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Estabilidade ou sonho?

Quando a comodidade é mais importante e os desejos ficam em segundo plano

 Por Paola Rodrigues


Saber escolher a carreira é o primeiro passo para ser um profissional bem sucedido. Não apenas pelo dinheiro, mas por gostar do que faz. O problema é que nem todos os profissionais são felizes com as carreiras escolhidas ou impostas pela família, mas continuam por comodidade e pelo salário no final do mês.
Vera Guimarães, professora de Ed. Física,
sonha em ser servidora pública
Desde pequenos, escuta-se a mesma pergunta: “O que você vai ser quando crescer”?  Se as crianças soubessem o peso real que essa pergunta tem, talvez pensassem mais antes de responder. Vera Guimarães, 27 anos, professora de Educação Física é um exemplo disso. Quando criança ouvia sua mãe dizer que queria que ela fizesse faculdade de Educação Física.
“Minha mãe foi uma forte influência para que eu decidisse me formar nessa área. Eu dizia que queria fazer outro curso, talvez Direito, mas para prestar concurso público. Ela retrucava, falando que vida de servidor público era ruim e que ela queria que eu trabalhasse cuidando do corpo”, afirma Vera.
A professora conta que continua trabalhando na área por comodidade e que o sonho continua o mesmo: quer ser servidora pública. “Atualmente utilizo parte do meu salário como professora de Educação Física para investir nos meus estudos voltados para concurso público”, explica.
Vera acredita que a família interfere nas decisões, mas garante que isso não acontecerá com a filha. “Eu sempre falo para a minha filha pensar bem antes de escolher o que fazer. Conto o meu exemplo e falo que não quero que ela passe pelo mesmo. Quero que minha filha seja muito feliz na profissão que escolher por conta própria”, conta.
 Vera acredita que a felicidade não está somente no salário no final do mês, mas sim no prazer de trabalhar. “Tudo o que fazemos com prazer sai mais bem feito”, desabafa.
A família e os amigos são grandes influenciadores, mas existem casos em que a pessoa escolhe a profissão, se forma e quando vai trabalhar na área não é do jeito que imaginava. Foi o que aconteceu com Conrado Brites, 25 anos, formado em Odontologia. “Escolhi minha profissão praticamente sozinho. Inicialmente eu queria realizar vestibular para medicina, mas rapidamente percebi que a vida de um médico não se enquadrava no meu perfil”, conta.
 Diante disto, pensou em uma segunda opção que o atraísse na área de saúde e logo veio a odontologia, que acreditou ser uma profissão capaz de conciliar um caráter autônomo no exercício da profissão, junto com um retorno financeiro planejado. O dentista conta que se decepcionou com o que encontrou pela frente quando começou a trabalhar em sua área.
“Atualmente posso dizer que não sou feliz no exercício técnico da minha profissão, pois no meu dia a dia, 95% do que eu executo como procedimentos específicos da profissão, não consistem na minha especialidade, que é a implantodontia”, explica. Conrado afirma que se daqui a cinco anos ou mais não tiver uma alavancada profissional e financeira, pretende fazer medicina mesmo.
Conrado Brites, dentista que deseja ser médico
O dentista acredita que por possuir negócio próprio (uma clínica odontológica), a comodidade e estabilidade influem muito no exercício da profissão escolhida. “A comodidade de ser o patrão é enorme. A estabilidade salarial também me segura, pois meu salário não costuma oscilar”, conta.
 A esperança do Conrado na verdade seria a de um dia tornar-se empresário do ramo odontológico, exercer somente a sua especialidade e contratar dentistas para executarem as outras especialidades.

As implicações psicológicas de escolher erroneamente uma profissão

A psicóloga Suyane Vasconcelos afirma que o trabalho, para dar bons frutos, tem que ser acima de tudo prazeroso. “Acredito que como quase todos os aspectos na nossa vida, ser profissional exige paixão. Paixão suficiente, para acordar com horário marcado, seguir para o trabalho, lidar com pessoas, geralmente, opostas a nossa personalidade e modo de vida e ainda assim ser feliz, manter o bom humor e, de fato, ser profissional”, conta.
Segundo a psicóloga, quando nada disso acontece, as pessoas deixam de ser profissionais da área que escolheram e passam a ser robôs em linha de produção, afetando os relacionamentos interpessoais, o trabalho em equipe, e assim desencadeando uma série de problemas dentro da organização e trazendo, de alguma forma, algum tipo de prejuízo para a mesma.  
O problema vai além de um mau desempenho no trabalho e pode acarretar problemas de saúde. “Fazer o que não gosta é frustrante, é como ser obrigado a carregar um caminhão nas costas todos os dias durante anos e não ter como se livrar daquele peso”, explica.
 Suyane Vasconcelos conta que muitas vezes, pessoas com altos níveis de estresses, têm maior probabilidade de vir a ser um paciente depressivo, com problemas familiares, dependendo da forma como ele lidar com essa infelicidade profissional.
É preciso que o estudante crie uma relação de afeto com a profissão almejada, pois é um dom restrito a poucos aprender a gostar do que se faz. “Vamos fazer hoje o que devemos fazer, para fazermos amanhã o que queremos fazer”, afirma o dentista Conrado Brites. A ordem direta – gostar e escolher- é a mais indicada para não se arrepender no futuro, além de pesquisar o que realmente a profissão escolhida pode oferecer.