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Estudo revela que fracasso do time consegue afetar performance do torcedor no trabalho


Segundo a pesquisa, a irritação do futebol pode impedir o bom desempenho dos trabalhadores fanáticos

A primeira frase de “O campeão”, composta por Neguinho da Beija-Flor, já é suficiente para colocá-la entre as músicas definitivas sobre o futebol nacional: “Domingo eu vou ao Maracanã”. Afinal, todo brasileiro fanático por futebol sabe que nesse dia da semana tem transmissão de jogo. Mas se o time perder, por consequência, a segunda-feira pode virar um dia de tristeza. Pelo menos é o que alega um novo estudo desenvolvido pela Universidade de Tessalônica, na Grécia.

Os autores da pesquisa, especialistas em psicologia organizacional, convocaram 41 servidores do setor público de partes distintas do país e que torciam para diferentes times. Durante quatro semanas, os participantes deveriam acompanhar no domingo os jogos do time favorito, no estádio, na TV ou no rádio, e preencher um diário toda segunda-feira. Assim como no Brasil, domingo é o dia em que a Grécia exibe grande parte dos jogos de futebol.

Os torcedores deveriam começar o diário avaliando o desempenho do time no dia anterior, especificando se concordavam ou não com a afirmação "estou satisfeito com o resultado do meu time". Depois, era necessário definir como se sentiam pela manhã, por meio de adjetivos como entusiasmado, alerta, inspirado ou chateado, irritável e nervoso. No dia seguinte, após terminar o dia de trabalho, os participantes descreviam a performance na segunda-feira, baseados no empenho e na sensação de realização.

A conclusão foi que, quando o time tinha jogado mal no dia anterior, os participantes sentiam na segunda-feira complicações que iam desde fraqueza até falta de foco no trabalho, e voltavam para casa com a sensação de que não conseguiram cumprir as metas necessárias para aquele dia. Além disso, a questão não era só se o time ganhava ou perdia, pois quando ganhava e o torcedor avaliava mal o jogo, isso também potencializava o desânimo no início da semana.

Os pesquisadores chegaram à constatação de que os gestores que têm funcionários fanáticos por futebol deveriam levar em consideração essa variação de humor e tentar propor tarefas na segunda-feira que ajudem a distrair o empregado das preocupações futebolísticas.

Amantes do futebol

Na opinião do jornalista Gustavo Toncovitch, a derrota do time pode realmente afetar o desempenho dos apaixonados por futebol no trabalho. “Esse estudo constatou o que a gente já sabe! O torcedor vai ficar chateado, triste e não vai ter um desempenho no trabalho da mesma forma se o clube tivesse ganhado”, diz.

Desde criança, Gustavo é fã de carteirinha do clube paulistano Corinthians, mas reconhece que já foi mais devoto ao esporte. “Eu tive uma época em que era extremamente fanático. Quando o meu clube perdia ou não atuava de forma satisfatória, o rendimento no trabalho e na faculdade não era o mesmo, era bem abaixo do que eu poderia fazer”, confessa.

O corintiano Gustavo Toncovitch acredita que ver o time perder piora o desempenho do torcedor no trabalho

Outro aficionado por futebol é o assistente administrativo Deneval de Freitas Junior, que torce para o Flamengo. Todos os anos, ele compra pelo menos duas camisas oficiais do time do coração, mas diz que não chega a discutir com os colegas de trabalho sobre o desempenho dos jogadores depois das partidas.

Deneval, que já trabalhou em lugares onde os funcionários gostavam de “pegar no pé” dos torcedores derrotados no dia anterior, conta que é comum ver colegas que se irritam e ficam nervosos com as brincadeiras no ambiente profissional. “Onde eu trabalho hoje o pessoal não gosta muito de futebol, então não tem quem fique me sacaneando. Se meu time perde no domingo, eu vou trabalhar na segunda e nem lembro do jogo porque não tem ninguém para ficar me lembrando”, comenta.

Deneval Junior encara as brincadeiras com tranquilidade, mas diz que alguns colegas não gostam das piadas

Gestores atentos

O empresário Giulianno Passani é sócio de uma empresa que comercializa filtros purificadores de água no Distrito Federal. Atualmente, o negócio conta com quatro prestadores de serviço, que frequentemente comentam sobre jogos de futebol quando estão no escritório. Passani, que torce para o Vasco da Gama, admite que as gozações entre os colegas são inevitáveis.

Apesar das chacotas, o vascaíno sempre tenta manter o ambiente de trabalho respeitoso dentro da firma. “Quando a gente percebe que tem uma coisa que passa do ponto, não só em relação ao futebol, e vê que a brincadeira é uma coisa desagregadora, que atrapalha, conversamos em off para tentar dar uma equilibrada. Essa questão de trabalhar em um ambiente ruim nunca é legal”, adverte.

O empresário Giulianno Passani com os sócios Paulo Henrique Azevedo e Gustavo Suzuki

Com mais de 8 anos de experiência trabalhando com Recursos Humanos, a analista de capital humano da TV Globo de Brasília, Rachel Ribeiro, avalia que alguns funcionários ficam realmente abalados quando o assunto é futebol. “Tem gente que fica muito chateada e outros que se aproveitam da chateação alheia para ficar provocando mesmo. Você sabe que a pessoa se aborrece”, diz.

Para a analista, apesar de lidar com uma população majoritariamente masculina, o futebol não chega a interferir tanto na performance dos funcionários porque o ofício de uma emissora de televisão funciona dentro de um mercado fora do padrão. Ela avalia que, nas atividades de escritório, “talvez fosse observável alguma coisa semelhante, mas lá no operacional do nosso produto final eu acho difícil, porque envolve muita tensão, muita adrenalina”.

Rachel defende que, na companhia que trabalha atualmente, “não há muito espaço para isso”. “A pessoa bem ou mal tem que desempenhar bem porque tem uma entrega para fazer e eles (empregados) são muito engajados nessa entrega... só quando é alguma coisa muito séria que a pessoa às vezes não vem ou tem uma influência na atividade que caracteriza o que essa pesquisa falou”, alega.

O difícil vai ser, por mais que a ciência comprove, que essa desculpa vá convencer algum chefe na segunda-feira de manhã.

Por César Raizer