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Expectativas de uma vida pós-internação

Privados da liberdade, jovens em conflito com a lei da Unidade de Internação de Santa Maria (UISS) desejam uma carreira e um futuro melhor.


       O sistema de medidas socioeducativas no Distrito Federal mudou há alguns anos devido ao grande número de problemas enfrentados com o antigo Caje, que ficava situado na Asa Norte. O avanço resultou em um novo modelo de ressocialização, em que os internos vivenciam e experimentam o incentivo à educação com atividades extras, como oficinas de leitura, biblioteca, cursos profissionalizantes, além de frequentarem a escola dentro da unidade, o que dá a esses jovens esperança e perspectiva de futuro.

      Atualmente, são sete unidades de internação: Unidade de Internação do Recanto das Emas (Unire), Unidade de Internação de Planaltina (UIP), Unidade de Internação de São Sebastião (UISS), Unidade de Internação Provisória de São Sebastião (UIPSS), Unidade de Internação de Santa Maria (UISM), Unidade de Internação de Saída Sistemática (UNISS) e Unidade de Atendimento Inicial (UAI).

      As medidas socioeducativas são aplicadas a jovens infratores, adolescentes de 12 a 18 anos, podendo se estender até os 21 anos, e estão previstas no art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

     Apesar da situação e das condições em que se encontram, alguns internos não desistem da vontade de mudar de vida e proporcionar um futuro melhor para as famílias.

Jovens buscam melhores condições de vida pós-internação.
      Mateus*, 17 anos, já é casado e pai de três filhos, um de dois anos, um de um ano e sete meses e outro de apenas nove meses. Pretende cursar direito quando sair da internação "gosto muito da área de direito e pretendo estudar para ser advogado". Lá ele participa do curso profissionalizante de panificação e dos grupos de leitura. Para ele, os filhos são a principal razão para querer mudar de vida, "sinto bastante falta deles, o mais novo só conheço por foto", se emociona.


Internos participam de grupo de leitura na biblioteca.

      Mesmo sem previsão para sair da unidade, Marcela*, 17 anos, reclusa há um ano e seis meses, por latrocínio, diz que já tem uma proposta de estágio para quando sair "recebi uma oportunidade de emprego, assim que eu sair daqui, vou estagiar em uma rádio". A jovem, que pretende estudar jornalismo e audiovisual, já participou de concurso de redação dentro da unidade, ficou em primeiro lugar, com o tema Sinal de TV Digital. Marcela, que também participa dos grupos de leitura, conta que o desejo de seguir a carreira se deu quando ela morava no Pará, com um primo, que também trabalha com comunicação. "Isso já é um amor antigo", revela. Lá, ela conheceu uma jornalista, que foi quem a inspirou a querer a profissão.
     Seu Francisco trabalha com jovens internos há mais de 15 anos, desde o extinto Caje. Hoje, dá curso de panificação na unidade de Santa Maria. Ele conta que essa profissão é muito delicada, pela situação em que os jovens chegam à internação: "a gente acaba sendo uma referência para eles, damos conselhos, conversamos sobre a vida, essas coisas".

      Lucas*, 17 anos, faz o curso de panificação com o Seu Francisco e pretende seguir com isso. "Quero continuar com o curso e, quem sabe, me tornar padeiro, ou montar alguma coisa para mim", conta.
Curso de panificação na Unidade de Internação de Santa Maria.

      Os professores das medidas socioeducativas são uns dos principais incentivos para esses jovens quererem mudar o rumo e seguir com a vida longe da criminalidade. Eles afirmam que o que eles precisam, na verdade, é apoio e incentivo, já que a maioria é carente e vem de uma família desestruturada.


Por Anne Arnout