior expansão nos últimos anos. Fonte que mais cresceu no país em participação nos leilões desde 2009, atingiu preços bastante competitivos e impulsiona a instalação de uma indústria nacional de equipamentos para atendimento a esse mercado.

No país, o uso da energia hidrelétrica começou no final do século 19, mas as décadas de 1960 e 1970 marcaram a fase de maior investimento na construção das grandes usinas. A Usina de Itaipu, abrigada pelo país, é a maior hidrelétrica do mundo em geração de energia e tem hoje potência instalada de 14GW, com 20 unidades geradoras. A instalação de novas usinas hidrelétricas esbarra, porém, nas várias questões socioambientais e legais, como os alagamentos, a vulnerabilidade do clima, e a proibição jurídica da construção de novos reservatórios.

Devido ao aumento no consumo da energia - uma característica dos países em desenvolvimento -, e a necessidade, portanto, de uma maior geração de eletricidade, reafirma-se a importância da aplicação de fontes alternativas, como a de biomassa, a solar fotovoltaica e a eólica. É no que acredita o especialista em energia elétrica Rafael Amaral Shayani, do Departamento de Eng. Elétrica da Universidade de Brasília. De acordo com ele, a expansão da produção de energia por fontes complementares é uma tendência de países em desenvolvimento, que acompanha o crescimento no consumo. Ao mesmo tempo, se abre mão da energia fóssil (carvão, combustíveis e outros derivados do petróleo).  Segundo ele, “o Brasil tem cerca de 50% de sua matriz energética renovável, enquanto os países desenvolvidos tem cerca de 20%, o que nos obriga a construir um sistema de abastecimento sustentável”.

Microgeração
Mesmo com a matriz brasileira sendo predominantemente hidrelétrica, o país é referência em potencial eólico e líder do setor na América Latina, com geração de 2GW por meio de 94 parques de geração. Embora o Brasil ainda não possua uma indústria de equipamentos que acompanhe e ampare a aplicação em larga escala da energia no país, como afirma Rafael Shayani, os últimos anos têm criado um mercado promissor para essa fonte. “Nos recentes leilões, de cinco anos para cá, a energia eólica tem concorrido com a hidrelétrica. Tudo o que falta para a geração é incentivo do governo”. Shayani ainda admite que é impossível pensar atualmente na fonte como uma futura matriz energética, mas que bastaria a instalação de microturbinas eólicas nas novas residências para se sentir as mudanças. Ele aponta que “é necessária uma mudança de paradigmas, em que se reconheça que o ambiente já está muito afetado”, e acrescenta: “o conceito de arquitetura sustentável também tem que atentar para isso. Com a microgeração, as residências poderiam depender da eólica durante o dia, e da hidrelétrica à noite”.

Desenvolvimento

Instituído em 2004, um programa do governo federal foi criado para promover a diversificação da matriz energética brasileira, aumentando a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos concebidos com base em fontes eólicas, biomassa e PCHs. Pelo PROINFA, previa-se a implantação de 144 usinas, com a potência outorgada em 3,3GW (ou 3.299,40MW). Destas instalações, 54 seriam usinas para a geração de energia eólica, que alcançariam uma potência de 1,4GW. Naquela época, o país possuía apenas 11 parques para essa fonte complementar, número bem abaixo do observado hoje (94). O potencial dessa energia também teve um crescimento notável até os dias de hoje (2GW). Na opinião do professor doutor do Laboratório de Sistemas de Energia Elétrica da USP, José Carlos de Melo, o impulso conquistado pelo Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA) é importante, mas é atrasado pela carência de planejamento entre a geração e a transmissão da energia gerada. E ele ainda acrescenta que “a dificuldade está em encontrar investidores dispostos a incentivar a indústria nacional, pois as multinacionais dominam a fabricação dos equipamentos para essas indústrias”.

 Ainda que se fale muito na renovação do abastecimento de eletricidade brasileira, muitos especialistas consideram que as usinas hidrelétricas continuarão sendo as responsáveis pela geração segura de energia elétrica. Sobre o assunto, o doutor José Carlos de Melo acentua: “a tecnologia e os procedimentos de operação das usinas hidrelétricas estão consolidados no país, e acredito que permanecerão sendo a base da matriz energética brasileira”, e prossegue dizendo que “as fontes complementares devem continuar sendo incentivadas e aplicadas, mas, para uma economia que se espera crescer continuamente, a energia hidrelétrica ainda é a mais segura”. Ele pontua, no entanto, que é necessário um planejamento rigoroso sobre as instalações para que os impactos ambientais sejam minimizados ao máximo. Dessa forma, ele finaliza: “Acredito que possamos promover o desenvolvimento sustentável continuando a investir nas hidrelétricas”.