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Tabu vermelho: o ciclo da vida feminina

Coletor menstrual é opção para mulheres que não podem utilizar absorventes externos ou internos

"Vá com o fluxo" (Foto: Pixabay)
O assunto é atual, mas a história já é antiga: segundo o The Museum of Menstruation and Women’s Health (Museu de Menstruação e Saúde da Mulher), o coletor menstrual começou a ser produzido industrialmente na década de 1930. Ele era feito de borracha vulcanizada, mas há registros desse objeto na forma mais rudimentar, datada de 1867.

Alcançou o sucesso no lançamento, mas o coletor tornou-se tabu entre as mulheres, devido a questões culturais que envolviam – e ainda envolvem - os órgãos genitais femininos. Mais de um século depois, em 1987, uma fábrica nos Estados Unidos decidiu criar dois modelos em látex para seres reutilizados. Além da economia de dinheiro, esse protótipo recebeu críticas positivas dos médicos, que o consideraram seguro e mais eficaz em prevenir o surgimento de infecções genitais, que aparecem com o uso de absorventes interno e externo. O médico Dráuzio Varella publicou em seu site uma matéria explicativa sobre  os coletores.

Para a publicitária Giselly Ribeiro, 28 anos, o uso de absorvente externo causava desconforto para andar e dormir, e, recentemente, começou a causar alergia. Na procura de opções, tentou utilizar o tipo interno, mas achou anti-higiênico. "O externo me dava calor e não me permitia dormir na posição que gosto, e me sujava. O interno me causou desconforto. O copinho, quando coloco na posição certa, é só curtição, nem lembro que está lá", conta a moça.

A professora Juliana Mutafi, 28 anos, é simpatizante do veganismo e tinha conhecimento de marcas de absorventes que realizavam testes em animais ou utilizavam produtos de origem animal. Ela diz que, no começo, sentia nojo e insegurança sobre o coletor, mas, “com o tempo vem um autoconhecimento incrível e uma melhor relação com o corpo. Somos cheias de mito, e o do nosso sangue é um deles”. Juliana comenta que o uso do copo não deixa odor ruim, não há aquele excesso de sangue espalhado no absorvente e não há proliferação dos fungos que ficam no absorvente. “Tudo varia para cada mulher, mas a relação com o corpo é maravilhosa!”, declara.

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Saúde vs Preço

O professor da área de ginecologia e obstetrícia da Universidade de Brasília (UnB), Antônio Carlos Rodrigues da Cunha, atenta para o fato de que, apesar de o coletor não ser fator de risco para infecções, deve-se ter cuidado com problemas já existentes. “Deve-se fazer avaliação periódica com o ginecologista para avaliar infecções pré-existentes ou relacionados a outros fatores”, adverte.

O ginecologista afirma não haver contraindicações, mas observa o uso do copo por garotas virgens ou com o hímen intacto. “Não é recomendado nas mulheres com hímen íntegro, porque pode ocorrer a ruptura himenal na manipulação de introduzir e retirar”, aconselha. Em uma rede social, uma menina deu depoimento sobre ser virgem e usar o coletor. “Uso desde agosto de 2015. No começo, pra colocar, eu senti um pouco de dor sim, mas o mais difícil é superar o nervosismo”, relata a usuária.

O preço do coletor, muito encontrado principalmente em sites das próprias marcas na internet, é um motivo que preocupa muitas mulheres. As dúvidas envolvem adaptação, modelo e tamanho certos, além do medo de comprar o produto e não ser o perfeito para elas. Procurar por vídeos na internet e formar grupos nas redes sociais são alternativas que essas moças encontram para tentar entender melhor o que é o copo e seu estilo de vida.

Os modelos, tamanhos e cores dos coletores variam de fabricante para fabricante. Entre as marcas mais conhecidas estão a Fleurity, cujo copinho custa cerca de R$ 90; a Inciclo, R$ 80; a Meluna, R$ 75; e a HolyCup, R$ 82.

Para o ginecologista, qualquer mulher consegue se adaptar ao copo. “O importante é a motivação para o uso e, principalmente, que não tenha constrangimento em manipular sua genitália e que tenha conhecimento mínimo da anatomia do aparelho genital feminino”, afirma.

O canal Papo de copinho posta vídeos no Youtube sobre dúvidas e dicas para quem usa ou pensa em comprar um coletor. Entre os vídeos mais vistos estão Coletores menstruais brasileiros e Virgem pode usar coletor?.

Nesse vídeo, é explicado como medir o colo do útero para ver qual o melhor tamanho e modelo de copinho:


Kits empoderadores

A menstruação pode atrapalhar a rotina das mulheres e, na África, chega a prendê-las em casa. Por causa da condição financeira de muitas famílias no país, mães e filhas não podem comprar um pacote de absorvente que custa cerca de 50 shilling quenianos (KsH) (aproximadamente R$ 3,90), valor que chega a consumir metade do salário diário dos trabalhadores de base.

Os protetores higiênicos são considerados itens de “luxo” entre a população. Segundo uma pesquisa do Days for Girls, organização não governamental (ONG) que procura ajudar meninas ao redor do mundo a ter acesso à higiene sustentável, as estudantes perdem o equivalente a oito meses de aula a cada três anos, por causa da menstruação. Na tentativa de evitar essa perda, muitas garotas utilizam trapos, jornais e até mesmo lama e casca de árvore no lugar de absorventes. Além de serem desconfortáveis e ineficazes, esses itens ocasionam infecções genitais e doenças.

Para tentar melhorar esse problema, muitas organizações sociais estavam doando absorventes reutilizáveis, como os feitos de pano, para as mulheres que mais precisam deles. Mas, recentemente, essas ONGs passaram a doar os coletores menstruais, pela fácil higienização e o fato de ser econômico e sustentável.

A organização Femme International surgiu em 2013, no Canadá, e trabalha com educação e workshops para quebrar o tabu que envolve a menstruação para ajudar as meninas a se sentirem emponderadas. Por meio de palestras, essa ONG educa as mulheres sobre reprodução feminina, ciclo menstrual e como usar o kit Femme, um conjunto de coletor menstrual ou absorvente reutilizável (à preferência da menina), um espelho, um sabonete, uma toalha e uma tigela que é distribuído em um programa voltado para garotas do ensino fundamental em escolas do Quênia e da Tanzânia, países da África.

Como o coletor menstrual ainda não é muito popular nos países menos desenvolvidos, há empresas fabricantes que querem aumentar o alcance do produto e ajudar mulheres. Fundada em 2011 e vencedora de diversos prêmios, a Ruby Cup doa um coletor para uma ONG parceira, como a Femme International, a cada copo vendido na loja. No site, a companhia informa que o trabalho “desencadeia a mudança ainda maior, que vai além de fornecer coletores para meninas carentes. Sem a nossa influência, estruturas comunitárias diferentes têm desenvolvido de forma automática e mulheres no Quênia criaram seus próprios clubes de Ruby Cup. Estes clubes significam um espaço aberto para elas falarem sobre a menstruação e saúde reprodutiva e, desta maneira, capacitam uma a outra”.

Conheça mais sobre a ONG Days for Girls.

Se deseja ajudar a Femme International a distribuir mais kits, acesse aqui.
Por Gabrielli Nicolau