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Homens estão menos resistentes ao exame de toque

Facilidade de acesso a informação torna o procedimento mais importante e menos amedrontador



No mês de novembro, surgiu na mídia o retorno da campanha de prevenção ao câncer de próstata. Agendado, o tema retorna e mexe com a cabeça de homens que não procuram prevenção. Diferentemente das mulheres, eles costumam ser criticados por urologistas porque não cultivam o hábito de se cuidar. Um tabu que envolve essa doença especificamente é que o exame é feito pelo toque retal, o que, em um país machista como o Brasil, é associado a brincadeiras homofóbicas. Fato é que para não transparecer fraqueza, os homens procuram menos atendimentos médicos, conforme levantamentos da própria Organização Mundial da Saúde. No entanto, a novidade nos consultórios é que essa história pode estar em transformação.

O psicólogo Luiz Flávio Mendes explica que o homem costuma se abalar muito com qualquer doença, nele ou em familiares e amigos. O diagnóstico de câncer assusta as pessoas, pois por muito tempo foi uma doença com taxa de cura pequena. “Hoje, felizmente, a realidade é outra, devido ao diagnóstico rápido, ao tratamento com início imediato e com a evolução da tecnologia”, conta. Os medos e receios tendem a diminuir quando o paciente tem uma boa rede de apoio. “A maioria já encara o toque como um exame importante. É bom notar que as esposas têm contribuído para que os homens vejam o toque como rotina necessária”, ressalta o urologista Ernando Pinheiro.

 “A masculinidade não tem nada a ver com a verificação de saúde”, afirma o jornalista John Kennedy, 51 anos. O exame dura de 5 a 7 segundos e pode evitar problemas para uma vida inteira. “O câncer de próstata tem um padrão muito diferente dos outros tipos. Ele não é, a princípio, tão agressivo”, pontuou o urologista Rogério Vitiver, que tem 20 anos de profissão. Ele considera que o comportamento do paciente se alterou nas últimas duas décadas.

Os dias de hoje contribuem com a conscientização masculina, e esse excesso de informação tem facilitado bastante para os homens fazerem os exames. O cuidado com a saúde supera qualquer tipo de preconceito ou tabu. “Não é problema para mim. Encaro uma consulta médica como qualquer outra, para prevenir problemas mais graves”, conta John Kennedy.

Um Antígeno Prostático Específico (PSA) – exame de sangue usado para diagnosticar o câncer de próstata precoce é recomendado pelos médicos para a população geral a partir dos 50 anos, Caso exista alguma alteração, o paciente é indicado a fazer um exame de toque. “Se nessa idade o PSA for realmente baixo, as chances de desenvolver câncer de próstata no futuro são muito menores”, esclarece o urologista Rogério Vitiver. De acordo com histórico da doença na família, é prudente que se faça o exame a partir dos 40. 

Brasília incentiva a campanha Novembro Azul iluminando momumentos (Foto: Valter Campanato / Agência Brasil)

Ao contrário das mulheres, que desde cedo estão acostumadas a visitas rotineiras ao médico, os homens ainda apresentam alguma resistência quando o assunto é a realização de exames. “A maior preocupação é de ter algum problema mais complicado. O câncer com certeza é temido, mas eu prefiro evitar esse procedimento, conta José Silva*. Especialistas alertam que é preciso monitorar de perto os pacientes diagnosticados com qualquer tipo de câncer. Os recém-diagnosticados estão mais vulneráveis ao quadro de depressão clínica, e o atendimento psicológico é necessário para um melhor desempenho no tratamento da doença.

De acordo com a psicóloga Lia Clerot, os homens, por questões culturais e também biológicas, tendem a ficar receosos em situações que possam ameaçar a masculinidade. Questões de saúde atreladas ao sistema reprodutor masculino são tratadas, muitas vezes, com medo e permeadas de dúvidas por pura desinformação. “Enquanto as mulheres tendem a ser muito mais cautelosas com a saúde, em consultas periódicas, eles preferem protelar ao máximo”, explica.  Outra questão pontuada pela psicóloga é o exame de toque, causando inquietação nos pacientes, que ficam com medo de sentir dor ou mesmo sentirem-se violados.

DOENÇA

A próstata é uma glândula que tem em torno de 20 a 30 gramas, do tamanho de um limão taiti, segundo o médico Rogério Vitiver. O órgão fica entre a bexiga e o pênis, e a urina passa por dentro dele, que não tem nenhuma associação com o reto, como a maioria das pessoas confunde. “A gente usa o toque retal porque ela fica próxima ao reto. Pelo toque conseguimos sentir a próstata”, diz. A glândula é responsável por produzir cerca de 30% do sêmen.

De acordo com o especialista, ninguém sabe exatamente a causa do câncer de próstata. Uma associação genética implica que, se já existem casos na família com doença antes dos 70 anos, o risco da pessoa de ter o câncer é quatro vezes maior que o da população geral. “Se existirem dois parentes de primeiro grau, esse risco pula de nove a treze vezes mais que a população geral”, explica Rogério.

A doença é um tumor que, na maioria dos casos, tem um crescimento muito lento. Em geral leva 5 anos do diagnóstico até haver metástase, diferentemente dos outros cânceres, que podem levar ao óbito de 6 meses a 1 ano. “O diagnóstico precoce é fundamental no tratamento. Nessa fase da doença existem boas possibilidades de cura”, garante o médico Eraldo Pinheiro.


Dados do Instituto Nacional do Câncer no Distrito Federal (Arte: Pedro Amaral)


Apesar do câncer de próstata não ser tão agressivo quanto os outros, ele ainda é uma grande preocupação. A campanha de conscientização Novembro Azul, com ênfase, principalmente, na prevenção do câncer de próstata, é destaque nessa época do ano. De acordo com dados de 2014 do Instituto Nacional do Câncer (INCA), esse tumor é o segundo que mais mata no Brasil, atrás apenas do câncer de pulmões. No Centro-Oeste, com 1.069 mortes, segundo o último levantamento, o câncer de próstata é o que mais mata na região. “A consequência é a possibilidade de emitir metástases para outros órgãos, mais frequente para os ossos de qualquer parte do corpo”.

*Nome fictício, personagem preferiu não se identificar.


Por Pedro Amaral e Rafael Vasconcellos