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Relacionamento virtual: a busca de alguém real no mundo on-line

Internet (re)cria laços e virtua amizades

Foto: Pixabay

"André Rebouças, 21 anos, estudante de contabilidade na UnBCatólico praticante, gosto de estudar filosofia, sociologia e comportamento humano." "Mirelle Bernardino, 19 anos, geminiana, estudante de jornalismo. Amante da poesia e psicodelia, apaixonada por artes e debates." 

Uma cantada foi lançada no ar. Uma troca de sorrisos. Eles combinam de se encontrarem mais tarde, em um bar ou restaurante. Quem sabe uma balada ou até mesmo um cinema? E aquele show bacana que está rolando? 

Eles se encontram. Saem mais algumas vezes, trocam mensagens, uma chamada aqui e outra ali. O pedido de namoro surge. Já faz quase dois anos que estão juntos. 

André e Mirelle são usuários do Tinder, e foi através desse aplicativo de paquera que se conheceram. Ele afirma que não estava atrás de um relacionamento, mas sim de novas pessoas. "Eu queria conhecer gente nova, então, achei um jeito fácil e rápido de ter contato com pessoas que talvez eu nunca teria conhecido por meios 'normais'. Foi isso que me atraiu", revela. Ela conta que não tinha planejado de se encontrarem pessoalmente, mas acabaram indo juntos a um show. "Eu sempre gostei de conhecer pessoas na internet, e o Tinder era um aplicativo muito falado", admite. 

Cada vez mais as pessoas formam amizades e relacionamentos através da internet. Segundo um estudo realizado pela Taylor Nelson Sofres (TNS), uma agência de pesquisa internacional, o Brasil é o lugar com mais contatos virtuais, com uma média de 231 contatos na rede. Outros países latino-americanos têm 176, enquanto a média mundial é de 120 amigos virtuais. 

Ana Lúcia Branco, professora de Língua Portuguesa e doutora em Letras pela Universidade de São Paulo (USP), possui mais de mil amigos na rede social Facebook. Apesar desse alto número, foi no Tinder que ela conheceu o mais novo paquera. 

Por temer conhecer gente ruim no aplicativo, Ana Lúcia diz que conversou com ele durante dois meses antes de se conhecerem pessoalmente.  “No começo, por achar que a maioria das pessoas só queria uma diversão passageira, eu nunca passei mais de uma semana falando com alguém. Então, percebi que ele era o oposto por causa do nível de conversa, assuntos totalmente diferentes dos usuais”, comenta. 

A relação à distância pode ser benéfica às pessoas e até mesmo suprir a necessidade de contato humano, ainda que não substitua a experiência de contato presencial e "real". De acordo com pesquisadores da Universidade Flinders, na Austrália, apesar do contato físico ser o mais eficaz, a rede social afetiva – entendida por eles como telefone, carta ou e-mail - tem mais influência na sobrevida dos voluntários da pesquisa do que a convivência com familiares. 

Lívia Godinho Nery Gomes Azevedo é doutora em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professora do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS). Em 2010, ela realizou um estudo sobre amizades virtuais, denominado Implicações políticas das relações de amizades mediadas pela internet. Para ela, “as relações de amizade que nascem e se alimentam pelas conversas na internet iluminam a ordem discursiva da condição humana, ou seja, a beleza do fato de que somos tocados pelo enunciado do outro, de que a fruição da existência como ser humano se dá no processo mesmo de deciframento dos sentidos das enunciações proferidas no encontro inter-humano”.

Para sua pesquisa, Lívia mandou uma mensagem explicando a proposta do estudo para seus contatos, que foram divulgando e se disponibilizando para participar. “Os resultados da pesquisa demonstram que os laços de amizades mediados pela internet configuram relações de intensas trocas afetivas nas quais os sujeitos são sensivelmente afetados por aquilo que o outro pensa e expressa através da palavra escrita”, afirma.

Real x Virtual

Para Marcello Cavalcanti Barra, mestre em Sociologia pela Universidade de Brasília (UnB), a internet possui fases e a mais recente é a das redes sociais. É nesse estágio que as pessoas mais se aproximam, mais conversam e há um aumento de relação por causa da era cibernética. As conversas virtuais, segundo o sociólogo, são um complemento ou um ponto de partida para manter e fazer amigos. 

Entretanto, Marcello chama a atenção para a divergência existente nas conversas virtuais. Ele argumenta que o bate-papo cibernético não deveria substituir o presencial, mas tem substituído. “A gente está vivendo um período de crise mundial em que as pessoas têm tido cada vez menos tempo por causa do trabalho, e, por isso, têm menos horas para se relacionar com novos amigos e manter os velhos. Nesse caso, a internet tem ajudado a aproximar. Ela não causa o afastamento das pessoas, ela é o reflexo do resultado dessa sociedade em crise”, garante. 

A internet é o lugar mais propício e eficiente para aumentar a rede de amigos. "As chamadas atrativas 'faça amigos agora mesmo', 'namore ainda hoje', que pairam nos cenários oscilantes dos sites da internet incutem a ideia de que não se pode perder tempo", menciona. Ela também afirma que relacionar-se nos dias de hoje é uma tarefa muito simples, pois os amigos encontram-se ao alcance de um mouse e alguns cliques. 

"Se você está sozinho no sofá de casa, além de solitário, você é antes, um incompetente" 
Lívia Godinho
A psicóloga alega que a designação de amizades no ciberespaço articula-se pelo fato das pessoas serem afetadas pelo que o outro diz nas conversas online. Lívia infere que os amigos virtuais ajudam na reflexão e na relativização do ser e em suas tomadas de decisão. 

Perigos 

Na internet, é possível preservar a identidade do usuário. Entretanto, esse ponto pode ser positivo ou negativo: pessoas mal-intencionadas podem criar perfis falsos – os fakes - com diversas motivações, como roubar informações pessoais ou até tentativa de sequestro, através de encontros marcados. 

Segundo Marcello, os perigos não existem somente no mundo cibernético e focar só neles distorceria a um realidade. Em comparação com os benefícios das relações e amizades, os riscos são pequenos. O medo do desconhecido é comum nos dois âmbitos e "ninguém está livre de um psicopata no mundo virtual ou real". 

Confira algumas dicas para não cair em furada ao marcar encontros virtuais:


Mas afinal, o que é Tinder?




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Em 2014, o College  Humor lançou, em seu canal do YouTube, uma sátira da história de Cinderella. Nessa nova versão, "Tinderella" não espera sua fada madrinha aparecer para dar um empurrãozinho em sua vida amorosa: ela escolheu usar o Tinder.




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Por Gabrielli Nicolau