Dificuldades em adotar confrontam pais e instituições, que buscam soluções para acabar com as filas de espera
(Marcos Paixão) |
Por: Caroline Rosito
Acolher como filho uma criança carente de carinho e atenção é o sonho de 398 famílias do Distrito Federal. Porém, as filas de espera é o principal obstáculo entre esses pais e as 166 crianças aptas à adoção. Os números mostram que não haveria motivos para tanta espera. Mas, a realidade do processo de adoção no Brasil revela que meninas e meninos continuam sem ter para onde ir.
Para muitas pessoas o motivo das longas filas é devido à burocracia judicial. Valéria Cristina está cadastrada no programa de adoção da 1ª Vara da Infância e Juventude do Distrito Federal (VIJ/DF) desde março de 2007 e espera, até hoje, por uma oportunidade de ser mãe adotiva. “A lei é um fator desmotivador. Ela deveria incentivar a adoção, mas não é isso que acontece”, define.
Supervisor de adoção da VIJ, o psicólogo Walter Gomes de Sousa, reconhece que após a regulamentação da nova Lei Nacional da Adoção, de 2009, ficou mais difícil conseguir adotar uma criança. Isso porque o Estado tem que garantir que o vínculo dela com a família biológica não existe mais. “O cadastramento de uma criança para adoção é uma excepcionalidade”, explica.
Outros fatores atrapalham o processo. Os critérios seletivos dos postulantes não encaixam com os perfis das crianças e adolescentes que estão nos abrigos. “No DF 93% das famílias cadastradas querem crianças de zero a dois anos. Hoje nós não temos nenhuma criança nessa faixa etária”. Essa também é a exigência de Valéria. “Decidi que queria ser mãe de um bebê. É uma escolha que não tem sexo e não tem cor. Só tem a idade”, defende. Os adotantes também exigem crianças brancas ou pardas e do sexo feminino.
Há ainda quesitos, como grupos de irmãos. “A nova lei preconiza que os irmãos sejam acolhidos pela mesma família”, informa o supervisor. Quanto a isso, Valéria acredita que a norma é benéfica. “A lei entende que irmãos não devem ser separados. No meu perfil tem até a opção de irmãos gêmeos. Eu jamais separaria”, completa.
Outra vantagem da nova Lei da Adoção, reconhecida por entidades e instituições de abrigo, é a obrigatoriedade da preparação psicossocial e jurídica das famílias inscritas nos serviços da VIJ. Para a presidente do Instituto Berço da Cidadania – organização de capacitação e intervenção psicossocial pelos direitos da criança e adolescente -, Carla Kobori, essa determinação legal é um avanço. “A família interessada tem que entender que a maior beneficiada não é ela, mas sim a criança”.
Hoje não existe um tempo mínimo ou máximo para conseguir adotar uma criança. Durante os quatro anos que está na fila, Valéria não se vê desanimada e diz que agora só resta esperar. “Tenho consciência das responsabilidades e desafios que ainda terei que enfrentar. Mas, já há dentro de mim um instinto materno de uma mãe como outra qualquer. Adotar não é ato de caridade. Adotar é ser mãe de uma forma diferente.”, diz emocionada.