Postagem em destaque

Nova plataforma!

Prezadas leitoras, prezados leitores, estamos com uma nova plataforma de conteúdo, lançada em junho de 2017. As reportagens são produtos tr...

Para onde vão os deslocados da Copa?

Lucas Salomão


CRÉDITO DA FOTO: Katia Marko/Comitê Popular
Imagine o cenário. Eu um dia, você põe a mesa do jantar, assiste à novela e coloca seus filhos para dormir. No outro, um trator passa por cima de sua casa e leva consigo todos os seus sonhos e, da pior forma possível, mostra ao mundo que aquela vida construída ao longo de anos, toda a sua raiz, é esquecida porque os engravatados, poderosos, precisam mostrar para quem quiser ver que o Brasil é o país do futebol. É esta a realidade de quase 250 mil pessoas que foram ou estão sendo desapropriadas para as obras de mobilidade urbana e dos estádios da Copa do Mundo de Futebol de 2014. Nenhuma das doze cidades que sediarão os jogos escaparam desta triste realidade.

Lei da desapropriação 

CRÉDITO: Comitê Popular
De acordo com a Constituição Brasileira de 1988,  fundamenta-se, no Art. 5º, XXII, o Direito de propriedade. Porém o constituinte originário, logo em seguida, afirma que esta deverá atender à sua função social (Art. 5º, XXIII), e estabelece a previsão constitucional de desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante prévia e justa indenização, o que torna plenamente legítima a desapropriação pelo Estado pautada em lei. Porém, o processo de desapropriação traz consigo problemas que apenas causam dor de cabeça às famílias que, pelo "interesse social", devem deixar suas residências. Diversas notícias, durante as obras para a Copa do Mundo, dão conta da desinformação por parte do Estado para com as famílias: não se sabe quando e como tais deverão deixar suas casas; não se sabe como e quanto receberão de indenização, já que um estudo da área na qual está a propriedade é necessário; e o pior dos casos: as famílias deslocadas não sabem, ao certo, para onde irão após serem arrancadas de suas origens.


Veja abaixo o vídeo "Who wins this match?", produzido pela Articulação Nacional dos Comitês Populares (ANCOP), em parceria com a Conectas.  



“Para chegar a esses números (de 250 mil pessoas) somamos famílias que foram atingidas por obras – que em algum momento foram vinculadas à Copa – (algumas obras foram retiradas da Matriz de Responsabilidade da Copa e assumidas por governos estaduais e/ou prefeituras), com famílias que em algum momento foram ameaçadas de remoção”, explica Francisco de Felippo, da ANCOP, sobre os cálculos, contestados pelo poder público. “Em Natal, por exemplo, o prefeito assinou um documento se comprometendo a não remover ninguém. Mas isso veio depois de muita luta das comunidades. Se a gente colocasse que as remoções em Natal foram zero, dá a impressão de que não teve problema lá. Mas teve e a gente, junto com as comunidades, reverteu”, exemplifica. Pior do que os números, saltam aos olhos o desespero, a indignação e o desalento dos moradores diante dos métodos e da falta de diálogo do poder público.

Mídia omissa

 Não bastasse tudo o que já foi relatado, muito tem se criticado sobre a omissão dos veículos de comunicação brasileiros quanto à remoção das famílias desapropriadas. A falta de informação e o desconhecimento do problema por boa parte da população são originadas, em parte, pelo desinteresse da grande mídia em noticiar as desapropriações, já que boa parte destes veículos tem interesse em vender a Copa do Mundo como algo benéfico para a população brasileira. Em recente participação em um seminário de jornalismo esportivo em Brasília, o cientista social e jornalista, Juca Kfouri, falou sobre a chance desperdiçada pelo Brasil de fazer uma copa para os brasileiros. "Estamos fazendo uma Copa do Mundo no Brasil. E não uma Copa do Mundo do Brasil. Muita gente está sendo prejudicada e esquecida, e pouco, ou nada, se fala disso", disse em sua palestra.

Confira abaixo entrevista feita com o cientista social e  jornalista Juca Kfouri

          

Para onde vão as famílias? Desapropriadas, famílias inteiras se veem em um dilema: para onde serão mandadas? Muitas vezes, tudo aquilo que foi construído, não só os bens materiais, mas também  identidade cultural e raízes afetivas são colocados de lado pelo Poder Público. Deslocar famílias inteiras para regiões com as quais não se identificam, impondo novas experiências e forçando uma vida que não é a destas famílias, é o grande problema e o grande questionamento com os quais os "deslocados da Copa" se deparam. "E agora, para onde vamos? E tudo aquilo que construímos?".

Confira abaixo matéria dos canais de televisão ESPN sobre as desapropriações para a Copa